Cidade dos Festivais
Entrevista com Cristina Maseda, Secretária de Cultura de Paraty
Por Julio Boaventura Jr e Manuela Rodrigues
Conversamos com a Secretária de Cultura de Paraty, Cristina Maseda sobre a importância do calendário festivo, o impacto das ações promovidas pelos eventos e a receptividade da população local, os projetos de formação e educação cultural e artísticas que a Secretaria vem desenvolvendo, além da revitalização de novos espaços culturais na cidade e a exposição Gente Daqui, que será exibida durante o 11ºParaty em Foco.
Podemos dizer que Paraty já se consolidou como a cidade dos Festivais. Como a secretaria avalia o impacto desses eventos na região?
Paraty tem uma tradição histórica de festas como Carnaval, Festa do Divino, São Pedro, etc. E como resultado disso surgiram os primeiros eventos culturais como mostras de artistas plásticos, encontro de ceramistas, entre outros, isso já no final dos anos 70 início dos 80.
E a partir de 2003, a chegada da FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) mudou completamente a dinâmica da cidade, acelerando a roda do desenvolvimento baseado nos eventos. Depois vieram outros grandes eventos como Paraty em Foco (2005), o festival de jazz, Bourbon Festival (2009) e o MIMO que teve a primeira edição realizada na cidade em 2013. Estes festivais são pontos altos durante o ano na cidade e muito importantes tanto do ponto de vista cultural, como turístico e econômico.
Esses eventos geralmente oferecem atividades culturais e de formação, voltadas para a população local. Já é possível notar alguns resultados dessas ações?
Há um esforço constante da secretaria para integrar as pessoas da cidade a esses eventos e movimentos culturais que repercutem a partir dos Festivais e Festas que acontecem em Paraty. Logicamente não é um processo que se dá espontaneamente com muito sucesso, é muito mais um movimento de construção. E como toda construção demanda tempo para poder colher os resultados.
Mas já é possível citar, por exemplo, o impacto positivo das ações da FLIP quando fizemos uma verificação recente e o número de livros por habitante da cidade já atingiu a meta estabelecida pela Unesco (2 livros por habitante). O Paraty em Foco contribuiu para que alguns jovens fotógrafos começassem a se destacar, e permitir que a fotografia se torne mais presente no cotidiano de algumas escolas com a realização de concursos de fotografia e outras atividades que vão surgindo em decorrência do festival. Hoje também temos uma escola de música que está indo muito bem na Casa da Cultura e que se volta muito para o Festival de Jazz e para o MIMO.
Assim, a cada ano agente alcança um passo a mais, e seguimos nessa construção porque acreditamos que a interseção entre cultura e educação é fundamental pra conseguir de fato que esses eventos tragam impacto cultural para a cidade.
Outro ponto que contribuiu para o desdobramento dessas ações foi a revitalização de espaços culturais como a Casa da Cultura e o Cinema antigo. Quais atividades e programas estão sendo desenvolvidos atualmente nesses locais?
O principal braço executor da Secretaria de Cultura hoje é a Casa da Cultura, que existe desde 2004, mas passou a ser mais ativa após a revitalização de 2013. A partir dessa data começou a ter um calendário de exposições de longa e curta duração, foi implantada uma convocatória para receber trabalhos de artistas de todo o país. E além disso, abriga as escolas de arte e de música que oferece formação a públicos de todas as faixas etárias (crianças, jovens e adultos).
Já o prédio que abrigava o cinema foi comprado pela prefeitura em 2010, mas pouco usado desde então, até que fechou completamente. Quando eu assumi a Secretaria no ano passado, uma das primeiras ações foi fazer uma vistoria técnica pra saber quais as condições do local e cumprir as exigências para a reabertura.
Depois desse processo ele se transformou em um espaço experimental de cultura, está sendo utilizado por alguns coletivos e projetos como o Grupo Aplauso. Esse ano o Paraty em Foco vai ocupar o espaço pela primeira vez com oficinas, e outros festivais também devem utilizar até o fim do ano.
Além disso, a Secretaria também está trabalhando com um projeto definitivo de reforma desse espaço para o futuro, e participando de processos de captação para viabilizar mais equipamentos públicos permanentes, como a Casa da Música e a Biblioteca Pública Municipal.
E para o 11º Paraty em Foco, estão provendo alguma ação específica?
Estamos fazendo junto com a Galeria Zoom, com curadoria de Giancarlo Mecarelli a exposição Gente Daqui, que irá retratar sete moradores antigos dos bairros de Ilha das Cobras e Mangueira com uma ocupação a céu aberto, em um espaço público com grande circulação de pedestres. Será uma bela homenagem aos moradores e a população local.
A edição do blog do 11º Paraty em Foco
é de Érico Elias e do Oitenta Mundos
