Quem tem medo de Blockchain?

Felipe Esrenko
Paratii
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4 min readNov 21, 2017

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Como a tecnologia que está mudando a internet pode mudar — para melhor — o universo do conteúdo

Nos últimos anos, criadores e distribuidores de audiovisual têm debatido como garantir a sobrevivência de um mercado que parece a cada ano mais e mais fragmentado. A ascensão de tecnologias que democratizaram o acesso à produção colocaram grandes estruturas contra a parede. Por outro lado, o debate agora estende-se para uma necessidade de se ter uma remuneração válida dentro dessas novas perspectivas — onde pequenos produtores estão lado a lado com grandes estúdios. No meio das discussões, a blockchain emerge como uma tecnologia peer-to-peer, sem intermediários, que exigirá uma redefinição do modus operandi de todos os mercados — inclusive o do entretenimento. E, como nunca, quem fará a diferença será o público. Se antes foi dito que a revolução seria televisionada, hoje ela será compartilhada.

O começo

Na virada do século XIX para o século XX, um grupo de produtores de cinema queriam escapar das amarras de copyright exigidas por Thomas Edison — até então quem monopolizava a produção de filmes norte-americana — e decidiu fundar em Los Angeles uma cidade dedicada ao cinema (onde as leis americanas de direitos autorais não os alcançassem). É irônico que o começo de Hollywood tenha sido uma luta contra o monopólio, já que seu pensamento centralizador, a busca pelo controle total, foi o que moldou a indústria do entretenimento até os dias de hoje.
É difícil falar sobre uma revolução única na mídia, já que sua própria essência é a transformação. A busca pelo novo é o que motiva milhões de consumidores de conteúdo, diariamente, a buscarem algo para assistir. Nos últimos anos, essa busca foi alimentada pelas mudanças cuja natureza foram, essencialmente, no modo como o conteúdo é entregue às pessoas. Essa revolução de plataforma, liderada pela internet, infelizmente não acompanhou uma revolução de modo de pensar da indústria, que se manteve presa aos paradigmas que a definiram por todo o século passado.
Cada vez que assistimos a um vídeo, por exemplo, em qualquer plataforma de streaming online, assistimos a algo que ainda é uma extensão do modelo clássico de se fazer e pensar produção. Além disso, as grandes plataformas ainda são administradas como os estúdios tradicionais de cinema são: um núcleo, central e hierárquico, tomando todas as decisões, sendo responsável pela palavra final sobre como e onde cobrar, de pessoas ou criadores, pelo que é visto ou distribuído. Um processo que não é apenas antiquado, como também contrasta com toda a liberdade e versatilidade oferecida pela internet.

Hoje, uma ruptura estrutural promete novamente chacoalhar o mercado do entretenimento. O blockchain está entre nós. Ainda muito associado ao uso em criptomoedas, ele traz infinitas possibilidades também para criadores de conteúdo, bem como para o público consumidor desse conteúdo na ponta da cadeia.

O blockchain permite, acima de tudo, transparência e descentralização: dois conceitos muito distantes da cultura da indústria. Hoje, os criadores de conteúdo em uma plataforma tradicional de vídeo são remunerados com no máximo 50% do valor obtido primariamente com publicidade assistida sobre os vídeos. Esse valor é calculado com base em dados cujo acesso é parcial. Ao criador resta resignar-se diante das condições impostas.

Estamos falando de uma rede de dados segura, transparente e verificável por todos. Através de uma espécie de banco de dados comum, elimina-se a necessidade de uma empresa centralizando as transações: esse papel fica a cargo de uma comunidade, autônoma e descentralizada, que valida e garante a fidelidade das operações realizadas com sua tecnologia. Em outras palavras, questões como remuneração e direitos autorais saem da mão de uma só empresa e passam para a mão dos verdadeiros interessados: o público.
Além disso, por ser descentralizada, esse rede permite operar sem um servidor central. Cada pessoa, em seu computador, armazenará uma pequena parte de todo o conteúdo da rede. As vantagens? Autonomia para o próprio criador, que passa a ter uma relação mais transparente com sua audiência e com o modo como distribui material na rede. Hoje, baseados nas regras restritas dos players, a jornada de pequenos produtores para conquistar um lugar no cenário dos vídeos ainda não é fácil. A solução mais vantajosa é dar a esses criadores liberdade sobre como lidar com aquilo que produzem e distribuem. Isso facilita uma relação que, amparada pelo público sempre ansioso por novidade, daria abertura para uma gama ainda maior de novos criadores. Além disso, a blockchain permite a criação de um ambiente onde mesmo o público possa ganhar com seu papel de espectador, como é a proposta da Paratii. O que você ganha é a liberdade para criar novos ecossistemas de distribuição e monetização de conteúdo, onde as trocas e transações são garantidas sem intermediários.

O que teremos em breve é uma reviravolta no mercado, criando estruturas flexíveis e em diversas camadas — como a própria Internet é, em sua essência. O que teremos é muito mais do que uma nova mudança de plataforma, vamos mudar o modo como pensamos todo o cenário do entretenimento. Hoje, sabemos que um vídeo distribuído em conversas entre amigos ganha facilmente muito mais visualizações que muitos filmes produzidos por grandes estúdios. O que falta é um mercado que garanta possibilidades de ganhos para todos os envolvidos nesse universo — de criadores a público. A blockchain vem para inverter esse modelo de pensar a produção, pensando, antes de tudo na liberdade de criadores e conteúdo. O que está em xeque é a habilidade de se moldar um mercado novo, onde essas novas possibilidades, ao invés de simplesmente serem ignoradas, sejam abraçadas como uma saída para todos.

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Felipe Esrenko
Paratii

Writer | Storyteller | Cyberpunk & sci-fi enthusiast | Futurist Aspirant