Construindo e Desconstruindo
Nascida no Rio de Janeiro, criada em Duque de Caxias, a louca da tecnologia e dos signos (Gêmeos melhor signo!), com o sonho de criar um robô panda, curiosa toda vida, ri até pro vento, fala muito, fala alto, gosta de estudar (É sério!), viciada em TED, séries e músicas, tem um sobrenome esquisito mas todo mundo costuma achar que é “da hora” . Sempre chega atrasada nos lugares, acha que pode consertar tudo…. não gosta de lavar louça, não sabe cozinhar muito bem, enfim… meu perfil do Tinder já está pronto!
Brincadeiras à parte, demorei um pouco para escrever este texto. Resgatei lembranças maravilhosas e outras nem tanto, mas que valem a pena compartilhar…. Outro dia me perguntaram: “Ana, você se envolve em muita coisa, como dá conta?” E eu respondi o seguinte: “Eu não dou conta sozinha não, tenho sorte de sempre encontrar pessoas tão malucas quanto eu, fora que tenho uma mãe que é SENSACIONAL. Ela não entende metade do que faço mas está sempre do meu lado, ela torce como se eu fosse algum time de futebol.”
Na infância e adolescência, sempre me voluntariava para participar de projetos em orfanatos. A minha avó era diretora de uma escola, então ela costumava visitar orfanatos para dar aula, levar presentes ou até se vestir de mamãe noel, e eu sempre ia junto, era divertido. Sempre gostei desse contato com pessoas.
Voltando ao colégio, no meu segundo ano, decidi fazer técnico em informática e um curso de computação gráfica. O que aprendi misturando isso? Primeiro: não tinha nascido para desenhar no illustrator; segundo: eu realmente gostava de programar; terceiro: também gostava de juntar pessoas diferentes para criar algo e lançar para o mundo.
Bem, decidi cursar e escolhi fazer Computação. Algumas pessoas falavam que era “curso para nerds” e que “pessoas de computação conversam com os computadores”, mas, pessoalmente, nunca achei isso. Nunca gostei de rótulos. Consegui passar para a minha primeira faculdade, o Instituto Superior de Tecnologia de Petrópolis (hoje, FAETERJ-Petropolis), e lá comecei a colocar em prática algumas ideias e tive experiências importantes, como meu primeiro contato com pesquisa e com o open source. Na FAETERJ, comecei a mergulhar no mundo do open source, conheci pessoas extremamente importantes e participei da equipe de robótica, algo que sempre quis.
No meu segundo período, fui selecionada para fazer um estágio em um colégio da zona sul. Esse estágio começou em 2014, e eu sequer sabia andar pela zona sul. Na verdade, eu nunca havia saído anteriormente da baixada sozinha.
Quando passei para Petrópolis, fiquei feliz de ter a oportunidade de conhecer outro lugar, mas… zona sul? Jardim Botânico? Mesmo receosa, fui. Me perdi demais, peguei ônibus errado, pela primeira vez usei o metrô! Mesmo assim, para mim estava ótimo. Eu adorava tanto as novidades que nem sentia meu corpo pedindo ajuda. Como funcionava meu dia: Acordar às 3h, pegar o ônibus de 5h30 de Petrópolis; às 11h, eu subia no ônibus para o Rio, descia na rodoviária do Rio para pegar o antigo 173 para chegar ao Colégio Educacional da Lagoa, almoçava no ônibus, escovava os dentes dentro ônibus, estudava dentro do ônibus, dormia dentro dele também… Basicamente, eu morava no ônibus.
No meio disso tudo, apareceu a oportunidade de dar aulas de programação para crianças. Eram 6 alunos, duas horas na semana. O projeto que pensei e criei fez sucesso. Montamos um jogo com os elementos da natureza, e então decidi transformar disso uma profissão. Queria continuar me divertindo com isso, e não queria fazer disso uma rotina chata.
No fim daquele ano maravilhoso de muito aprendizado, meu corpo começou a pedir socorro. Entre exames, o médico disse que, por muita sorte, eu não tinha desencadeado algo sério. A partir desse acontecimento, comecei a cuidar mais da saúde, e então tive que pensar em transferir a faculdade. Fui para a PUC-Rio e precisei deixar minha equipe de robótica, meus amigos e projetos.
Cheguei à PUC, e, no meu primeiro período, participei da criação do Bússola. A Bússola é um projeto de ajuda aos alunos vestibulandos na escolha do curso. Era de aluno para aluno. Já visitamos três diferentes escolas, e conversamos com mais de 400 alunos. Percebi, dentro desse projeto, que já estava praticando as ideias do open source fora do mundo digital. O princípio do open source é criar o código, levá-lo para a rede e esperar que, a partir disso, venham mais pessoas contribuir e criar. Com o Bússola, estávamos fazendo isso no mundo real. Compartilhar conhecimento e possibilitar que o aluno crie, formule e compartilhe de alguma forma. Nós esperamos que a nossa conversa com os alunos sejam passadas para frente por eles, para que o ciclo nunca se acabe.
Voltando ao projeto de programação, meus alunos pareciam desanimados, alegando que o que estávamos aprendendo era “muito fácil”. A partir desse comentário, pude utilizar minhas férias para entrar em uma imersão de como mudar. Lembrei de quantos relógios, controles de televisão e minigames destruí para montar algo, quantas gambiarras fiz nos meus celulares, quantos carrinhos do meu irmão roubei os motores… Entendi que essa era a cultura maker que eu precisava levar para os meus alunos. Quanto lixo eletrônico existe no mundo? E podemos dar um outro significado e finalidade? Os alunos, os pais e os professores abraçaram a ideia, e, desde então, criamos um robô psicóloga, um drone, um braço robótico, etc.
Percebi que o open source sempre esteve comigo, só não conhecia esse nome bonitinho.
Passei a conhecer melhor o RJ, conhecer pessoas e suas histórias incriveis, além de projetos maravilhosos. Uma dessas pessoas foi o Professor Francis Berenger, que me chamou para participar e ajudar a colocar em prática uma hackathon feminina. Esse chamado foi muito impactante, pois, ao trazer memórias do passado, lembro que nenhuma menina do meu técnico seguiu carreira em computação, e, na FAETERJ, eram somente quatro meninas. Inclusive, já ouvi a frase “Você vai seguir uma profissão de homem?”. Como nunca concordei com “profissão de homem e de mulher”, tomei esse projeto como oportunidade de mostrar isso! E assim conheci as meninas do Pyladies, a comunidade Python Rio, Django Girls, Code Girls, etc. A hackathon feminina será no início de setembro!
A minha maior experiência na área de computação foi ter participado da organização da Lua Conf, linguagem que foi criada na PUC-Rio, mas não havia tido nenhuma conferencia no país. Os organizadores masters foram ex-alunos da PUC, Etiene Dalcol, do Rio e Evandro Gonçalves, do Rio Grande do Sul. O Arquiteto principal da linguagem foi o pesquisador e professor Roberto Ierusalimschy.
Nessa onda de programar, de compartilhar, de conversas no ônibus… entrei de cabeça no python, essa linguagem de programação que tem a cara do open source. O aprendizado está sendo enorme, então queria dedicar este parágrafo para comunidade do python, as “pyladies” e os “pyboys”, pelo comprometimento. Na nossa comunidade não há diferenças. Se você entra lá sem saber programar, vai sair sabendo. Não há julgamentos, o único requerimento é a disposição a aprender! (Em breve teremos o Pyladies PUC também…)
Também é preciso ressaltar o Olabi, pois estou apaixonada pelo lugar e pelas pessoas. Quando visitei pela primeira vez, não quis mais sair. O Rio de Janeiro precisa de um lugar assim. O primeiro fab lab criado no MIT foi quando eu tinha 6 anos, e já naquela época, eu estava brincando de reutilizar peças eletrônicas para criar coisas novas. O meu presente se parece demais com o meu passado. É difícil explicar, mas gosto muido de como está.
Alguns sonhos…
Que os projetos dêem certo e que mais crianças sejam alcançadas.
Que o Pyladies PUC ajude as meninas a terem orgulho de cursar engenharia, ciência da computação, e que paremos de ouvir que estamos em uma profissão de homens.
Quero conhecer e ajudar negros na tecnologia, dar voz para eles.
Quero continuar tramando com os malucos do Trama!
Continuar “makeando” com a galera do olabi.
Continuar brincando de ser professora e ajudar na mudança que o Brasil precisa.
Quero que o Bussola vá para outras universidades.
Dormir 8 horas(só consigo 6);
Queria deixar um recado para o pessoal da baixada: Eu não sabia andar de metrô, não conhecia metade do Rio, nunca tinha ido à PUC, sofri preconceito com olhares tortos, e continuo recebendo estes olhares, mas, ó, de alguma forma vão ter que aceitar a negra favelada aqui na tecnologia sim! Então, quando pensarem em desistir ou acharem que são pequenos demais lembrem-se: “A perserverança é a mãe da boa sorte.”
Obrigada pelo espaço meus amores, falei bem pouquinho né!
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Esse texto foi criado por Ana Carolina da Hora, parceira do Coletivo Trama.
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