5 anos sem casa e ainda bem

Angela Mansim
Revista Passaporte

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Já são cinco anos tentando responder a clássica pergunta “mas onde você mora?” É a eterna sinfonia “já morei em tanta casa que nem me lembro mais.”

E já não me lembro mesmo, verdade seja dita. No mínimo em umas 30?

Confesso que às vezes, pensando em facilitar a própria vida, falo que “moro em Floripa”. Algumas outras respondo “em Bali”. Outras tantas resumo em um “sou paulista”. E, mais recentemente, solto um “na Bahia”.

É sempre aquela saga satisfazer as pessoas com a resposta e dar o assunto como encerrado.

Não bastasse, eis que vem a segunda clássica pergunta: “Mas quando você vai voltar para casa?” Fico pensando qual seria essa casa afinal, se não aonde estou agora. E dou risada sozinha — e de mim mesma também, claro.

A casa é aonde me sinto.

A verdade é que não tem resposta que satisfaça e nenhuma necessidade de satisfazer alguém. Desconstruir é extremamente desconfortável. Tanto para mim, como também para as pessoas a minha volta entenderem.

Essa vida parece bonita poesia, eu sei. E é verdade, a vista é bonita quase sempre, mas o backstage é duro.

Para ganhar, é preciso perder.

Para ganhar chão, foi preciso perder peso.

Para ganhar histórias, foi preciso perder medo.

Para ganhar autonomia, foi preciso se demitir.

Para ganhar flexibilidade, foi preciso dizer não.

Para ganhar liberdade, foi preciso perder a casa.

Tudo faz parte de um único e evitável plano. Inevitável para mim.

E sim, a ideia nunca foi não ter casa. E certamente é mentira que eu não as tenha. Meu privilégio é ter muitos lugares bonitos que posso chamar de lar.

Lugares que não preciso mais se quer estar para chamar de casa.

Obrigada a todos os amigos que nunca desistiram, nem tão pouco enjoaram, de fazer festas de boas-vindas e brindes de despedidas. Essa é prova viva de que um lar é feito pelas pessoas dos lugares.

Foram muitas casinhas mágicas, também foram muitas casinhas péssimas.

Foram muitos achados, mas também foram muitos perdidos.

Só sabe, quem viveu. E já são 5 anos dessa vida.

A verdade é que vou. Mas também é verdade que volto.

Numa eterna sinfonia “já morei em tanta casa que nem me lembro mais.”

“Vagabonding is about using the prosperity and possibility of the information age to increase your personal options instead of your personal possessions.” ― Rolf Potts, Vagabonding: An Uncommon Guide to the Art of Long-Term World Travel

Instagram meu.

Casinha mágica na Prainha. Itacaré, Bahia.

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Angela Mansim
Revista Passaporte

Designer de textículos. Livre & maluca, amém. Instgrm: @angelamansim.