Quando eu abraço,

Leo Medeiros
Parapeitos
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2 min readApr 21, 2023

sou uma jaula. Apoio meus medos, anseios, frustrações; e suas costas e peitos que se virem! O que será de mim quando for velho, velho demais para cortar asas e para essas minhas tesouras tão pesadas de carregar? A única coisa que vejo no fim do túnel é túnel e túnel e mais nada nem ninguém. Eu só queria que uma pessoa me adivinhasse e fosse como eu. Que tivesse vida normal, casa, comida, dignidade e tempero de traumas moderados. Que não fossemos do topo da pirâmide estética do mundo, mas de uma classe média aceitável e às vezes sensual para uma transa medíocre que, às vezes, expanda mediocremente o seu horizonte (sem falar nem mexer no cu, por favor). Viver uma vida pacificamente turbulenta em nossa moradia humilde e confortável em algum canto onde o Estado deita os olhos enquanto esquece tantos outros, de que nós, vez ou outra, iremos nos lembrar, torcendo muito para esquecer o mais rápido possível e levar embora a tristeza que abate corações, a tristeza de um mundo injusto do qual gozamos a pouca porra, torcendo também para que nesse (se Deus quiser) curto período, nossos filhos (só dois por favor) aprendam o quão medíocre somos, nos odeiem e queiram ir além, muito além de adultos frustrados e autoindulgentes demais para não se desamarrarem de suas próprias armadilhas de impotência mesmo com o fogo da culpa queimando no rabo e o fogo da crueldade queimando o rabo de tantos miseráveis por aí enquanto os diabos estão soltos, muito soltos, e servidos de muita porra que o povo produz sem gozar.

E assim os dias vão passar, transas, tristezas e alegrias, discursos e jantares, almoços e alarmes e bom dias e boa noites medíocres hão de ir e vir, e morreremos medíocres com o foguinho não derretendo mas acalentando nossos traseiros de jumentos fujões, com a farsa da consciência limpa bem estruturada na cabeça, apoiada nas costas (que se virem!) de nossos filhos, nossas sementes regadas de porra nenhuma nossa senão as maldições do sangue, mas de arredores frescos, que, se Deus quiser, os permitirão amar e se libertar das suas próprias sabotagens baratas.

Eu já estou aqui. Só falta você, meu amor.

Com carinho, desespero, amargor e garras bem afiadas,

Leonardo.

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Leo Medeiros
Parapeitos

Escritor, ansioso; a letra da frente sempre fazendo a de trás tropeçar, mas nunca deixando de dizer.