Volando Voy

Coletivo Trama
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6 min readAug 31, 2016

Olá! Sou Federica, nasci na Italia, em Bologna, e desde muito pequena sentia dentro de mim uma vontade imensurável de viajar e conhecer o mundo.

Os meus pais alimentaram a minha experiência em viagens, passávamos boas temporadas conhecendo o meu país, o Leste europeu, as praias e os parques naturais da Croácia, Hungria, Slovenia, Bulgária, e também o ocidente do continente, as Alpes da França, Áustria, a natureza e cultura da Espanha, Alemanha, Suíça.

Quando voltava para casa, sentia saudade e já sonhava com a próxima viagem. Mas a minha cidade também foi muito importante para o que sou hoje. Bologna é conhecida por ser o berço da cultura, porque a primeira Universidade nasceu ali, em 1088, a Alma Mater Studiorum. Filósofos, escritores, cientistas, intelectuais e poetas importantes como Dante Alighieri, Giosué Carducci, Francesco Petrarca, Erasmo da Rotterdam, Pier Paolo Pasolini e muitos outros estudaram ali.

É uma cidade cheia de jovens que vem para estudar e curtir a energia alternativa e underground. Assim, cresci nesse clima de agitação cultural e desde jovem cultivei interesse nos movimentos sociais, nas manifestações, nos pensamentos críticos ao sistema no qual vivemos. A minha escolha de universidade dependeu também do meu sonho de viajar, dos meus pensamentos críticos e dos movimentos sociais nos quais estava dentro.

Me formei em Relações Internacionais, sempre pensando que, graças a isso, poderia viajar, conhecer o mundo todo e expressar a minha opinião. Aos 19 anos, no segundo ano de universidade, tive a oportunidade de ir estudar e morar em Barcelona, graças a uma bolsa de estudo (Erasmus). A bolsa era de 1 ano, mas acabei morando 3! Conheci pessoas de toda parte, e comecei a conhecer melhor a Europa, indo visitar meus amigos, e isso reproduzia sempre mais forte o meu desejo de me mover. Sempre que tinha possibilidade, viajava, sozinha ou com amigos.

Berlim, 2011.

Depois de ir embora de Barcelona, decidi passar uma temporada em Berlin, sempre me inspirou e sentia que ali teria podido viver uma experiência interessante. Morei la 3 intensos meses, depois do qual decidi voltar para minha terra, em Bologna, e acabar a universidade. Vivi um ano incrível, perto da família e meus íntimos amigos, estudando e me apaixonando pela minha cidade.

Mas o meu sentimento de explorar o mundo era irresistível, e as Américas me estavam chamando desde um tempo já.

Assim, decidi que essa era o momento. Carpe diem. Já escutava adultos, jovens de 30 anos, todo tipo de pessoa me dizer: “Queria muito viajar pelo mundo, mas depois de estudar comecei um mestrado, depois de estudar comecei estagiar, depois de estudar casei, tive um filho, e comecei trabalhar…etc”.

Esses tipos de frases me convenceram que era AGORA o momento. Tinha que viver o presente, não podia pensar na minha vida sem escutar os meus sonhos, mas somente pensando ao futuro, a carreira, enquanto me arrependia do passado. Não, o presente é tudo, e nós não sabemos o futuro. Claro, podemos planejar e esperar, e não podemos viver somente das lembranças do passado.O presente para mim agora era tudo o que tinha e do qual tinha certeza.

Então, decidi partir. 2 meses depois de ter acabado a graduação. Em 29 de janeiro 2013, fui para Frankfurt para encontrar uma grande amiga francesa, Melon, com a qual teria ido a Cancún, México. Comprei a passagem só de ida.

Entre preocupações de familiares, despedidas com os amigos, eu sabia que todos acreditavam em mim, que no fundo todos sabiam que isso era o certo para mim nesse momento. Não tinha planejado quase nada, somente um trabalho com a minha amiga em uma ONG na Guatemala, com mulheres indígenas locais. Não tinha medo, mas muita excitação pela nova descoberta e fase da minha vida. Decidi não levar celular ou dinheiro, mas sim malabares, cores, instrumentos musicais e uma câmera fotográfica.

Chegamos. Desde o inverno gélido da Europa, ao calor caribenho, em 10 horas de viagem.

O mundo, mesmo com muitos problemas e questões graves a serem resolvidas, nos oferece infinitas oportunidades, como essa. Viajar. Foi uma experiência incrivelmente surreal e enriquecedora.

Viajei por México e Guatemala com Melon, e depois decidi de continuar a viagem sozinha, não podia parar, queria chegar até Panamá. Entre caronas e ônibus, trabalhando com os meus malabares e um didjeridu que tinha encontrado na Guatemala. Viajei por El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá. Cheguei no Panamá, e a vontade de conhecer a América do Sul me superava.

Encontrei uma amiga venezuelana, Karen, no Equador e começamos viajar por eco-vilas, e assim entrei no mundo da permacultura, da sustentabilidade, de um estilo de vida saudável e orgânico.

Descobri que a frase que levava sempre dentro de mim, “outro mundo é possível”, era realizável.

Viajei pelo Equador, Peru, entrei na Amazona e fiquei 4 meses conhecendo este mundo. E assim entrei no Brasil, por Tabatinga. Fui até Para, Maranhão, e cheguei na Bahia. Ali, depois de mais de um ano viajando, me apaixonei por uma pessoa muito especial, carioca, que me levou com muito amor até onde estou agora.

Rio de Janeiro.

Quando pensei que fosse o momento para voltar para Itália, fechando o ciclo da viagem, depois de um ano e meio viajando, conversei muito com os meus pais e amigos, e decidi escrever um livro.

Depois de 4 meses na Itália, voltei para o Rio, ainda digerindo essa grande experiência.

Conheci a realidade das favelas, e comecei a fazer parte da ONG Favela Verde, que atua na Rocinha, com projetos socioambientais e participação social dos moradores. Nos ocupamos de sustentabilidade, como ecoturismo de base comunitária (Caminhos do Lagarto), hortas comunitárias, permacultura, educação ambiental.

Hoje é isso o que faço, me dedico ao desenvolvimento do Favela Verde, num grupo de mais ou menos 10 pessoas, de forma horizontal e colaborativa, realizando sonhos. Encontrei o meu lugar nessa cidade, ainda hoje estou descobrindo e me adaptando a esse mundo tão diferente, mas sou otimista!

Enquanto isso, a ideia do livro virou realidade. O titulo é Volando Voy, também tem a pagina no Facebook:

https://www.facebook.com/volando.voy.volando.voy/?fref=ts.

Estou quase acabando de escrever e hoje o meu desafio é publicá-lo, para poder compartilhar esta experiência e sonho realizado de liberdade e pureza. O nome, inspirado a uma musica de Camaron de la Isla, exprime, desde o meu ponto de vista, como se sente uma pessoa viajando. É como voar, de um lugar para outro, livres. Nós viajantes somos amantes da vida, encontramos soluções aos problemas, sem perder confiança com o Universo e conosco mesmo.

Ninguém sabe o mistério da vida, ninguém tem certezas absolutas, e muitas pessoas passam a vida tentando responder a essas perguntas, gerando medo e insegurança, complicando a simplicidade da vida.

O que diferencia um viajante é que nós não pretendemos responder a todas essas perguntas que não têm resposta. O que importa é viver, ser livre, voar, sem entrar no medo ou ansiedade, mas sim sendo conscientes que os problemas podem ter soluções, tentando viver a vida com mais leveza.

Para isso, serve muito amor. O amor é a base de tudo!

Evento #acaixinhaquequeremos, na Rocinha.

Esse texto foi criado por Federica Polazzi, parceira do Coletivo Trama.

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