Conteúdos infantis e a violência que ninguém vê.

Cecília Lima
Paralelos da Mídia
3 min readAug 19, 2019

Como os desenhos animados podem mascarar conteúdos inapropriados para crianças em fase de desenvolvimento.

Todo mundo nasce como quadros em branco, esperando que as interferências externas moldem suas personalidades de acordo com o que experienciam na vida. Essas influências têm força decisiva nos primeiros anos de vida, mais especificamente até os 6 anos de idade, e é importante que durante esse período a atenção dos responsáveis seja redobrada sobre tudo ao que os pequenos têm acesso, inclusive os conteúdos animados.

O primeiro instinto dos adultos é verificar a classificação indicativa, um grupo de informações sobre o conteúdo de obras visuais quanto à adequação de horário, local e, principalmente, a faixa etária para a qual essas obras devem ser exibidas. A indicação é só uma para as crianças de 0 a 12 anos e é aí que mora o perigo, uma vez que existem diferentes fases de formação nesse espaço, fases que precisam de cuidados e atenções diferenciadas. Se assegurar de que crianças nos primeiros anos de vida não sejam expostas a violência, mesmo que mascaradas em forma de desenho animado, é essencial para garantir que comportamentos agressivos não tenham influência sobre a formação da futura personalidade dos pequenos.

Não é pouco comum que conteúdos violentos sejam ignorados quando presentes em conteúdos infantis, as próprias artes da ilustração e da animação facilitam essa negligência, adicionando cores vibrantes e efeitos divertidos para mascarar cenas que, se feitas por atores de carne e osso, seriam consideradas extremamente inapropriadas. O estudo mais recente sobre o assunto foi realizado pelo “British Medical Journal” e traz resultados surpreendentes sobre a quantidade de violência consumida pelas crianças nos desenhos animados sem que os pais nem mesmo percebam. Ele aponta que as animações são mais violentas que filmes adultos e seus protagonistas correm 3 vezes mais risco de morte.

Os personagens de desenhos animados têm 2,5 vezes mais chances que morrer do que em filmes para público mais velho, número que sobe para 3 quando o assunto é serem mortos por outro personagem. Enquanto nos filmes a morte de um personagem importante acontece em metade dos casos, nos desenhos acontece em dois terços. Analisando apenas a Disney, uma das principais produtoras de conteúdo infantil, e sua franquia Disney Princesas, é possível observar que 7 das 11 personagens principais são órfãs, isso sem considerar recentes sucessos de bilheteria como “Frozen — Uma Aventura Congelante” e “Moana — Um Mar de Aventuras”. O número não diminui quando falamos de mortes durante os filmes, entre fatalidades e vilões perversos os desenhos da Disney explicitam cenas fortes de violência, com causas das mortes indo desde tiros, como é o caso de “Bambi”, armas brancas como em “A Pequena Sereia” e até ataques de animais como em “Tarzan”.

Uma explicação para esse banho de sangue presente nos desenhos animados é a constante temática de bem contra o mal, essa luta geralmente acaba ficando física e resulta em cenas violentas e até fatais que podem ter um efeito sobre a personalidade futura de crianças que as assistem. A mensagem passada por esses desenhos, mesmo que subliminarmente, é a de que todos os problemas podem ser resolvidos depois de uma batalha e que às vezes uma luta física é a única saída pra se dar bem, não é bem essa a lição que os pais querem que seus filhos aprendam não é?

Limitar os conteúdos acessados por crianças em fase de formação de personalidade se torna essencial quando influências negativas podem afetar os pequenos sem que os adultos nem mesmo percebam. A atenção redobrada dos responsáveis é o único caminho para manter seus pequenos seguros de qualquer coisa que molde seus caráteres de forma negativa, tendo certeza que a próxima geração não será violenta, pelo menos não por culpa dos desenhos.

Texto de Anna Dulce Neves e Marcela Dourado

--

--