3º dia de Paraty em Foco

Estúdio Madalena
Blog do 11º Paraty em Foco
6 min readSep 26, 2015

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Por Julio Boaventura jr e Manuela Rodrigues.

Como se fosse possível, o terceiro dia de festival começa em uma manhã ainda mais quente, trazendo mais uma mesa de debate, sobre
Caminhos, políticas e definições para uma fotografia em processo de expansão de ideias e de reflexões.

Os representantes da Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil (Eugênio Sávio e Milton Gurán), e os convidados Sofia Fan (Instituto Itaú Cultural), Lisette Lagnado (EAV Parque Lage // Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro), Alfredo Manevy (Secretaria de Cultura do Município de São Paulo), Cristina Maseda (Secretaria de Cultura do Município de Paraty), inicialmente apresentaram as iniciativas, projetos e eventos que coordenam e como acabaram se tornando instrumentos de política cultural ao longo do tempo.

Foto de Bea Rodrigues

Em um segundo momento o debate acabou enveredando pelos caminhos da necessidade latente de um posicionamento mais incisivo da fotografia no âmbito das políticas públicas de cultura. E ainda Alfredo Manevy destacou 3 importantes dimensões que precisam ser melhor exploradas para que a fotografia exerça todo seu potencial: o caráter simbólico, econômico e cidadão.

Foto de Bea Rodrigues

Na sequência Micha Bruinvels, diretor do World Press Photo, apresentou a história da premiação e da instituição que é referência no meio fotojornalístico, e que busca acompanhar as revoluções constantes do século XXI preservando a credibilidade que os trouxe até aqui.

Nesse contexto, o principal ponto na visão de futuro da premiação que vêm enfrentando grandes polêmicas em suas últimas edições, é deixar cada vez mais clara sua postura e intensificar a aplicação das regras que julgam ser necessárias para a preservação do que entendem como sendo fotojornalismo. E ao mesmo tempo oferecer outras plataformas para imagens que não se enquadram sob esses aspectos.

Após uma mudança nos ventos e sensível queda na temperatura, o retorno das atividades no período da tarde se deu com a apresentação de Horácio Fernandez para falar das novas possibilidades de curadoria na era dos fotolivros.

Foto de Talita Virginia

Antes de apresentar algumas de suas últimas propostas expositivas Horácio refletiu sobre o caráter de democratização do trabalho autoral proporcionado pelos fotolivros nos últimos anos, e como é importante que essas estruturas narrativas sejam incorporadas em projetos curatoriais.

“Quando se faz uma montagem muito convencional se está eliminando a possibilidade de que o público possa entrar nesse discurso […] O curador é mais interessante quando propõe soluciones abertas, porque quando as fecha se torna um ditador.” Horácio Fernandez

Foto de Talita Virginia

Na sequência, Eugênio Sávio entrevistou o mexicano Francisco Mata Rosas, que trouxe ao palco uma excelente reflexão sobre o papel da fotografia nos tempos atuais, em que a equação “celular + câmera + internet + apps + redes sociais”, está revolucionando a linguagem de uma maneira mais profunda do que na transição do analógico para o digital.

Ao mostrar dois extremos dos usos desse novo tipo de fotografia (fotos de guerras no oriente médio e banalidades do cotidiano no Instagram), Mata Rosas defende uma compreensão mais ampla, sem julgamento de valores sobre o que seria a imagem mais relevante.

Foto de Bea Rodrigues

“A fotografia da espuma do café não é menos importante que a da guerra do Afeganistão se ambas cumprem o papel de comunicação.” Francisco Mata Rosas

E ainda nos surpreende com as novas possibilidades que essa revolução também traz à curadoria ao mostrar dois incríveis projetos, “Viejas Bravas” em que reúne registros de Instagram de mulheres de narcotraficantes, exibindo seus luxos e armas, e a exposição que acaba de inaugurar o Foto Museo Cuatro Caminos na Cidade do México, onde utilizou fotos captadas pela rede na construção de uma verdadeira timeline da violência no México.

E em resposta a uma das perguntas da platéia fala sobre a necessidade urgente da expansão da educação visual, como forma de alfabetização em um mundo que se comunica por imagens, e da redefinição das bases do ensino da fotografia para que possa acompanhar esse cenário de constantes mudanças.

“Não podemos ensinar fotografia do século XX a jovens no século XXI. Estamos criando um mar de desempregados.” Francisco Mata Rosas

Para fechar a programação de Encontros e Entrevistas, Milton Gurán sobe ao palco para entrevistar Cristian Cravo.

Foto de Talita Virginia

O fotógrafo nos contou sobre o processo de construção de uma trajetória própria em meio a uma família de grandes artistas, passando pela infância na Bahia, a vida na Dinamarca após a separação de seus pais, as visitas ao Brasil e as imersões em diferentes culturas.

Minha curiosidade inicial na fotografia se deu pela necessidade
de criar contato com a família do meu pai. Cristian Cravo

Cristian falou sobre o papel da convivência familiar como grande fator de incentivo ao seu desenvolvimento como artista, mas ressaltou o longo processo de amadurecimento e busca de uma linguagem pessoal, sem o qual não teria alcançado êxito. E ainda como foi importante explorar novos territórios nesse processo, como seus trabalhos no Haiti e na África.

Foto de Talita Virginia

Eu precisava encontrar o mesmo contexto em outro lugar, a Bahia era o território do meu pai e do meu avô. Eu precisava construir minha própria identidade, nem que fosse geograficamente.

E como fim de um grande ciclo de aprendizado, fala de seu trabalho mais recente “Ao firmamento viaja a mente, na terra descansa o corpo” ainda em andamento, de fotografar a própria família (mulher e filhas) como um exercício de reflexão sobre a fragilidade da carne.

Foto de Julia Moraes

Dando início as atividades das Noites de Projeção tivemos mais uma exibição de trabalhos recebidos pela Convocatória em Foco.

Foto de Julia Moraes

Na sequência Jetmir Idrizi, fotógrafo de Kosovo, apresentou os resultados do Dokuphoto. Iniciativa que reuniu onze fotógrafos vindos de diversas partes dos Balcãs orientados por Pep Bonet e para uma documentação que desenvolvesse um melhor entendimento entre as diferenças étnicas e culturais existentes na região e a criação de uma nova representação fotográfica de Kosovo para além das imagens da guerra.

Para encerrar o dia Érico Elias apresentou o segundo programa da Mostra Fotofilmes Brasileiros, que começou com o clássico e aterrorizante Vinil Verde (2004), de Kléber Mendonça Filho.

A cobertura do 11º Paraty em Foco
é do
Oitenta Mundos

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