O risco da desinformação em tempos de pandemia

Professora escreve sobre o projeto Coronavírus em Xeque, uma iniciativa dos pesquisadores do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Pernambuco.

Cecília Lima
Revista Pasmas
3 min readApr 20, 2020

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Por Cecília Almeida*

Projeto da UFPE investe em conteúdos de áudio para alertar a população sobre os riscos das fake news

Todos os dias, aprendemos algo novo sobre o Covid-19 e suas maneiras de se manifestar em diferentes organismos e regiões. Nesse contexto de pandemia, estamos tendo a oportunidade de acompanhar a ciência sendo feita em tempo real — o que envolve tentativa e erro. As perguntas são muitas e, naturalmente, o pânico tende a se alastrar na mesma velocidade que o vírus.

Desde que a doença começou a se espalhar pelo mundo, tenho lido uma infinidade de informações, por vezes contraditórias, o que de certa forma faz parte do vai-e-vem do processo científico. Mas, em meio a isso, também reparamos num grande conjunto de informações circulando rapidamente, sem nenhum respaldo científico, baseadas em achismos ou completamente fabricadas para enganar as pessoas. A indústria da desinformação (responsável pelas tais fake news) está atuando de forma rápida, seja por motivação política, para acirrar a disputa ideológica; seja para tirar proveito de pessoas fragilizadas em um momento de ansiedade generalizada. Temos visto de tudo: desde a minimização dos efeitos do vírus (“é só uma gripe!”) até receitas milagrosas para combatê-lo e golpes para tirar dinheiro daqueles que têm direito a receber auxílios do governo.

Sou professora do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Pernambuco e desde o dia 16 de março as aulas foram suspensas, em razão do vírus. Mas isso não quer dizer que estamos sem atividade. O contexto de pandemia convocou todos os departamentos a buscarem ações de combate na forma de projetos de pesquisa e extensão.

A necessidade de criar mecanismos para alertar e orientar a população em relação às informações que estão recebendo nesse período motivou o Programa de Pós-Graduação em Comunicação, em articulação com o Observatório de Mídia da Universidade Federal de Pernambuco e com a Rádio Paulo Freire (nossa rádio-escola), a criar o Coronavírus Em Xeque. O projeto de pesquisa/extensão foi articulado pelos professores Thiago Soares (PPGCOM-UFPE), Yvana Fechine (PPGCOM-UFPE, minha eterna orientadora), Ana Veloso (OBMÍDIA-UFPE) e Soraya Barreto (OBMÍDIA-UFPE), com o objetivo de produzir conteúdos para diversas plataformas, com o intuito de desmentir boatos, analisar a circulação de conteúdos falsos e também as suas estratégias de convencimento. Também contribuem diretamente para o projeto alunos do Doutorado do PPGCOM.

Tem sido muito instigante participar da construção de uma rede coletiva de pesquisadores, num processo descentralizado de produção científica. A iniciativa conta com a colaboração de múltiplos parceiros, de diversas instituições, cada um contribuindo como pode, dentro dos limites do isolamento social. Só da UFPE, são seis pesquisadores de Comunicação diretamente envolvidos (até agora), além de colaboradores esporádicos de outros departamentos da instituição, da Fiocruz, do Intervozes, da UNIP, da UEPB, entre outras entidades.

Ainda estamos na segunda semana de projeto, mas já tem bastante coisa produzida. Além de artigos e relatórios de pesquisa, o projeto envolve a produção de “drops” para as rádios Universitária FM (99.9) e AM (820): “pílulas” de informação de poucos minutos, que são veiculadas ao longo da programação semanal das rádios. Quem não está em Pernambuco pode conferir esses programas no site do projeto. Ao final da semana, a equipe produz um podcast que reúne todos os depoimentos recolhidos no período, também veiculado nas rádios e disponível nas principais plataformas de streaming, como Spotify.

Tudo produzido de casa, superando as várias dificuldades do trabalho remoto (gravar e editar um programa de rádio com criança pequena dentro de casa não é fácil, senhores).

Pesquisadores e profissionais das mais diversas áreas que estiverem estudando a circulação de desinformação nesse período podem entrar em contato para contribuir. Nas redes sociais, o Coronavírus em Xeque está sendo atualizado no Twitter, Instagram e Facebook da Rádio Universitária Paulo Freire.

*Cecília Almeida é Professora do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Pernambuco.

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