Festival de selfies
Noite de abertura do 11º Paraty em Foco
Por Julio Boaventura Jr e Manuela Rodrigues
A programação do 11º Paraty em Foco começou antes da primeira atração internacional subir ao palco com a inauguração da exposição "Gente Daqui" em um espaço público da cidade. A iniciativa fruto da parceria entre a Secretaria de Cultura e a Galeria Zoom, trouxe o seu Dito (Benedito), um dos personagens retratados para receber os convidados de mais uma edição do festival com seu pandeiro e sua ciranda.
Antes de Iatã Cannabrava iniciar o discurso de abertura, a vinheta escolhida em uma convocatória aberta, já confirmava que esse será de fato um #festivaldeselfies. E para reforçar a mensagem o diretor do festival pede mãos para o alto e luz na platéia para fazer sua selfie ao vivo no palco.
Mais do que selfies, o festival esse ano propõe reflexões mais profundas sobre o tema da Representação e Autorrepresentação na era dos dispositivos, e para isso traz uma programação extensa de encontros, entrevistas, exposições e atividades extras. Além de um consistente programa de formação que conta com 700 vagas, entre as quais 220 bolsas integrais, distribuídas em 30 workshops.
"O melhor caminho seria não divagar ou brincar sobre novidades que ainda não tiveram seu tempo histórico de maturação, e sim discutir a representação e autorrepresentação. Afinal de contas, selfies e imagens de Instagram já foram chamados de retratos e autorretratos, já foram até mesmos chamadas de fotografias." Iatã Cannabrava
Quando a tão aguardada atração sobe ao palco junto com o entrevistador Eduardo Muylaert, quem esperava um rockstar se deparou com a figura simples, mas nem por isso menos intensa, de Antoine D'Agata, que em uma de suas primeiras falas diz que "continuo a fotografar para compreender o que é estar vivo."
Para que o público pudesse de fato compreender um pouco mais de sua obra-vida (conceitos para ele indissociáveis), apresentou um pequeno vídeo com uma compilação de seus trabalhos. E pela tensão e silêncio que provocou na platéia, ficou fácil entender porque a fotografia é tão vital para D'Agata.
"A fotografia como outras linguagens nos permitem ir mais longe, e por isso não podemos renunciar a arte. Por isso acredito que estamos condenados a esse espaço impossível entre a vida e a arte." Antoine D’Agata
Ao falar mais sobre seu processo, D'Agata subverte a visão inicial de herói destemido que muitos fazem dele, ao deixar claro que o medo é seu maior impulso.
"As pessoas acham que eu fotografo aquilo que me interessa, mas não, eu fotografo o que me dá medo, o que me perturba profundamente." Antoine D’Agata
Em relação aos temas e sujeitos que retrata, disse que precisou trabalhar muito a dissolução dos muros que os separava deles. Precisou "ter hábitos tão ruins quanto o deles" para que isso gerasse uma proximidade natural, uma relação entre iguais que se respeitam mutuamente, e que principalmente a câmera já não fosse mais uma barreira.
"Minha única regra é nunca olhar com condescendência as pessoas que fotografo, nunca fotografei ninguém que eu não respeitasse. Fotografia é um ato de amor, de desejo, e eu os vejo como pessoas que me foram destinadas." Antoine D’Agata
Quando Muylaert fala se sua extensa e reconhecida produção fotográfica, com vários livros publicados, o convidado mais uma vez reforça sua necessidade de transpor limites, sobretudo os do próprio mundo fotográfico. Já que tudo o que traz conforto para ele, acaba por anestesiá-lo.
Já na parte final da entrevista, em resposta a uma das perguntas do público sintetiza o papel que a fotografia desempenha em sua vida, ou talvez o papel que a vida desempenha em sua fotografia.
"A fotografia não resolve o destino de ninguém,
é só um meio de sentir mais, viver mais.
É a única função que eu atribuo a ela." Antoine D’Agata
E para encerrar a noite voltamos a ciranda, a dança e a música que reuniu os convidados na grama do príncipe herdeiro, para celebrar o início de um majestoso Paraty em Foco.
A cobertura do 11º Paraty em Foco
é do Oitenta Mundos