Leminiskata

Heloisa Pait
Revista Pasmas
Published in
2 min readApr 20, 2020

Poema de Felipe de Holanda, nosso Homem do Mês, direto de São Luís do Maranhão, às voltas com o infinito…

Narrava Maria Tereza
minha amiga querida
sua terapia na atual pandemia,
expunha ela o seu método,
seu treino e relaxamento:
que desenhar a Leminiskata
o símbolo do infinto
é algo de mais vário
e complexo que se pensa

O solitário menino
Pontinho semovente
traçando, distraido
ampla Leminiskata
na praia imensa,
faz questão
de tangenciar a minha
rota, ainda que meio
de longe, por causa
do medo da doença

Estarmos quase sempre
desatentos,
como disse o
mais que poeta,
o sensei,
o des(re)construtor
de palavras & sentidos
tudo de novo vira começo:
Lemninsk(ata)


O tímido quase sussurrado
“oi”, do menino,
nítido, como se do fundo
de um poço,
seu sorriso sutil,
ao não esperar pela resposta,
apenas uma pequena contenteza, de ter se comunicado
com outro ser humano

Desenhá-las
no mínimo durante
uma hora por dia,
assim como estar lá
para ver onde o sol nasce
todos os dias de um ano:
etapas de um rigoroso
treinamento
físico, mental &
estético & filosofal

Na imensidão da praia deserta,
apenas eu, o menino
e os pássaros acima
do mar;
eu e aquela outra pessoa,
movendo-nos,
insulares,
singrando nas amplas curvas
de nossas tristes Leminiskatas


O mito do eterno retorno
somente na forma
se parece à Leminiskata
isso é mais que imprevisível
mas também é o que deixa
a vida trágica
& intensa & bela:
cada volta na grande Leminiskata, y ela se torna mais ampla
e sulcada de milcolores

Que novos caminhos trilharemos,
eu e aquele
solitário menino,
cada um em sua existência
imparalela,
até que,
volteando nas curvas
Leminiskáticas da vida,
Uma vez mais nos tangenciemos
em uma praia, mesmo que apenas
com um pequeno aceno
ou sorriso?

aprimora não apenas
a destreza
para desenhar
novas, mais perfeitas
e mais belas
Leminiskatas

Felipe de Holanda, SLZ, 14/04/2020.

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Heloisa Pait
Revista Pasmas

Professora de sociologia, pesquisa o papel dos meios de comunicação na construção da esfera pública. Publicou contos em revistas brasileiras e americanas.