Facção das gravatas

Carlos Gomes
Paradoxos
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3 min readNov 12, 2017

Por Carlos Gomes Jr.

Montagem: Carlos Gomes Jr.

Entre prédios, ruas e vielas a segurança de São Paulo é contestada. Na quinta-feira, dia 9 de novembro de 2017, a declaração da delegada e integrante da cúpula da Segurança Pública, Elisabete Sato, para a Folha de S. Paulo, fez o assunto ganhar maior destaque.

O ponto utilizado pela delegada para evidenciar o problema foi a comunidade de Paraisópolis, a segunda maior da cidade, localizada na zona Sul, que estaria botando o terror até na Rota (a tropa de elite da capital). O que traz à memória o confronto presente no Rio de Janeiro, pelo filme “Tropa de Elite”.

A ‘cidade do paraíso’, com quase 1km² de extensão, é citada por ser o berço do Primeiro Comando da Capital (PCC), chamando a atenção do perigo estar nas chamadas facções. No texto da Folha, é posto um contraponto por meio do líder comunitário Gilson Rodrigues, que diz haver uma boa receptividade ao governador, e questiona o porquê de uma visita policial ser impedida.

Comentário de um leitor, na matéria da Folha, sobre a situação da comunidade de Paraisópolis.

A palavra facção soa como algo não tão positivo e, por algo cômico, uma das definições dadas a esse substantivo, pelo site Dicio*, vem a calhar com o que há de ser recordado:

“Facção: grupo de pessoas que fazem parte de um partido político”

Passado mais de um ano de investigação do Ministério Público junto à Polícia Federal quanto as fraudes de recursos destinados à merenda escolar, desviando R$38,9 milhões no governo Alckmin, não houve punição para os envolvidos.

Outro caso é com relação ao senador do Estado de São Paulo, José Serra, e o ministro da Ciência, Gilberto Kassab, que entre as construções da Linha 2 do Metrô, do Rodoanel e da Arena Corinthians, segundo a Folha, receberam o pagamento ilícito de R$ 32 milhões da Odebrecht.

Na política do Brasil, o morro é mais embaixo. Uma das justificativas para que não se invada os becos para prendê-los e, assim, apaziguar o desastre causado no bem público, está no chamado foro privilegiado, a eles disponível.

Em tempos de ditadura, teriam toda uma tropa a seu favor, acobertando-os e descendo a paulada em quem os questionassem. Hoje já não funciona assim. Há um batalhão querendo pegá-los, no entanto, pela ironia que mais nos faz querer chorar, a Justiça do nosso país os acaba protegendo.

Enquanto comunidades vão sendo marginalizadas, eles passam de forma a não levantar suspeitas (ao menos a seus próprios olhos), podendo subir o morro do Palácio dos Bandeirantes até, quem sabe, dominar o da Alvorada, aumentando ainda mais as suas mordomias.

De fato, o agrupamento político parece não temer um capitão Nascimento.

* As diferenças de pensamento, como descrito no site, presentes na palavra facção, na verdade, ganham unicidade pelo tom cordial em responder (ou desviar disso) sobre a inocência dos integrantes de um grupo político.

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Carlos Gomes
Paradoxos

Um pernambucano-paulistano, estudante de Jornalismo e observador do mundo contemporâneo.