4º dia de Paraty em Foco
Por Julio Boaventura Jr e Manuela Rodrigues
A espera pela primeira mesa do dia já anunciava um sábado de grande público. Com o tema "Fotografia e direitos humanos", André François, Marcelo Brodsky e João Roberto Ripper apresentaram parte de suas trajetórias e os projetos que coordenam atualmente, dando ao público excelentes exemplos de uma atuação fotográfica ativista em defesa dos direitos humanos.
Ao longo da conversa o convite à reflexão se transformou em um verdadeiro chamado, convocando a comunidade fotográfica a assumir a responsabilidade pelo tipo de documentação que vêm fazendo, e se questionar se estão contribuindo apenas para uma visão única dos fatos.
"Temos que fazer denuncias mas mostrar beleza. Porque quando você retira a beleza da informação nos espaços mais pobres do pais, você acaba transmitindo apenas a informação sobre a ausência de quase tudo e os coloca como protagonistas de uma violência, que na verdade sofrem." João Roberto Ripper.
Na conversa com o curador argentino Rodrigo Alonso, ele nos conduziu por uma mostra de trabalhos artísticos que usam o corpo como expressão. E em sua análise explicitou como em determinado momento da história o corpo apareceu dentro da arte com ume espécie de discurso afirmativo sobre determinadas questões. O que permitiu aos artistas transformar esse corpo em elemento representativo de ideias relacionadas a gênero, diversidade cultural e étnica, entre outros na arte contemporânea.
Na mesa Fotografe Melhor, Sérgio Branco e Juan Esteves entrevistaram os representantes de uma nova geração de fotógrafos: Alexandre Urch e Tuane Eggers.
Alexandre que começou a se aproximar da fotografia através das práticas de laboratório e impressão, descobriu no celular a possibilidade de se expressar através da retratação de seu cotidiano de forma muito mais prática.
"O celular me propiciou fazer imagens impossíveis. É a única câmera que você consegue fotografar um segurança em frente a uma placa de proibido fotografar"
Alexandre Urch
Em sua apresentação Tuane Eggers, mostrou os autorretratos que deram início a sua produção fotográfica, desde o início disponibilizada na internet, mesmo antes do advento das redes sociais.
"A fotografia pra mim era a forma de mostrar para o mundo." Tuane Eggers
Na conversa que se seguiu às apresentações, ambos reforçaram o papel central que a internet e os dispositivos têm em suas obras, mas destacaram também a necessidade cada vez maior, de que parte do processo tenha uma conexão com a materialidade, seja através da impressão das imagens ou até mesmo a produção analógica.
Com uma performance emocionante que reuniu imagem, som e narrativa Arno Rafael Minkkinen nos conduziu em uma viagem por sua obra que sintetiza magistralmente o tema da representação e autorrepresentação proposta por essa edição do festival.
Como maior aprendiz de sua própria teoria (The power of three), Arno Rafael convidou a platéia a refletir sobre a consistência de um trabalho fotográfico, impressionando a todos ao mostrar imagens que produziu na década de setenta em perfeita harmonia com outras produzidas em 2014. A tradução perfeita de seu lema “make it different, keep it the same”.
Ao falar sobre seu processo de trabalho palavras como magia, intuição e espiritualidade nos mostravam a profundidade da conexão de seu ser com a fotografia.
"Fiz um contrato com a minha câmera em 1971, ela seria responsável pelas fotos eu seria responsável por imaginar." Arno Rafael Minkkinen
E já no fim de sua fala, reverência a ferramenta que lhe permitiu criar tanta beleza ao desafiar seus limites corporais por mais de 45 anos.
"As câmeras merecem aplausos por serem nosso instrumento, pelo qual somos apaixonados e que nos une em uma linguagem universal." Arno Rafael Minkkinen
Depois da última projeção de trabalhos selecionados pela Convocatória em Foco, João Wainer e Katia Lund apresentam o vídeo clipe Boa Esperança do Rapper Emicida.
O vídeo que propõe uma reflexão urgente e necessária sobre um dos grandes resquícios de uma sociedade escravocrata, a situação dos empregados domésticos, encerrou de maneira brilhante a programação de caráter mais político dessa 11ª edição do Festival.
Na sequência o terceiro e último programa da Mostra Fotofilmes Brasileiros teve como destaque a obra "Caixa de Sapato" da Cia. de Foto, que apesar de extinta já figura como um dos grandes referenciais da fotografia contemporânea no Brasil.
A cobertura do 11º Paraty em Foco
é do Oitenta Mundos