Brasil, o eterno país do futuro. Sempre (Será?)

Larissa Lara
Paradoxos
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3 min readSep 22, 2017

Não foi à toa que Millôr Fernandes escreveu a Bíblia do Caos no Brasil

Por Larissa Lara

Imagem: Pixabay

Experimente, caro amigo, acordar um dia em meio a uma conspiração política, com a pretensão de ruir o atual governo, com separatistas querendo fragmentar o território do país. Em seguida, com a objetificação da mulher e, por fim, com o fato de que ser homossexual é ser doente. Experimente isso tudo e saberá como era viver na Idade Média. Ou no Brasil hoje.

Eu experimentei essa sensação numa plataforma midiática tão moderna que chega a ser anacrônica a relação das duas histórias. Li no Facebook a notícia de que a homossexualidade seria tratada como uma doença. O que fazer, além de pesquisar sobre o assunto?

A Organização Mundial da Saúde incluiu a homossexualidade na classificação internacional de doenças mentais em 1977, retirando-a somente em 1990. Portanto, até as décadas de 1950 e 1960 terapeutas aplicavam métodos à la Laranja Mecânica. Essas pessoas eram expostas a imagens de homens nus enquanto levavam choques elétricos e consumiam substâncias para vomitar. No final, mostravam fotos de mulheres nuas ou os enviavam a encontros com enfermeiras.

Somente de 2007 em diante países como Reino Unido, Canadá e Israel se posicionaram contra tratamentos psicológicos. Chile e Suíça só se manifestaram contra em 2016, junto a Malta, que se tornou o primeiro país europeu a banir esse tipo de terapia, criando uma lei que define que quem for pego tentando mudar ou reprimir a orientação sexual de alguém será multado ou preso.

Curiosamente, o Brasil, por meio do Conselho Federal de Psicologia, deixou de considerar a opção sexual como doença em 1999. Até então, era um avanço, que foi ameaçado neste setembro. Após 18 anos da proibição do tratamento, um juiz da 14ª Vara do Distrito Federal indicou que a opção sexual pode ser “curada” por psicólogos.

Imagem: Pixabay

Também é curioso que três psicólogos assinem o documento contra a resolução de 1999. O juiz que assina a liminar, Waldemar Cláudio de Carvalho, não deixa de ser inusitado: ficou conhecido nas redes sociais, em 2016, ao fazer um poema para liberar uma mulher de pagar multa por manter uma arara-canindé em casa.

São assassinados mais homossexuais no Brasil do que nos 13 países do Oriente e África onde há pena de morte contra eles. De acordo com o Grupo Gay Bahia (GGB), aqui um homossexual morre a cada três dias. Além disso, sete em cada dez já sofreram algum tipo de violência. Estamos no topo do ranking mundial de assassinato de transexuais.

Na Grécia e na Roma da Antiguidade era comum um homem mais velho ter relações sexuais com um mais jovem. Isso porque acreditavam que seria por meio desses laços que se aprenderia as virtudes e a filosofia.

Mas muita coisa mudou ao longo da história, e é nos pequenos detalhes que percebemos. Nenhuma amiga minha heterossexual me chamou, com a voz séria, temerosa, dizendo que precisava me contar algo, porque isso aconteceu com uma amiga homossexual. Não sei porque ela pensou que eu poderia amá-la menos ou trata-la diferente. Chego a me emocionar com a luta extenuante que todas essas pessoas travam diariamente. Hoje, o que queremos são apenas os direitos reconhecidos. O direito de ser humano.

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