A Vida Digital e Sua Velha Mochila

Roberto Tostes
Revista Passaporte
Published in
2 min readMar 21, 2018

Neste mundo barulhento, quem fala alto tem a ilusão de estar no comando das coisas. Parece valer mais a convicção do que a certeza.

Quem acelera e ultrapassa sempre anseia em chegar primeiro, para ganhar sei lá o quê.

Esbarramos um nos outros porque nosso olhares andam curvados para uma tela que não para de piscar e fazer barulho.

Em meio a um universo de bilhões de seres, a necessidade de aparecer e ser perfeito(a), querido ou bem sucedido parece mesmo angustiante…

Nosso ego anda intoxicado de inúteis espelhos. Nos multiplicamos em selfies, posts, falas, curtidas e comentários. Cliques que turbinam nossos hormônios de satisfação e nos viciam neste fluxo.

Um filósofo poderia nos questionar se emoções podem mesmo gerar uma hashtag e se espíritos vão caber em emoticons.

Ok, humanos, a culpa não é só sua.

As Redes Sociais e seus aplicativos sugadores nos arrastam para este conflito interminável. Uma guerra entre todos e contra nós mesmos, disputando atenção em tensão contínua.

Prazer em conhecer, algoritmo. Desejo saber sua localização, ter acesso às suas atividades, mensagens, buscas, voz e tudo mais. Vou te conhecer tão bem que você nem vai perceber como eu te sigo e te controlo.

Neste parque de diversões, não bastam mais fotos, vamos nos afogando em vídeos e imersões de momentos que logo desaparecerão para sempre. Gravamos mensagens sem conversar. Participamos de tantos grupos e não ouvimos quase nada. "Telefonista, a palavra já morreu”, cantava o poeta.

Dialogar cansa e gera atritos sem solução.

E tome um mar de mídias e notificações pedindo de novo sua atenção. Vivemos para nos conectar ou nos conectamos para viver?

Haja bateria, haja coração e quem sabe ainda um pouco de alma, esmagadíssima por trás desta avalanche virtual.

Uma hora a conta chega, de noite, na insônia, no estresse, em uma ressaca, na vontade de largar tudo, num vazio que não se preenche nunca.

É tão bacana nos filmes e livros as grandes aventuras onde deixamos com tanta facilidade e idealismo nossas obrigações e responsabilidades.

Na ficção sempre parece bacana e transformador. E na real, Você encararia essa?

Já pensou em largar mesmo tudo e sair por aí com sua velha mochila (que guarda aquelas emoções que você deixou pra trás) buscando novos sonhos e desafios?

A estrada real é logo ali, dá para sentir o vento chamando…

É só pegar sua bagagem e sair porta fora ali. Boa viagem!

Roberto Tostes

imagem: jplenio — Pixabay

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