Faz barulho pra esse round

Entre uma rima e outra conhecemos histórias e sonhos

Felicio Henrik Melo de Sousa
Paradoxos
2 min readJun 9, 2021

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Por Felicio Henrik

Jornal do Rap

Chego na comunidade de Paraisópolis, localizada no coração do Morumbi um dos bairros mais luxuosos de São Paulo. Oito de março, Dia Internacional da Mulher, mal saberíamos que seria nosso último encontro antes do mundo entrar em colapso causado pela pandemia do coronavírus. Com a camisa personalizada com o nome da batalha, meu “pisante” maneiro e uma correntinha que não pode faltar no look, encontro meus amigos em frente a uma grande rede de móveis. Está começando mais uma batalha de rimas; eu não rimo e nem canto, mas estou diante de cultura e sonhos de quem escolheu a arte como estilo de vida, dessa maneira se desvencilhando de um ambiente conflituoso em que vivem, assim como eu, que escrevo para expressar o que sinto. Os participantes vão chegando e o público também, pessoas que, mesmo que não cantem, dividem a mesma paixão, e logo fica claro que elas, da mesma forma, esperam o dia da batalha. São oito e meia da noite e pontualmente a batalha começa.

“Faz barulho pra esse roundeee”, diz o mediador, e a cada duelo geral escolhe o vencedor que avançará de fase. “É bala na Glock, mano, sem treta, você é bala na Glock e eu sou tinta na caneta”; os embates são mais do que um duelo musical, as rimas não trazem apenas provocações uns com os outros, elas carregam intrinsecamente conteúdo o mais variado possível, tons de humor, sarcasmo e, sim, gritos de protestos de quem escolheu a arte como estilo e sentido de vida na luta para quebrar estereótipos na sociedade como um todo.

“Essa é a batalha de MC, uma ataca e outro responde, e o que vocês querem ver?” Sangue, respondemos.

A batalha vai se aproximando do final, os jovens se abraçam com um afeto de quem estivesse abraçando um irmão, não de sangue, mas da mesma ideologia e paixão. Entre um cigarro e outro levantamos os copos com bebidas alcoólicas e fazemos uma espécie de brinde coletivo, mais uma batalha se encerra da melhor forma. Antes de nos despedirmos junto com os mais chegados, trocamos experiências, cantamos, mas agora acompanhados de um violão como se fosse um luau na praia. Foi um momento rico e uma experiência rica, e nessa batalha de sonhos todos ganham.

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