Questão de perspectiva

Para alguns, o “novo normal”

Juliana Caveiro
Paradoxos
2 min readDec 19, 2020

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Por Juliana Caveiro

Até para uma antissocial, essa mesmice já cansou. Já me sinto como parte do estofado manchado do sofá da sala, e isso em apenas dois meses, porque antes estava na cadeira da escrivaninha do meu quarto, mas minhas costas não aguentaram mais. Passo tanto tempo sentada na frente do computador que a luz artificial já é quase o Sol para mim. O ficar em casa não é mais sinônimo de paz e tranquilidade que sempre me confortaram depois de uma semana cansativa de afazeres. Agora, estar em casa é home office, é faculdade, é família, é trabalho, é lazer, é TCC, é encontro com os amigos, é tudo ao mesmo tempo, sem nem ter tempo para tudo.

O celular, apesar de já ser uma extensão do meu corpo, parece receber um novo cargo, o de auxiliar de procrastinação. Sem um tempo delimitado ou uma tarefa a ser feita na rua, ficou ainda mais difícil deixá-lo no canto sem tocá-lo. A cada lapso de improdutividade — que com essa rotina, são muitos — minha mente procura pelo mínimo de diversão que possa me levar para algum lugar diferente que a sala de TV da minha casa. E aí vai… passo horas pulando de story em story, abro perfis de lojas onde nunca vou comprar, saio marcando amigos em sorteios impossíveis, abro o Pinterest porque tive uma ideia incrível para reformar o banheiro, procuro um novo corte de cabelo, vejo memes de política no Facebook e aí lembro de ler as propostas dos candidatos que ainda não escolhi para votar… tudo isso até chegar uma mensagem do meu chefe perguntando sobre um e-mail que ainda não li.

Quando me dou conta, o dia passou e minha mãe já ligou a televisão para ocupar as lacunas de diálogo que já não acontecem há tempos por aqui. Com quatro pessoas dentro de casa 24h por dia, os assuntos já ficaram repetidos. Não que ligando a TV essa questão seja resolvida, mas com ela ali, de enfeite, ao menos não fica um silêncio embaraçoso.

Outro dia, coloquei no canal DogTV para que minha cachorra se distraísse enquanto trabalhava, porque não poderia dar atenção para ela. Quando vi, ela estava latindo para a TV como se interagisse com os cachorros que apareciam na televisão. Pensei na hora como ela era doida, porque óbvio que era uma tela e não o real, os cachorros não estavam ali brincando com ela. Agora, escrevendo esta crônica, tenho a certeza de que ela pensa a mesma coisa quando converso em vídeo com meus amigos, família e namorado.

Foto do banco de imagens Pixabay

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