9 mulheres: identidades e diversidade na fotografia brasileira

Texto da exposição ID — Retrato contemporâneo do 11ºParaty em Foco

Estúdio Madalena
Blog do 11º Paraty em Foco

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por Adriano Casanova

A exposição ID — Retrato contemporâneo com curadoria de Adriano Casanova e obras de Claudia Andujar, Claudia Jaguaribe, Cris Bierrenbach, Flávia Junqueira, Lenora de Barros, Lia Chaia, Rochelle Costi, Sara Não Tem Nome e Sofia Borges estará aberta a visitação de 23 de setembro a 11 de outubro, na Casa da Cultura em Paraty.

Se em “Marcados” de Claudia Andujar a força da poética é moldada na luta contra a opressão de um velho mundo carregado de preconceitos e generais, percorremos uma enorme diversidade artística até chegar a Sara Não Tem Nome, que, na obra “Sara veste mesa sobre cadeira”, formata uma nova negociação na busca pela identidade e na afirmação de gênero. Formas diferentes de afirmação por sobrevivência em um mundo agora globalizado, ainda que patriarcal.

A exposição “ID — Retrato Contemporâneo por Artistas Brasileiras” apresenta trabalhos de nove artistas brasileiras produzidos nos últimos anos. As obras investigam diferentes linguagens na criação do retrato na fotografia contemporânea e trabalham temas como registro, identidade e ficção — linhas condutoras dos trabalhos que também propõem posicionamentos políticos e estéticos ao juntar artistas mulheres brasileiras de diferente gerações.

Rochelle Costi

As obras das jovens artistas, representadas por Flávia Junqueira, Sara Não Tem Nome e Sofia Borges, criam um paralelo às das artistas com mais tempo de produção consagradas, como Claudia Andujar, Claudia Jaguaribe, Lenora de Barros, Chris Birrenbach, Lia Chaia e Rochelle Costi, e geram um diálogo que retrata uma diversidade de propostas na fotografia contemporânea brasileira.

Claudia Andujar e Lenora de Barros, nos trabalhos “Marcados” e “Procuro-me”, fazem uma análise política partindo de um momento histórico e de uma determinada situação social. Andujar apresenta uma série de imagens feitas de uma tribo na Amazônia na qual índios fotografados são identificados por números que substituem suas identidades criando uma rede de tensão social em imagens que possuem uma força emblemática. De Barros, por sua vez, usa seu próprio rosto como personagem principal do trabalho. Ela questiona sua identidade por meio de diferentes personas criadas para “Procuro-me” num formato de anúncio policial.

Lenora de Barros

Claudia Jaguaribe e Rochelle Costi apresentam o retrato por um viés teatral e surrealista nas séries “Retratos anônimos” e “Passageiros”. Jaguaribe usa a sobreposição de imagens para criar pessoas a partir de diferentes identidades. Combinando rostos, ela cria uma outra persona, muitas vezes indecifrável pela atmosfera teatral e dramática marcada pelo uso da luz nas fotografias. Costi cria intervenções em imagens antigas apropriadas. Em “Passageiros”, histórias de vida de pessoas fictícias são criadas pela artista, em que coloca paralelamente com intervenções com elementos da natureza sobre fotos PB em uma sequência de fantasias e ficção.

Junqueira, Não Tem Nome e Borges propõem um ponto principal em suas produções que são pensamentos que abordam a criação de novas realidades para o registro do “self” com ou sem identidade. Borges e Não Tem Nome criam uma atmosfera cinematográfica para suas ações cotidianas, não ensaiadas. Já Junqueira, em “A criança e sua família”, se apropria de imagens compradas em um parque de diversões e as descontextualiza através de novos códigos para cenas do cotidiano registradas pela memória afetiva dos personagens retratados, dialogando diretamente com o trabalho de Rochelle.

Chris Birrenbach

Por fim, Lia Chaia e Chris Birrenbach propõem um jogo de ações. Chaia registra em “Amigos animais” sua presença com diferentes esculturas de animais em porcelana que encontra pela cidade, dando vida para objetos inanimados e usando a arte e a fotografia como uma ferramenta viva. Bierrenbach se mutila, cria diferentes personagens em que é autorretratada e depois atira com uma arma em seu rosto impresso no papel, rasgando-o com violência para um bloqueio e anulação destas identidades criadas.

Em todas as obras da exposição este retrato nonsense de um diálogo destas mulheres consigo mesmas — e muitas vezes com a câmera fotográfica — propõe uma problemática presente na produção artista de hoje: como decifrar o imaginário artístico feminino atual em meio a tantos registros banais já pré-produzidos?

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A edição do blog do 11º Paraty em Foco
é de Érico Elias e do
Oitenta Mundos

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