O machismo do Oriente Médio

Helena Arida
Paradoxos
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3 min readNov 28, 2017

Por Helena Arida

Ao longo dos séculos, a história da sociedade política do Oriente Médio se modificou. Entre guerras e mais guerras, alguns países ainda sobrevivem com sua cultura de origem e seus costumes. O Líbano é um país pequeno, porém, com uma história enorme. Os dez dias em que pude conhecer seus vilarejos de norte a sul me encheram os olhos com tanta cultura, arte e história. Porém, todo país desconhecido pode nos surpreender tanto com coisas boas, quanto ruins.

Aos que desacreditam do machismo no Brasil, deveriam conhecer algum país do outro lado do oceano para perceber o quanto devemos lutar contra ele diariamente. Ao mesmo tempo em que as ruas libanesas traziam cultura, arte, modernidade e história, também continham olhares maldosos dos homens árabes. O calor de 35 graus, com sensação de 40, não me permitiam andar de calças ou de camisas de manga; para mim era desnecessário passar calor em um país em que eu julgava ser mais evoluído.

Mesquita Azul, em Beirute (Foto: Helena Arida)

Apesar de não receber abordagens diretas, eu e mais meninas brasileiras passamos por situações constrangedoras. Certa vez, negociava o preço de uma mercadoria em uma loja de bairro, em meio a vilarejos e lojinhas de rua que encantavam os olhos, e por um deslize não prestei atenção no número que estava na calculadora do lojista e o corrigi do preço. Para qualquer ser humano que não seja muito bom em matemática, fazer a conversão de dólares para liras libanesas é um tanto quanto trabalhoso e, por ser uma turista, muitos lojistas já tinham tentado me passar um preço muito mais caro do que realmente era. Pois bem, ao discordar do preço deste senhor sua resposta foi um leve tapa na minha bochecha. Não doeu, mas foi uma atitude muito mais dolorosa que um xingamento. Por um momento fiquei assustada, mas preferi não discutir, pois ele não pareceu nem um pouco arrependido e já estava sem paciência. Paguei minha mercadoria e fui embora, ainda tentando processar o que havia acontecido.

Embora o Líbano seja julgado como um país moderno, muitas mulheres de burca debaixo dos 40 graus me deixaram surpresa por seguirem à risca tradições religiosas tão antepassadas. O modo como fui tratada pelo senhor da lojinha apenas refletiu que, por mais moderna que uma sociedade possa ser, não se pode colocar debaixo do tapete a opressão ainda sofrida por mulheres, em qualquer lugar do mundo.

Ruínas de Baalbek (Foto: Helena Arida)

O fato de nunca ter sofrido alguma agressão ou abuso dentro do meu país me deixou um pouco mais “tranquila” quando fui viajar, acreditando que nada me aconteceria. E foi muito pelo contrário. Aprendi que o medo nos acompanha em qualquer lugar do mundo, e que somos vulneráveis a todo tipo de abuso, seja por violência ou apenas por olhares maldosos.

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