O vazio de buscar um sonho

A solidão de profissionais e estudantes que buscam um futuro no exterior

Bruna L.
Paradoxos
3 min readOct 14, 2020

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Por Carolina Huertas e Bruna Liu

(Foto: Pixabay)

Sem dúvidas, a vida de um intercambista pode ser muito emocionante. As experiências e desafios da vida no exterior desenvolvem a pessoa, ensinam novas habilidades, aprimoram capacidades, assim como criam novos significados na vida e geralmente se traduzem em memórias valiosas, que valem a pena ser lembradas por muitos anos à frente.

Hoje em dia, a geração jovem se envolve com um estilo de vida globalmente móvel já durante seus anos de formação, planejando estudos universitários e experiências de trabalho no exterior. De acordo com um relatório da Unesco, em 2017 havia mais de 5,3 milhões de estudantes internacionais, e o número só cresce a cada ano. Os alunos têm mais mobilidade global do que nunca.

Mas a distância da família e a solidão em um novo país faz alguns dos jovens se questionarem pela decisão de ser intercambista. A insegurança e as consequências de passar datas comemorativas e momentos especiais longe de quem os ama abala psicologicamente os estudantes mais do que eles imaginavam antes de partir.

Raiva, frustração, culpa e egoísmo são alguns dos sentimentos que dominam nos momentos de crise. Como eu, em meio a uma situação tão privilegiada posso me sentir sozinho? Me sentir mal? Quando não caem sobre si mesmos, eles veem em relação aos mais próximos: a sensação de abandono, de separação e de que a vida continua sem você.

Porém, não são apenas aqueles que deixam o país que sofrem com esse vazio. Um dos sentimentos de solidão que surgem nos pais é a chamada “síndrome do ninho vazio”. Em casos mais graves ela pode levar à depressão, com sintomas como conflitos entre o casal de pais, desmotivação por não saber o que fazer com o tempo livre, distúrbios alimentares e do sono, diminuição da libido, doenças recorrentes como gripe e alergias, falta de cuidados pessoais, isolamento, sentimento de abandono e melancolia.

Em entrevista ao Catraca Livre, o psicanalista Geraldo Caldeira declarou que isso acontece porque “seres humanos necessitam de complementação e quem nos dá isso são os filhos, que naturalmente os preenchem”. E por causa do vazio, os pais acabam lidando com a mudança de forma negativa.

(Foto: Pixabay)

Com todos os altos e baixos, viver em um país desconhecido — completamente sozinho — nos muda de muitas maneiras, mais do que alguma vez imaginamos. Descobrimos amores, paixões e medos que nunca soubemos que tínhamos. Abandonamos velhas convicções e crenças que simplesmente não parecem mais certas.

Viver no estrangeiro te desloca e o obriga a encontrar e criar para si uma nova casa em outro lugar. Para alguns, é uma nova aventura emocionante, enquanto para outros pode ser o maior medo. Não importa o quanto você se acostumou com o seu novo país, sempre há um pedaço de casa que você vai perder porque não é fácil dizer adeus.

E assim, muitos tentam preencher o vazio que fica, na tentativa de ter aquela sensação de pertencimento — mesmo que a quilômetros de distância do seu lar.

Fontes

https://migrationdataportal.org/themes/international-students

https://catracalivre.com.br/educacao/ninho-vazio-como-reagir-a-viagem-intercambio/

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