Dois olhares para a exposição

Lais Araujo
Paradoxos
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3 min readSep 22, 2017

Exposição polêmica em Porto Alegre é cancelada por reivindicação de grupos conservadores

Por Giovanna Ribeiro, Karina Micheletti e Laís Araújo

A exposição patrocinada pelo banco Santander, “Queermuseu — cartografias da diferença na arte da brasileira”, reunia obras de 85 artistas, incluindo nomes conhecidos como Alfredo Volpi e Cândido Portinari, no museu de Porto Alegre. A exposição apresentava questões LGBT, sexuais, religiosas e diversas, o que causou intriga entre conservadores e liberais.

Em 17 de setembro a exposição foi cancelada, um mês antes do previsto para seu término. Movimentos conservadores apontaram apologia à pedofilia e à zoofilia e pediram para que correntistas cancelassem suas contas no banco Santander em forma de boicote.

A arte contemporânea, apresentada em quantidade considerável na exposição, começou a se desenvolver na década de 50 no Brasil. Em seu modo de expressão, se apresentam características proeminentes da sociedade atual, muito pautada na tecnologia, novas mídias e adentrando no que permeia as redes sociais também. A arte contemporânea é subjetiva e se vale de grande liberdade artística, mesclando estilos previamente já conhecidos, como a arte clássica.

Pensando nisso, este tipo de arte tende a ser bastante conceitual, trazendo alguma reflexão referente a algum assunto mais polêmico e que continua sendo tabu, como a homossexualidade, zoofilia, pedofilia e questões que envolvem nudez. No entanto, não falar de assuntos como esses e não entender que eles existam é um problema. Isso mantém o debate cada vez mais distante.

Uma coisa é aceitar a zoofilia, por exemplo, algo que é impossível. Outra coisa é entender que é algo que existe e buscar refletir sobre, compreender o que leva um ser humano a ter pensamentos tão sórdidos e até doentios. Mas o tema da sexualidade deve se transpor a questões religiosas, sendo uma via única de respeito.

Foto: Marcelo Liotti Junior (Divulgação)

Em contrapartida, destaca-se também o pensamento conservador sobre esse evento. Ora, uma vez que apresentado ao público cenas que, de certa forma, atingem um determinado grupo, há sim uma interferência de gostos e preferências. É claro que há a justificativa de que ir até o local do evento e assisti-lo é uma forma voluntária e optativa, porém não impede que determinados grupos manifestem sua indignação acerca do que viram. É justamente nisso que se permeia a liberdade de expressão.

Algo ainda não recorrente é a manifestação de opiniões sem a necessidade de atacar entidades ou suas crenças. O fato é que há liberdade na arte e em expressar-se e transmitir as informações, contudo, o desrespeito e a intolerância para atingir essas instituições (igreja e afins religiosos) não se deve manter.

É claro que existe embate entre pensamentos cristãos e de grupos LGBTQs. Isso é um fato. Porém o que deve uni-los deve ser sempre o respeito. Falar sobre o que pensa e da maneira que pensa não deve ser calado pela sociedade, mas permanecer ileso, independente da situação, não é algo a ser punido.

Desligar a exposição, já que se trata de assuntos indelicados, talvez não seja a melhor maneira de cessar preconceitos e crenças. Não se pode abster alguém de mostrar algo que acredita e expor para grupos que também acreditam naquilo. O que se deve fazer é sempre orientar do que se trata a exposição, indicando a faixa etária (algo que não foi informado) e relatar que há cenas de nudez, além de zoofilia, o que envolve muito mais do que um simples desgostar, mas um perturbar além do normal.

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