Sobre a corrupção brasileira e seus benefícios à população

Louise De Villio
Paradoxos
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4 min readNov 7, 2017

Se tivermos uma visão positiva, até mesmo na corrupção podemos encontrar exemplos

Por Louise De Villio

Manifestante na av. Paulista em ato contra a corrupção (Foto: Luciney Martins)

um tempo acreditava piamente que o brasileiro sempre dava um jeito para tudo, e isso não é de todo errado. Não é à toa que somos conhecidos pelo nosso jeitinho de sempre conseguir o que queremos e resolver algumas situações de maneira bem diferente.

Comecei a estudar a nossa história e com um tempo entender (repare que não digo aceitar) o porquê agíamos dessa maneira. Compreendi que o jeitinho brasileiro, além de sempre dar um jeito em qualquer situação, também procura sempre que possível tirar vantagem de uma ocasião.

Aprendemos na escola que os portugueses simplesmente chegaram e pegaram as árvores do pau-brasil, as levando e nos deixando quase sem nada; depois entendemos que para os índios o pau-brasil de nada servia, e era mais vantajoso trocar pelas quinquilharias brilhantes e barulhentas trazidas pelos visitantes.

Quinhentos anos depois e ainda vemos isso acontecer. Senadores trocam favores por votos, mala de dinheiros por licitações, apartamentos são dados como presente aos aliados.

Manifestante na av. Paulista em ato contra a corrupção (Foto: Luciney Martins)

Aprendi com Nick Carraway, personagem de Fitzgerald, a nunca julgar o próximo, pois não conhecemos seu passado. Também procuro sempre fazer o exercício de me colocar no lugar do outro, pensar em como agiria naquela situação em que ele se encontra e tento entender o porquê chegou à conclusão de que aquela seria a melhor saída para o que estava vivendo. Claro que não é um método cientifico, até porque só sei uma parcela da realidade daquele sujeito, e também os fatos que chegaram até mim chegaram por meio de outra pessoa e de forma fragmentada. Sempre realizo esse exercício quando vejo presos da Lava Jato, ou qualquer outro personagem desse escândalo político indo para a prisão, ou quando aqueles apartamentos cheios de dinheiro são encontrados.

Nas primeiras vezes sempre pensava: “Com esse dinheiro todo eu teria saído do pais e viveria em algum lugar calmo e aproveitando a vida”, ou então “Para que roubar tanto, pegava só um pouco e saía do esquema, com tudo isso de dinheiro dá pra viver bem”. Com o passar do tempo e mais e mais escândalos aparecendo, mensalão, lava jato, esquemas da Odebrecht, da Petrobras, da Friboi… são tantos que nem lembro os nomes, ou a ordem cronológica, mas sei que em suma todos desviaram dinheiro público para ser a quinquilharia da vez na forma de troca.

Manifestante na av. Paulista em ato contra a corrupção (Foto: Luciney Martins)

Meu pensamento mudou, pois são extremamente visíveis as consequências dessa troca. Na minha escola, onde cursei toda a minha vida acadêmica dos sete aos dezessete anos, os banheiros não tinham portas, os alunos não podiam comer mais de uma vez e os professores se juntavam para comprar alguns dos materiais que faltavam, como folha sulfite, por exemplo.

A situação de hoje está pior, professores não recebem, dinheiro que deveria ir para hospital acaba indo para o bolso de quem se trata no Sírio Libanês. Entretanto, essa explosão de escândalos políticos têm lá o seu lado bom.

Desde 2013, milhares de pessoas saem às ruas para reivindicar os seus direitos e têm cobrado cada vez mais os políticos contra a corrupção. Acredito que seja a única hora que não importa com qual partido você se identifica mais, se é esquerda mortadela ou direita coxinha, o fato é que todos sabem que, para o país alavancar, a corrupção precisa ser erradicada e o jeitinho brasileiro deixado de lado. A grande corrupção trouxe à tona a consciência para as pequenas práticas de corrupção exercida por nós no dia a dia. Aprendemos que não adianta reclamar do cara que enche a cueca de dinheiro se quando você recebe o troco errado não devolve para a atendente; que roubar sinal de tevê a cabo é tão errado quanto aquele que emprega toda a família em cargos públicos.

Aprendemos que a regra do quem rouba um real rouba um milhão vela a nós mesmos, estamos procurando nos policiar mais para poder cobrar em dobro e para podemos ter mais credibilidade ao cobrar. Quem sabe não seja essa onda de corrupção que nos faça mudar o jeitinho brasileiro, daquele que sempre arruma um jeito, para o jeitinho brasileiro de se fazer o correto. Os corruptos viraram exemplo de como não fazer e muito menos de como ser.

Manifestante na av. Paulista em ato contra a corrupção (Foto: Luciney Martins)

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