Sonhos de Pandemia

Pesquisas mostram como a ansiedade tem afetado o sono durante estes tempos do novo coronavírus

Camilla Jarouche
Paradoxos
3 min readApr 13, 2021

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Por Camilla Jarouche e Marco Wolf

Crédito: francescoch (IStock)

No filme de ficção científica A Origem (2010), de Christopher Nolan, vemos um mundo onde é possível entrar nos sonhos das pessoas para coletar segredos do inconsciente. Mas, além de uma história bem contada, os cenários impressionantes e os efeitos especiais, o longa mostra as infinitas possibilidades que nossa imaginação carrega e que vêm à tona quando dormimos. Nos momentos em que estamos nos sentindo mais ansiosos, isso pode acabar se refletindo nos sonhos. E, nessa pandemia do coronavírus, estamos passando por uma espécie de ansiedade coletiva, em que o futuro está incerto e um inimigo invisível está nos cercando, dando muita margem para os pensamentos voarem e o inconsciente fazer a festa quando não estamos acordados.

É comprovado pela psicologia que os sonhos podem refletir aspectos do subconsciente, permitindo inclusive analisar desejos e medos por meio deles. Outro fato é o que pesquisas apontam sobre a influência que o isolamento tem na psique humana, podendo, em longos períodos, relacionar-se à quadros de tristeza, solidão, ansiedade, depressão, entre outros. Uma crise de saúde mundial já é uma experiência ímpar nas atividades comuns com que se lida no cotidiano, mas suas consequências, como complicações financeiras, tanto pessoais, como para toda uma nação e até mesmo o mercado internacional, ampliam a preocupação dos indivíduos durante a pandemia. Fora o medo da contaminação e a tristeza da solidão, ainda há, no caso do Brasil, o prolongamento de medidas de isolamento. Ou seja, não se sabe ao certo quando a vida voltará ao normal, e essas dúvidas incertas sobre o futuro são motivos para sensações de ansiedade, que podem influenciar diversos aspectos da vida de um ser humano, dentre eles, os sonhos.

Diversos estudos estão sendo feitos sobre os sonhos neste período, entre eles “Sonhos em Tempos de Pandemia”, realizado pelas universidades Federal de Minas Gerais (UFMG), Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), de São Paulo (USP), Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que estão coletando relatos para tentar entender como essa crise mundial está afetando as pessoas pelo que elas contam. Em entrevista para a Revista Encontro BH, Gilson Iannini, professor de psicologia da UFMG, disse que durante os primeiros meses de pesquisa, entre abril e maio de 2020, as palavras mais recorrentes nos relatos eram “casa”, “mãe” e “amigo(a)”, mas que “morte” e “matar” estavam aumentando consideravelmente. Isso pode demonstrar, em um primeiro momento, uma preocupação com pessoas queridas e com nossa casa, mas que, com a prolongação da quarentena, por exemplo, há uma ansiedade maior com o que vai acontecer consigo.

A autora Theresa Cheung explica em seu livro “The dream dictionary from A to Z” que sonhar qualquer tipo de desastre é obviamente desconcertante, e seria muito provável ser a demonstração de medos reprimidos e ansiedade sobre eventos que estão além do seu controle e também sobre o futuro, o que faz muito sentido e é totalmente plausível devido ao momento que o mundo está passando. Sonhos, o nosso subconsciente, reflete o que estamos vivendo; prestar atenção no que se sonhou pode ser uma chave para entender o que estamos sentindo, seja no passado, presente ou até mesmo sobre o que virá a seguir.

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