Você corre ou confia?

A humanidade está cada vez mais distante do grande sonho de paz

Thais Paiva
Paradoxos
2 min readJun 5, 2021

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Por Thais Paiva

Fonte: Unsplash.com

São cerca de 40 minutos da universidade até o ponto de ônibus perto de casa. Já passava das 22h30 quando eu entrei no ônibus e, quando desci, confesso que dei uma respirada de alívio. Agora era só atravessar as ruas escuras. Estava ouvindo “Daniel na cova dos leões” e me mantendo alerta. Eu conheço a história bíblica, mas a música é uma poesia indecifrável. O gosto amargo que fica doce? Teu momento que passa ser o meu instante?

— Ei, ei!
“Ah não.”
— Ei, por favor!
“Tem alguém me chamando? O que faço? Posso pelo menos olhar né.” Quando virei, tinha um homem magro de, mais ou menos, 1,70 m de altura. Estava escuro então não conseguia olhar para seu rosto.
— Sim? — gritei.

— Eu preciso de ajuda.

Ele então começou a vir na minha direção; eu corri. É regra: pra lá das 23h no meio de uma rua deserta, se alguém vem correndo na sua direção, você corre! Só conseguia pensar que algo ruim iria acontecer.

— Moça, espera! Juro por Deus, só preciso de uma ajuda.

Aí ele pegou na ferida. Se falamos em Deus, devemos sempre ajudar os outros. Mas a realidade de hoje não é assim, fui criada para ver o pior lado e ter medo de tudo. É culpa de quem? Jesus é ingênuo ou nós somos paranóicos?

— Tá, moço. Me conta o que aconteceu pra eu ver se consigo ajudar.

— Eu juro que só preciso de uma mãozinha. A bateria do carro tá zuada. Só preciso que me ajude a empurrar, minha mulher tá no volante.

Então eu reparei no carro e tinha mesmo uma mulher sentada. Talvez a história fosse verdade, fui ajudar rezando um “Pai Nosso” na cabeça. Seguimos o protocolo de empurrar o carro até ele “pegar”. Uma hora funcionou, ele correu pra dentro do carro, gritou um “obrigado” e foi. Eu voltei a caminhar para casa.

Não sei porque ele pediu ajuda para mim. Talvez fui a única que parou, talvez precisasse desse teste de bondade para voltar a acreditar na humanidade. Estamos cada vez mais distantes das pessoas e deixando de acreditar no grande sonho de uma sociedade justa e boa. Vivemos tendo medo do golpe do outro, do puxão de tapete, de ser magoado.

Não sei se a história era real, mas eu tirei uma lição dessa noite e vou ficar com minhas reflexões: inteligente era Daniel.

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Thais Paiva
Paradoxos

Descobrindo o máximo de histórias em um mundo desigual.