7 Dias em Medellín (ou o que é Liderança)

Paulo Henrique Sales
Revista Passaporte
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6 min readApr 28, 2018

Olá.

Finalmente estou escrevendo sobre a melhor experiência da minha vida.

Último dezembro eu fui para Medellín, na Colômbia, como um dos 30 estudantes selecionados (entre mais de 400 candidatos) para fazer parte de um programa sobre Liderança e Empreendedorismo Social.

A experiência foi promovida pela LALA (Latin America Leadership Academy — Academia de Liderança da América Latina, confira o trabalho deles AQUI), que é uma ONG bastante recente que tem como objetivo formar a próxima geração de líderes (empreendedores, políticos, executivos, professores…) da qual nosso continente precisa com tanta urgência.

Foi a primeira vez que viajei para fora e posso dizer que, poxa, minhas expectativas foram mais do que alcançadas.

Por que Medellín? Bem, nós aprendemos que Medellín é uma cidade que foi totalmente transformada. Todos que assistem Narcos sabem que a cidade passou muito tempo sob a ameaça do narcotráfico.

Mas as coisas mudaram. Através de muito esforço e cooperação entre negócios, governo e população, hoje pode se dizer que Medellín é uma cidade efervescente e inovadora. Não há melhor cenário para aprender sobre Liderança e Transformação Social, não é mesmo?

Essa foto só tem alguns haha

Pessoas acima de tudo

Nos primeiros dias de chegada, a atmosfera era parecida com o primeiro dia numa escola nova. Não se conhece ninguém (apesar de ter trocado mensagens antes de chegar) e você só quer saber o que tem para fazer.

Mas houveram algumas atividades feitas para que nós pudéssemos conhecer uns aos outros mais facilmente, e já de cara pude ver que aquele não era um grupo qualquer. Tínhamos participantes de 6 países diferentes (Bolívia, Brasil, Colômbia, México, Peru e Venezuela), com todo tipo de histórico, alguns ainda no ensino médio, outros estudando Economia, Fisioterapia, Ciência Política e outros tópicos. Alguns já haviam começado ONGs ou protestado contra regimes opressores.

Pensa numa Síndrome do Impostor que bateu forte!

E apesar de variar um pouco em idade, e claro que alguns eram mais próximos que outros, nada disso impediu a formação de uma grande família. Porque cada um tinha suas habilidades e experiências, mas o denominador comum era a paixão por querer fazer a diferença e mudar o mundo em nossa volta.

Uma coisa que eu realmente tirei dessa parte da experiência é de sempre tentar me cercar de pessoas que tem valores próximos aos meus. Desse jeito podemos nos ajudar em quaisquer projetos que a vida necessite.

Um dos muito workshops!

Porque vulnerabilidade importa

Lembro que no primeiro dia fizemos uma atividade chamada Sete Coisas sobre Mim, na qual cada um de nós tivemos que listar sete fatos sobre nós mesmos em uma folha de papel. O desafio é que, supostamente, esses fatos seriam não óbvios. O que eu quero dizer é que quando estamos nos apresentando, falamos do nosso emprego, ou sobre o que a gente estuda.

De primeira senti um pouco de dificuldade em fazer a atividade, porque eu não estava acostumado a me apresentar de maneira diferente. Mas ficou claro que eu tinha mais o que mostrar. E a mesma coisa com todo mundo. O próximo passo seria nos apresentar uns aos outros, usando o papel, sem falar. E, ao ler os papéis dos outros, fica claro o poder da atividade.

Algumas das folhas da atividade!

Vulnerabilidade. Tinha gente falando sobre sonhos e medos, hobbies estranhos e pets esquisitos. E, estranhamente, as pessoas foram ficando mais próximas. E mais fáceis de se conectar.

Claro que isso muda muito ao longo do tempo, mas acho que hoje a lista de Sete Coisas Sobre Mim seria algo do tipo:

  • Filho único (acho que não mimado), bastante introspectivo;
  • Adoro tocar violão e dançar forró;
  • Tenho um medo bastante irracional de altura;
  • Hobbies favorito é jogar jogos de tabuleiro;
  • Muito bom ler sobre filosofia, ficção científica, economia e ciência comportamental;
  • Dificilmente recuso qualquer prato que contenha frango;
  • Gostaria de melhorar minha comunicação;

(Viu? Nem doeu!)

Uma das seções de brainstorming!

Moravia

E outro dia extremamente impactante foi quando conhecemos Moravia.

É um bairro com uma história de transformação sem igual.

Moravia era um lixão a céu aberto por muitos anos. Fizemos um tour por lá, com um líder da comunidade mostrando como as coisas são diferentes hoje em dia. Através dos esforços da população, Moravia que era assim:

Moravia antigamente, fonte.

Ficou assim:

Moravia hoje em dia, fonte.

Visitamos um centro comunitário, com algumas atividades para as crianças que moravam ali perto. Alguns de nós até brincaram bastante com elas.

E ficou fácil ver como cada pessoa se importava com os outros e com a cidade. Isso é algo que acho que falta no Brasil. Um senso de pertencimento, de ser dono. Alguns justificam essa falta ao falar que não tem esse senso pois o país é muito corrupto e tem muitos problemas.

Mas para mim é o contrário. Somente quando esse senso de dono e de pertencimento chegar que nós vamos começar a nos livrar desses problemas.

Bem…

Acho que é isso. Tentei falar o máximo possível sobre a viagem, mas, de verdade, palavras não podem começar a descrever a experiência.

Tenho muito que agradecer aos nossos coaches e ao time da LALA que fizeram essa experiência ser possível. E, é claro, aos 30 irmãos e irmãs que ganhei ao longo do caminho. Nunca vou esquecer das conversas profundas e das piadas bestas. Do triste adeus e da alegre cantoria no ônibus.

E também das conversas em 3 idiomas.

Se posso te deixar com algum conselho, seria para explorar o mundo.

Não somente viajar (caso você possa), mas de fato explorar sua comunidade e as pessoas presentes nela. Estar presente em cada interação que você tiver. Se cercar de pessoas com os mesmos valores que o seu.

Nós eramos 30 indivíduos com um senso de urgência e vontade de mudar as coisas. Agora somos um grupo, e estamos apenas começando.

No centro de inovação em Medellín!

E Liderança?

Já que o propósito principal da viagem era aprender sobre liderança, fica aqui minha definição:

É a capacidade de ser protagonista, enxergar um problema e querer arregaçar as mangas para resolvê-lo. Ao longo do caminho, algumas pessoas podem se inspirar no que você está fazendo e irão, inevitavelmente, fazer parte da sua jornada.

PS: A LALA vai ter um novo bootcamp no Brasil, em julho, mais informações AQUI. De verdade, foi a experiência mais transformadora da minha vida, recomendo para todo mundo. Eles estão procurando por jovens brasileiros de 15 a 18 anos, que também possuem esse protagonismo, para viver essa experiência. Se você conhece algum, dá aquela compartilhada do texto e do link do programa. Qualquer dúvida pode entrar em contato comigo também.

Abraços!

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Paulo Henrique Sales
Revista Passaporte

Olá! Sou apaixonado por educação, incoformado com seu estado atual, e idealista em relação a um Brasil melhor através dela :)