🎬 Paratii: um player de vídeo embedável, customizável e sem taxas

Open source, sendo construído sobre IPFS + a blockchain da Ethereum.

Paratii
Paratii
10 min readOct 3, 2017

--

O consumo de vídeos já representa mais de 70% do tráfego global de dados na internet, e grande parte passa por infraestruturas privadas. O que isso significa? A maioria do conteúdo digital que consumimos diariamente é hospedada e distribuída por um par de companhias que, como era de se esperar, controlam uma porção exorbitante do mercado mundial de publicidade online. Em contraste, ao longo das últimas décadas, o movimento peer-to-peer, enraizado nos primórdios da internet, deu origem a diversas iniciativas visando estabelecer um cenário livre para a difusão de conteúdo, do Napster à Freenet ao BitTorrent.

A maioria desses esforços foi interrompida por lobbies corporativos ou simplesmente perdeu força com o tempo, talvez por dependerem demais do altruísmo de usuários (“não feche o uTorrent por pelo menos 5 minutos depois de baixar o arquivo!”), ou por não oferecerem perspectivas comerciais claras para criadores e publishers. Nada contra os piratas, mas quando eles são os únicos beneficiários do sistema, fica difícil convencer todos os outros agentes a embarcar no negócio e fazer a rede ganhar valor. É aí que blockchains, com a possibilidade de se criar incentivos programáveis, entram em cena. Paratii nasce para alinhar interesses de audiências e criadores, sem deixar publishers fora do jogo da distribuição de vídeos, com a ajuda de redes p2p de armazenagem descentralizadas (em inglês, DSNs, em português, vamos chamá-las de RADs).

O que é Paratii?

Paratii é um vídeo player embedável, construído sobre protocolos abertos (IPFS + Ethereum, basicamente) e projetado para recompensar todos os usuários que contribuem com o sistema num nível social, econômico ou técnico. Ou seja: desde o princípio, há incentivos inscritos no código (dinheiro na forma de recompensas pré-programadas) para que a comunidade possa coletivamente fazer a curadoria do sistema, movimentar a economia através de transações de todos os tipos, permitir diferentes modelos de monetização e até submeter contribuições para a melhoria do software do player em si (o projeto é open source).

Para o usuário comum,

que assiste a vídeos na internet, o player se comporta como outro qualquer, a não ser pela navegação: as ações que você faria em uma plataforma Flix ou Tube da vida agora estão disponíveis dentro do player em si, esteja ele embedado em qualquer página.

O mantra é: embede em qualquer lugar.

Para publishers, canais de conteúdo e plataformas de mídia,

o player Paratii é uma solução sem taxa nem modelo de revenue share embutido — essencialmente um white label gratuito, open source e customizável para distribuir vídeos em qualquer página web ou aplicação própria. Isso significa que, em vez de desenvolver uma solução a partir do zero e arcar com os custos associados à armazenagem de arquivos, qualquer um pode embedar o player em sua página web ou aplicativo e distribuir seus vídeos livre de oligopólios ou taxas que corroem lucros. Isso vale para desde o New York Times até o vlogueiro do apartamento ao lado.

Para anunciantes,

o player é uma janela para atenção de usuários, e evoluirá para se tornar uma plataforma para a compra de mídia como qualquer outra SSP. A diferença é que aqui o investimento não é canalizado para o bolso de nenhuma entidade ou provedor centralizado, mas sim aproveitado pelo sistema até a última gota (0% de taxação por default), o que barateia o jogo.

Sabemos que a conveniência dos Tubes e Flixes é uma barreira para que usuários migrem para plataformas alternativas de conteúdo — os argumentos da descentralização, da privacidade e de uma economia inclusiva raramente superam aquele do conforto.

Em parte por isso, não estamos construindo uma plataforma de vídeo. Mas sim um player de vídeo, para ser usado por qualquer plataforma.

Por que decentralizar?

Decentralização, blockchain e criptomoedas viraram buzzwords nos últimos anos. A proliferação de scams e grupos mal intencionados tentando surfar nas valorizações espetaculares do bitcoin, do ether e das criptomoedas em geral acaba por gerar muita desinformação em torno do tema.

Existe muito a se fazer além da especular sobre o potencial de apreciação dos criptoativos (tokens nativos de um determinado protocolo ou aplicativo decentralizado). De fato, a expectativa que movimenta esse mercado reside sobre tecnologias novas e ainda pouco testadas em larga escala.

A verdade por trás de todo o hype é que a Ethereum, por exemplo, ainda é uma blockchain lenta, que consome recursos excessivos de seus participantes, ineficiente para a maioria dos casos de uso esperados para uma aplicação moderna de alta performance. Venerada por suscitar a visão de um computador global distribuído e acessível, mantido por incontáveis computadores conectados, a rede ainda tem muito a evoluir para conquistar uma escalabilidade compatível com os anseios dos investidores.

No entanto, a flexibilidade de uma plataforma genérica como a Ethereum, no estado atual das coisas, já permite a automação de uma série de processos “de backend”, independentemente de controladores centrais. Integrando-se a isso uma RAD (rede de armazenagem descentralizada), podemos construir um sistema que garante a execução de um conjunto lógico de regras usando a rede Ethereum, mas que guarda e busca arquivos + metadados nas memórias locais de computadores participantes da rede, evitando “sobrecarregar” a blockchain.

1 - Modelos de monetização customizáveis

Vídeos gratuitos sem anúncios, vídeos gratuitos com anúncios, vídeos pagos (pay-per-view), e canais para se inscrever (modelo de assinatura): aqui, quem decide como quer monetizar o conteúdo é quem produz ele. Cada vídeo pode ganhar vida com uma lógica de rentabilização própria. Ou pode-se confiar nos parâmetros sugeridos por peers para maximizar o alcance, a receita, ou qualquer outra métrica.

2 - Um moeda própria: o PTI

Paratii estuda a possibilidade de ter um token nativo (uma criptomoeda própria) cuja emissão é regida por código. PTIs (chamemo-nos assim) recém-emitidos são distribuídos por ordem de algoritmos entre aqueles que contribuem com a evolução da rede. O PTI tem uma oferta finita e base monetária deflacionária, o que significa que, com o tempo, uma mesma contribuição que se repete é remunerada com menos e menos tokens pelo sistema. Com PTIs, basicamente:

  • 💰 Usuários são remunerados por serem “bons curadores” ou por emprestarem recursos computacionais à rede;
  • 💸 Produtores de conteúdo recebem seus ganhos advindos da receita dos vídeos.
  • 📈 Interessados em “investir no futuro da mídia online” especulam sobre o valor futuro de uma criptomoeda que, basicamente, significa atenção tokenizada.

Na prática, com o sistema no ar, usuários provavelmente nem precisem saber o que é uma blockchain para se registrarem, ganharem seus tokens, e trocá-los por sua moeda de preferência quando quiserem.

3 - Um sistema econômico desintermediado, justo, e transparente

As plataformas tradicionais de vídeo sob demanda (video-on-demand, ou VoD) precisam gerar lucro operacional para se manter funcionando. Paratii, por outro lado, é um player que funciona como porta de entrada para uma rede sem donos ou governantes centrais. Todo o valor gerado pelo sistema é redistribuído entre usuários do sistema; e o valor de um vídeo não depende apenas do seu criador, mas de todos os responsáveis por curar, promover e interagir com ele - merecendo estes, portanto, parte do valor gerado por tais atividades.

Em vez de definir um modelo de monetização desde o início, como a maioria das plataformas de video-on-demand, Paratii deixa essa decisão para cada produtor de conteúdo, enquanto as interações subsequentes desencadeadas por espectadores, anunciantes e outros agentes podem aumentar ou diminuir o lucro final de todos. Além disso, não há taxação embutida no sistema para manter entidades centralizadas com fins lucrativos.

4 - Uma alternativa às “filter bubbles” criadas por Tubes e Books

Certas plataformas são conhecidas por tendenciar as recomendações de conteúdo feitas a usuários. E se, em vez de manter um motor próprio de sugestões de vídeos, Paratii deixasse qualquer um competir para prover o sistema de recomendação mais eficiente para cada vertical de conteúdo, tipo de navegação, perfil de usuário ou canal, sendo que as próprias escolhas dos usuários determinam e automaticamente remuneram os recomendadores mais eficientes?

Estamos trabalhando em uma API para estabelecer uma dinâmica de competição entre motores de recomendação (Numer.ai é um exemplo extremo com aplicação parecida no que diz respeito a uma competição de modelos preditivos para a performance de investimentos).

Outra questão importante a ser atacada de maneira decentralizada diz respeito ao flagging e moderação de conteúdo inapropriado aos termos de uso da comunidade, ou infringente em relação a direitos. Num sistema decentralizado, usuários voluntários competem por recompensas associadas à identificação e julgamento de tais materiais, quase como “caçadores”, em tarefas que muitas vezes podem ser automatizadas.

5 - Embede como e onde quiser

Quando pensamos em vídeo online, é quase sempre uma ou outra plataforma que vem à cabeça. Raramente nos damos conta de que boa parte da audiência do mercado passa pelos chamados video-players-as-a-service: whitelabels “invisíveis”, que se encarregam dos vídeos de grandes publishers, canais de nicho e produtores independentes de todo tipo.

Paratii é um player pensado ser facilmente embedável e funcionar na web, sem reinventar a roda, implementando um sistema desintermediado tão discretamente (e eficientemente) quanto possível.

O time

O que começou dentro de uma produtora de cinema se transformou numa uma equipe com >10 colaboradores distribuídos por 3 continentes. Paratii é uma iniciativa com DNA brasileiro, e certidão de nascimento estoniana (mais detalhes em breve). O time técnico é sediado na Europa, grande parte do trabalho é remoto, e nós estamos recrutando 📬

O background coletivo é uma mistura. Inclui décadas somadas de mercado publicitário; experiência com Solidity (linguagem de programação de contratos na Ethereum) e engenharia de redes peer-to-peer; prática com crowdfunding e passagens por centros de pesquisa renomados como a universidade de Stanford e laboratórios de modelagem de dados do exército americano e da NASA. Conheça nosso time.

Por que agora?

A plataforma de vídeos mais famosa do mundo encara uma diáspora de tubers abalados com a discriminação (disfarçada de “politicamente-correto”). Anunciantes tem cada vez menos controle sobre o contexto onde serão promovidos, e a fraude assola o mercado, com relatórios indicando que até um quarto de todas as impressões pagas atribuídas vídeos online são falsas (geradas por bots). Em um sistema decentralizado, a maquiagem de resultados é mais difícil uma vez que eventos podem ser “carimbados” num registro transparente, imutável e e seguro por natureza (uma blockchain).

A promessa trazida pela Internet de exterminar intermediários foi substituída pelo domínio de novos impérios, camuflados como plataformas de socialização ou economia compartilhada. Nenhum destes conglomerados levou a desintermediação às consequências extremas, constituindo redes socioeconômicas capazes de redistribuir toda a riqueza criada de volta aos seus participantes. E o motivo é muito simples: o modelo vem se pagando bem, até agora.

Há dez anos atrás, se alguém lhe dissesse que o mundo inteiro teria um único ponto de táxi, você teria dado risada. Se alguém te dissesse que o mundo inteiro teria um grande canal de TV, você teria dito o quê? (uma dica: na nossa versão da história, há 3)

Tecnicamente falando…

Atualmente, o player Paratii é um aplicativo em pleno desenvolvimento, com front-end em meteor.js (deprecado, cheque o repositório mais recente), carregando uma implementação modificada do protocolo IPFS (baseada no repositório js-ipfs oficial e nos primitivos oferecidos pelo subprotocolo bitswap) e uma carteira ERC20 embutida.

Nele, será pode-se navegar por vídeos ou publicar o seu próprio; registrar-se e ganhar alguns PTI-teste (ainda sem valor real) para “comprar” filmes ou transacionar pela rede; curar conteúdo ou compartilhar banda para ser recompensado; ou até se cadastrar como um publisher parceiro.

A stack de tecnologias usadas será decentralizada gradualmente, componente por componente, em nome da segurança. Todo dApp (aplicativo decentralizado, geralmente construído sobre a rede Ethereum) ainda possui um caráter extremamente experimental. Updates serão sempre feitos em alinhamento com um sistema de governança orientado pela comunidade, ao mesmo tempo em que se aprofunda a integração com subprotocolos nativos ao ecossistema da Ethereum.

Streaming peer-to-peer, no browser

As redes de armazenamento descentralizadas (RADs) são como torrents com esteróides: tem-se os efeitos de rede de uma comunidade peer-to-peer, mas também incentivos tokenizados, que são basicamente recompensas geridas por código para aqueles que compartilham recursos de armazenagem e banda larga com outros peers.

Abas com um player Paratii ativo tornam-se automaticamente — embora temporariamente — um na rede RAD subjacente ao sistema. Eles podem se conectar a peers próximos via WebRTC, ou usufruir de uma infraestrutura de bootstrap que funciona como um “backbone auxiliar de ignição”.

RADs são auto escaláveis: numa rede do tipo, quanto mais demanda por um arquivo, mais máquinas conectam-se enquanto assistem ao vídeo e ajudam a servi-lo para seus vizinhos. A audiência barateia o custo por transmissão individual do vídeo, ao contrário do que acontece num modelo tradicional, onde a demanda pode sobrecarregar servidores e escalar custos.

A alocação de despesas também é fundamentalmente diferente: uma vez que as trocas de valor são executadas entre peers, custos de armazenagem e banda não precisam ser pagos a um controlador central, e os usuários da rede podem “pagar” pelo acesso ao conteúdo tornando o conteúdo acessível através de seus próprios computadores.

O que vem depois / como participar?

Nosso player está sendo desenvolvido a todo vapor. Um protótipo deve vir a público em novembro (clique aqui para assinar nossa newsletter e ser um dos primeiros a testar o alpha). Temos uma documentação incipiente e uma comunidade em formação. Este blueprint descreve o modelo econômico do sistema, fornece estruturas de incentivo básicas, define nossa tech stack e traça um roadmap de desenvolvimento.

A visão aqui exposta está em constante evolução, e queremos que você faça parte do processo. Todo comentário + sugestão + crítica + conselho é bem-vindo. Para compartilhar suas ideias ou aprender mais sobre Paratii, venha conversar conosco no Gitter. Até logo!

Leia esse texto em inglês: https://medium.com/paratii/introducing-paratii-video-8f5d6386deba

--

--

Paratii
Paratii

Decentralised video, before it went mainnet.