Gregoire Korganow

Conversamos com o fotógrafo francês que irá realizar o workshop Construindo uma Visão Pessoal no 11º Paraty em Foco.

Estúdio Madalena
Blog do 11º Paraty em Foco

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Por Julio Boaventura Jr e Manuela Rodrigues

Gregoire Korganow realizará o workshop
Construindo uma Visão Pessoal
no dia 24 de setembro durante o 11º Paraty em Foco.
Inscreva-se já!

Nesse bate-papo o fotógrafo francês nos contou como foi seu primeiro contato com a fotografia, o processo de sua série premiada Prisions, seu conselho como professor aos jovens fotógrafos e o qual a mensagem que pretende passar no workshop que vai realizar em Paraty.

Qual foi seu primeiro contato com uma câmera, e por que escolheu ser fotógrafo?

Quando criança, fiz uma viagem de férias ao estrangeiro com minha mãe. Ela tinha uma câmera grande e antiga. Ela pediu minha ajuda e passei a carregar o equipamento. E foi assim que comecei a fazer minhas primeiras fotos. Alguns anos mais tarde, meu pai me ofereceu uma velha Rolleiflex que ele havia comprado de segunda mão.

Prisions

Em 1990, aos 22 anos de idade, sai da França com a minha Rolleiflex, e viajei para a Rússia. Desde que descobri o país de minhas origens (o meu avô emigrou para França de São-Petesburgo), descobri também a fotografia. Quando eu voltei para a França com as imagens, recebi o convite para minha primeira exposição.

Pode falar um pouco sobre o processo de uma de suas últimas séries, Prisions?

Em 2005 e 2006, eu acompanhei as famílias dos detentos da prisão de Rennes, e suas vidas colocadas em espera. Fotografei-os durante seus processos penais, durante as visitas íntimas e durante seu movimento para ficar mais próximos do local da prisão. Eu registrei a intimidade, a solidão, a vida na sombra da prisão.

A partir de 2011, como passei a ser um inspetor das prisões francesas [Contrôleur des lieux de privação de Liberté], tenho direito acessar o coração do confinamento, de ficar dentro dos muros. Já visitei cerca de vinte presídios, ficando em cada um de cinco a dez dias. Eu posso fotografar tudo; o interior das celas, o pátio de exercício, a sala de visitas, os chuveiros, o ‘‘refrigerador’’ (solitária)… dia e noite. Tenho acesso a todas as áreas.

Prisions

Longe da vista do público, as prisões são rodeadas de fantasia, mas não há nada de espetacular sobre a realidade que eu experimentei lá. É certo que, a violência é perpetrada nos cantos escuros e no pátio mas o que realmente transforma o ordinário em um pesadelo e cria o inferno da prisão são os vários e repetidos atos de tratamento degradante. É esta proximidade do encarceramento que eu estou tentando captar pelas cores, de perto e pessoalmente, sem efeitos colaterais.

Prisions

Não estou tentando retratar uma ação ou uma anedota. Eu capturo o inefável, o tempo parado, a vida encolhendo, desaparecendo. Eu não mostro rostos. Não conto histórias. Foco na percepção física da prisão.

Eu tenho de lidar com o tratamento de indivíduos e sua integridade. Eu olho para o que as espacialidades, a circulação, a postura e os aspectos físicos revelam sobre a condição de confinamento hoje. Analiso os gestos repetidos criados em tais locais sem perspectiva. Contemplo com pavor as características físicas da ociosidade, do desespero e da resignação.

Já que também produz alguns filmes, como vê a proximidade entre ambas as linguagens (fotografia e cinema)?

Off the stage

Eu sou um entusiasta do cinema e contribuí para alguns projetos de documentários como fotógrafo. As novas câmaras oferecem hoje a possibilidade de utilizar a mesma ferramenta para fotografar e filmar. Com isso o salto da imagem imóvel para as imagens em movimento fica mais fácil. Mas com a filmagem, eu aprendi uma forma totalmente nova de escrever minhas histórias, o que é muito interessante.

A intuição de um fotógrafo desenvolvida com a experimentação do trabalho faz com que seja fácil se aproximar da filmagem. No entanto, a filmagem continua e continuará a ser um meio totalmente diferente para falar sobre o mundo. Envolve movimento, som, montagem, etc.

Como professor, qual acha ser a maior dificuldade dos jovens fotógrafos e qual é o seu conselho?

O difícil é o que eu chamo de “distância”. A técnica hoje é mais fácil de aprender, mas com só com a experimentação vem a distância certa do assunto. E essa distância também está dando o significado. Então o meu conselho seria o de ser bem claro com as motivações e as questões das histórias que você quer contar.

Father and son

Sobre o workshop que vai apresentar no festival, qual é a mensagem principal que quer passar aos participantes?

Gostaria de acompanhar os participantes no desenvolvimento de sua própria escrita, e ajudá-los a compreender que o que é interessante não é somente o assunto em si, mas também a forma como se olha para ele.

Vai ficar de fora dessa experiência?
Inscreva-se já, as vagas são limitadas.

A edição do blog do 11º Paraty em Foco
é de Érico Elias e do
Oitenta Mundos .

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