As histórias da minha primeira viagem

Foi doido — bom… ao menos pra mim

Belmiro
Revista Passaporte

--

Olá! Até então, apenas escrevi sobre temas relacionados as minhas experiências no mundo do desenvolvimento de software e tentativas de propagar algum conhecimento.

Visto que ninguém vai ler mesmo, me veio a vontade de deixar aqui registrado uma das experiências mais loucas e gratificantes que tive, para eu nunca esquecer: Minha experiência na minha viagem para Dublin e Londres.

Se alguém estiver lendo, se prepare para um longo texto. Espero que goste!

O começo

Era uma vez, um garoto de 17 anos, nenhum pouco simpatizado pela língua inglesa, sem grandes anseios por viagens e que estudava inglês em uma ótima escola da minha cidade.

Um belo dia, do nada, surgiu uma oportunidade de um intercâmbio curto na Irlanda, em Dublin, com passagem, à passeio, em Londres, na Inglaterra. A viagem seria no ano seguinte, quando completaria 18 anos.

Falei com meus pais, minha mãe com mais receio e meu pai mais empolgado, disseram que daria para pagar parcelado, disseram que poderia sim ir. Seria meu presente de 18 anos, imensa honra, não?

Fizemos tudo, fechamos negócio com uma agência de intercâmbio e compramos as passagens de ida e volta. Dividimos tudo em 10 vezes e agora já era. Foguete não tem ré! 🚀

Não fiquei ansioso e acabei até me esquecendo por um período, até por que ainda demoraria chegar o dia.

Hora de pegar avião

Enfim, o tempo passa voando: chegou dezembro de 2016. A viagem já seria no mês seguinte, janeiro de 2017. Agora sim a ansiedade bateu, o medo também (rindo de nervoso).

Corri para deixar tudo da melhor forma: arrumei as malas, pesquisei sobre Dublin e Londres, cambiei dinheiro, entendi onde iria ficar, analisei toda minha caminhada até lá e treinei meu inglês cansado.

Nunca havia entrado em um aeroporto e meu primeiro voo já seria para Amsterdã, na Holanda, bem “white people’s problems”, mas querendo ou não, tudo a partir dali seria um desafio pra mim. Simplesmente não sabia como funcionava nada.

Ahhhh, por que Amsterdã? Aí começam as tretas. Minha querida agência fez o favor de comprar a passagem com uma conexão longa em Amsterdã e nós, ótimos clientes, não vimos isso. Ou seja, chegava na capital da Holanda no final da tarde e saia no dia seguinte pela manhã para a capital da Irlanda.

Chegou o grande dia. Despedi dos meus pais, peguei o avião e #partiu.

Tem que ter uma foto de dentro do avião, né!?

Observação: como um suco e um único pão de queijo custa R$ 12,00 dentro de um aeroporto?

Aterrissagem em Amsterdã

Hora da aterrisagem! Olho pela janela do avião e… está nevando (uau!). No entanto, descobri minutos depois que quando é conexão longa não se pega as malas.

Legal, não? Lá vai eu descendo do avião todo tadinho com um fino moletom enquanto caia a neve. Não tinha blusa de frio para esse evento.

Nem estava frio pô

Pelo menos estava dentro do gigantesco Aeroporto Schiphol. E eu precisava sair dali.

Eu juro pra você, eu não conseguia achar a saída de lá. Eu precisava passar pela imigração mas não a achava, estava perdido. Tive a brilhante ideia de pedir ajuda.

Colei em um guardinha e nosso diálogo foi um tanto quanto decepcionante, ele não entendia nada do que eu falava e eu muito menos o que ele dizia.

Tive que apelar, puxei meu celular do bolso, fui abrindo o Google Tradutor na maior velocidade possível e conversei com o camarada pelo Google Tradutor. Eu escrevia. Mostrava para ele. Ele lia. Ele escrevia de volta. Me mostrava. Eu lia e assim estabelecemos uma comunicação.

É aquela história né, quem não tem cão caça com gato.

O guarda me ajudou e me guiou até a imigração. Passei com facilidade, apenas foi necessário mostrar minha passagem de Amsterdã para Dublin. Ao passar, ainda escutei um “tchau amigo brasileiro” do gringo que estava na cabine.

Ao estar do lado de fora do aeroporto, nunca senti tanto frio na minha vida. Meus lábios quase que instantaneamente racharam, que beleza! Estava, sei lá, uns -5°C. Peguei uma van exclusiva do hotel que iria ficar e finalmente estava no hotel, são e salvo.

Meu quartinho e minha mochila :)

Hora do lanchinho

Bateu umas 19:00 e bateu junto a fome. Peguei meu celular, abri o Google Maps e vi que tinha um McDonald’s a 800 metros e pensei comigo mesmo: “por que não?”. Tirando o fato que estava nevando e eu não tinha trajes adequados estava tudo certo.

Olha o McDonald’s ai!

Peguei meu moletom guerreiro e fui no pique para lá. As ruas estavam vazias, sai correndo e atravessando elas como se não houvesse amanhã. Até que cheguei.

No estabelecimento pedi um hambúrguer, a moça falou algumas coisas que não entendi, eu disse “yes, yes, yes” e veio no pedido nuggets e uns molhos aleatórios. De certa forma deu bom!

De barriga cheia, era hora de voltar. A estratégia era a mesma: sair correndo e chegar o mais rápido possível a tempo de não congelar. Assim fiz!

Estava eu a todo vapor na minha corrida, quando de repente uma viatura da polícia para ao meu lado e dá um toque na sirene. Meu amigo, sabe um cara que ficou muito em choque? Esse era eu. Gelei tudo (emocionalmente e literalmente). Meu coração parou.

Eu parei… Abaixaram o vidro da viatura e haviam dois policiais dentro do carro. Começaram a falar coisas que não entendia nada, acredito eu que em holandês. Apenas disse “I am from Brazil”. A partir daquele momento eles passaram a falar em inglês e, ao escutar “red lights”, entendi que o crime que cometi foi ter atravessado a rua enquanto o semáforo estava vermelho para pedestres, e também, fora da faixa. Multa de 50 euros.

Respondi todo travado me desculpando, dizendo que não sabia e que no Brasil isso era normal. Pediram meu passaporte, mostrei a eles. Apontei com o dedo o hotel que estava ficando e acabei me safando. Falaram alguma coisa entre eles, riram, não cobraram a multa e saíram vazados.

Terminei minha caminhada até o hotel, dessa vez sem correr e respeitando semáforos e faixas. Ria de tudo que já havia acontecido nas primeiras horas em solo estrangeiro e que nunca tinha acontecido em 18 anos de Brasil, e que provavellmente nunca vai acontecer.

Ao chegar no hotel estava só o pó da rabiola. Tomei banho num chuveiro que demorei pelo menos 20 minutos para entender como ele funciona e fui dormir.

Ainda não chegou a Lorenzetti lá?

No outro dia, acordei as 4 horas da madrugada de lá, meu voo era as 10 horas. Tomei outro banho pra despertar, agora já sabendo utilizar o chuveiro. As 6 horas desci para tomar o café da manhã do hotel, nunca tomei tanto suco da laranja na vida. Subi, arrumei minhas coisas e as 8 horas já estava no aeroporto.

Depois de muito frio e ser parado pela polícia, era fim da minha rápida passagem em Amsterdã. Destino era Dublin, finalmente.

Calma lá polonês, não precisa disso

Enfim em Dublin, passei pela imigração sem grandes problemas, mas estava tão nervoso que não lembro nem do diálogo que tive na entrevista de entrada. Peguei minhas malas e um taxi para o hostel que iria ficar.

Só antes de prosseguir, preciso deixar claro uma informação que será importante em breve no texto. Recapitulando: meu intercâmbio seria em Dublin, porém haveria depois um passeio de alguns dias em Londres.

Embora tenha dito que passei pela imigração sem problemas, no meu passaporte a moça da cabine da imigração de Dublin marcou que a data válida do meu visto seria até meu último dia em Dublin, não foram somados os dias que ficaria em Londres.

Informação dada, guarda ela aí. Continuemos.

Ao chegar no hostel, coincidentemente dei entrada no check-in junto com um polonês, que também acabara de chegar. A priori, educado e quieto.

Conheci meu quarto, era grande e acomodava 16 pessoas. Contando eu e o polonês haviam umas 13 pessoas nesse quarto. A grande maioria brasileiros, então fui bem recebido e foi fácil me entender.

Após esse reconhecimento de território, eu tinha um compromisso de encontrar com a dona da escola de inglês que estudava no Brasil, que estava em Dublin de passagem, e outras duas alunas da escola que também tinham praticamente acabado de chegar, no entanto ainda não as conhecia.

Após encontrar com todos, demos uma volta na cidade e ao final da tarde já estava no hostel novamente para descansar.

Estava quebrado, cansadíssimo. Fiquei na parte de cima de uma beliche, e quem estava na parte de baixo? O nosso amigo polonês, e tudo bem até então.

Vale contextualizar que a regra do hostel era silêncio nos quartos somente após as 22 horas.

As 20 horas, o polonês começou a reclamar por silêncio e desligar a luz. Ele mesmo desligava a luz e alguém acendia novamente. Eu suave na minha.

Tinha uma brasileira que começou a responder ele e consequentemente a brigar com esse cara. Ela xingava ele de tudo em português e ele, imagino eu, xingava ela de tudo em polonês.

Um dado momento as coisas ficaram mais sérias. O cara, no ódio, chegou a dar um soco na cama e cortar a mão. Ele dava soco no disjuntor e a menina brasileira dava outro para acender. E a discussão continuava se aflorando cada vez mais. E eu na beliche só observando aquilo junto com os demais do quarto.

Até que uma hora, ele foi pra cima da menina e ali vi que ia dar merda. Outros brasileiros o seguraram e ameaçaram a bater nele se fizesse algo. Eu, pleno, só pulei da beliche e vazei dali. Fui lá para a área de recreação do hostel e fiquei jogando sinuca.

Depois fiquei sabendo que chamaram a polícia e não sei qual fim deram para ele. Só sei que as coisas se resolveram já era quase meia-noite. Eu só queria dormir, pois era domingo e no dia seguinte já começariam as aulas de inglês.

Uma excelente recepção, não é mesmo?

Logo a primeira aula já miou

Acho que o título dessa vez deu spoiller sobre o que aconteceu no primeiro dia de aula: não fui, mas explico o porquê.

Já tinha ciência que o primeiro dia seria uma programação que iria desde a apresentação da escola, um teste de nivelamento de inglês e conhecer os professores e demais alunos.

Após todo acontecimento infeliz descrito acima, eu consegui dormi. Na madrugada, não lembro ao certo, mas por volta das 5 horas, eu acordei e achei que era meu fim. Drama? Um pouco, talvez.

Não sei se foi a mudança de clima, a friagem que tomei em Amsterdã, fuso horário, estresse, ou qualquer outra coisa, mas acordei com minha cabeça simplesmente explodindo e, se não bastasse, parecia que estava sem meus dois pulmões. Eu respirava e escutava eles chiando alto. Já tinha aceitado que estava com, no mínimo, pneumonia.

Eu havia levado alguns remédios, então me automediquei. Tomei remédio para dor de cabeça e anti-inflamatório. Não adiantou nada e tomei mais. Depois de 1 ou 2 horas com muita dor de cabeça e sem meus pulmões, eu apaguei.

As aulas era as 9, quem disse que eu acordei? Acordei pra lá de meio dia, sem dor de cabeça mas meus pulmões ainda zuados, eles ainda chiavam e era difícil respirar.

O primeiro dia de aula já tinha aceitado que perdi. Bola pra frente!

Só pra finalizar essa história do pulmão, demorou uns 4 dias para melhorarem 100% e tomei todos esses dias anti-inflamatório. Não fui ao médico, porém, segundo nosso sábio Google, eu tive um início de pneumonia, mas não sei também.

Não façam isso. 👍

Aulas

No dia seguinte fui a escola, expliquei tudo que aconteceu, fiz minha prova de nivelamento, conheci minha turma e professora das próximas duas semanas.

Na minha turma tinha, contando comigo, cinco brasileiros, um mexicano, uma francesa, dois espanhóis e um egípcio. E minha professora era irlandesa mesmo, de Dublin.

Foi legal conhecer a história de cada um e ver as diferenças culturais. As aulas em si não tiveram nenhuma história para ser contada, só foi um momento de muito aprendizado e, inclusive, muito proveitosas. Aprendi bastante! 🤓

As novas amigas e os passeios

A priori, eu estava fazendo meu intercâmbio sozinho. A dona da escola que estudava estava somente de passagem. Ela ficou em Dublin somente três dias, sendo um suporte nesses primeiros dias.

Lembra que comentei que haviam outras duas alunas da mesma escola que eu, só que não as conhecia? Então, eu as conheci naquele primeiro compromisso que disse, logo quando cheguei em Dublin, e desde então colei nelas.

Elas eram enfermeiras e professoras na minha cidade natal, e estudavam na mesma escola de inglês que eu, no entanto já estavam em um nível de proficiência maior e, portanto, desenrolavam muito melhor que eu.

Estavam fazendo intercâmbio juntas. E como foi na mesma oportunidade que eu fui, nossos cronogramas eram quase que idênticos, inclusive elas também iriam para Londres. A única diferença era que nossos voos de ida para Dublin e volta para o Brasil eram diferentes.

Acabei fazendo amizade com elas e formamos um grupinho. Sendo pessoas da mais alta qualidade, me aceitaram numa boa e acabei tornando o caçula. De forma geral, me ajudaram muito na viagem e sou muito grato.

Pra onde elas iam, eu também ia. Em todos os rolês que elas faziam, eu estava junto. Me desfiz dos meus planos, que já não eram lá essas grandes coisas, e segui o plano delas. Até por que elas sabiam o que estavam fazendo muito mais que eu.

Com elas, em Dublin:

  • Fui às compras e elas me ajudaram a comprar presentes legais. Visitei shoppings, lojas no centro da cidade, lojas de lembrancinhas, roupas e até mesmo sabão.
Para não falar que o lance da loja de sabão é mentira!
  • Fui aos parques Saint Stephen’s Green e Phoenix Park, dois dos lugares mais top que já vi e possivelmente verei na vida. Pensa em dois parques lindos. São eles! Ambiente perfeito para passar uma tarde conversando fiado com um amigo ou andar atoa mesmo.
Saint Stephen’s Green
Phoenix Park
  • Visitei a fábrica da Guinness, que nem conhecia e foi muito legal, mesmo não gostando de cerveja. Lá dentro fizemos uma trilha que mostrava a história da marca e todo o processo de fabricação. E ao final, ainda tinha uma degustação.
Guinness
  • Conheci o Dublin Zoo com elas, onde vi tigre, pinguim, gorila, girafa, rinoceronte e outros animais um mais bonito (as vezes feio também) que o outro. Zoológico gigantesco e com mais animais que o National Geographic já mostrou. Gastamos uma tarde inteira para conhece-lo por completo.
Fachada do zoológico
Mamãe gorila dormindo abraçada com seu filhote
Cadê?
Raaaw!
Não tá meio alto não?
  • Visitei um museu viking que foi absurdo de louco. Lá dentro vimos como eles eram, sua história, cultura, língua e escrita, além de aprender como viviam naquela época.
Vida dura, hein?!
  • E pra não estender muito, conheci a cidade de Dublin no geral: pubs, igrejas, lojas chiques e loja onde tudo custa 1 euro, construções históricas, restaurantes etc.
Alguns lugares parte 1
Alguns lugares parte 2

Uma noite em Dublin suspeita

No segundo ou terceiro dia de Dublin, não me lembro mais ao certo, estava eu, as duas intercambistas que havia conhecido, a dona da escola e seu marido, já de noite, voltando após um dia de muito passeio e também algumas compras, principalmente roupas para o frio.

Em certo momento, em uma larga avenida, percebi que um homem, estranho, estava nos seguindo e encarando as bolsas das mulheres. Cutuquei o marido da dona da escola e falei “esse cara atrás de nós parece estar nos seguindo e manjando a gente” e ele respondeu “também percebi isso”. Em português mesmo ele comentou com as mulheres, que estavam conversando, e elas sugeriram atravessar a avenida e entrar em um Burguer King do outro lado da avenida.

Dito e feito, fizemos isso e ele também atravessou. Isso foi a confirmação para a gente, aceleramos o passo e entramos no Burguer King. Chegando lá, ficamos o observando e ele não ia embora. Ficou esperando a gente do lado de fora. Comunicamos a um segurança que estava lá e ele falou para permanecermos ali.

Ficamos um bom tempo dentro o estabelecimento esperando e conversando. Eu bobo nem nada aproveitei para pedir um milkshake de Oreo que o Burguer King estava vendendo na época que era sensacional. Cerca de uma hora depois percebemos que o cara foi embora.

Ainda muito em alerta, resolvemos ir embora. Não encontramos mais ele e acabamos chegando sem nenhum problema as nossas estadias.

Bendita refeição “normal”

Eu, particularmente, tenho um paladar bem infantil e não sou muito aberto a experiências gastronômicas. Já tenho muito bem definido comigo mesmo aquilo que gosto ou não gosto.

Já estava em Dublin há mais de uma semana e até então me alimentava de pizza, hambúrguer e outras refeições altamente calóricas e minimamente saudáveis.

Chama fio!

Certo dia, em uma autorreflexão, pensei que deveria ter uma refeição normal. Almoçar algo melhor era minha meta naquele dia. Fui ao shopping mais próximo e encontrei um restaurante.

Entrando nele, fiz meu prato com peixe grelhado, arroz e batata frita. Não é a refeição mais saudável do mundo, mas com toda certeza do mundo ainda dava um baile nas refeições que tivera nos dias anteriores.

Me sentei na mesa e comecei pelo arroz: simplesmente não tinha gosto algum, totalmente sem tempero. Experimentei o peixe e já não gostei logo de cara. Já me arrependi na hora, mas já que estava ali, comi tudo.

O melhor vem agora. Ao terminar, fui pagar a conta e simplesmente deu 15 euros. Na hora converti, 70 reais em um almoço que não gostei de nada. Com esses mesmos 70 reais eu poderia ter ido no Outback aqui no Brasil e ter tido uma experiência muito mais gostosa 😥.

Naquele instante, estava extremamente arrependido e decidi que nos próximos dias o jeito era viver de pizza e hambúrguer. Dane-se.

Perdas em Dublin

Não teria como eu ir e não perder algo.

Dos vários passeios que eu tive, em algum perdi minha corrente que tinha há vários anos. Essa perda foi dolorosa. Procurei na rua, nas lojas que passei e nada ☹️.

E se não bastasse, roubaram minha toalha. Isso mesmo, alguém passou mão na minha toalha. Acho que alguém confundiu e pegou ela. Tive que comprar uma outra.

#Partiu Londres, ou não 🤔

Após duas semanas em Dublin, era hora de partir, com destino para Londres, mais especificamente aeroporto Londres Heathrow. Dessa vez não iria pegar avião sozinho, minhas amigas também iam no mesmo voo.

Um detalhe: voos da Irlanda para Inglaterra não passam pela imigração, ou seja dessa vez não precisaria enfrentar mais uma entrevista de entrada.

Chegamos no aeroporto de Dublin e esperamos a chamada. Ao sermos chamados, tinha um carinha que pegava os passaportes para validar antes de entrar no avião.

Lembra que comentei que a moça da imigração de Dublin marcou meu visto válido até meu último dia em Dublin? Então, o cara que estava validando os passaportes pegou o meu, viu as datas e não quis deixar eu entrar no avião alegando que meu visto estava já vencido por conta das marcações.

É muito azar, não? Eu sem saber o que fazer, chamei uma das minhas de intercâmbio para me ajudar, por que eu não estava entendendo o que ele estava dizendo e nunca conseguiria argumentar. Ela conversou com ele foi traduzindo tudo para mim.

O problema é que meu visto não era mais válido para entrar em Londres por conta das datas. Neste momento, ela entrou em uma discussão, que ia além do meu alcance, argumentando que eu teria direito a até 6 meses de visto e explicando tudo que havia acontecido e mostrando que minha volta ao Brasil seria de Londres.

Moral da história: depois de alguns minutos o cara liberou a minha entrada e peguei o avião.

Dentro do avião, já fui imaginando, todo pessimista, tudo de errado que poderia dar e já fui me preparando psicologicamente para próxima fase desse joguinho difícil.

Aterrissagem² em Londres

Cheguei em Londres já pensando qual B.O. teria que enfrentar para sair do aeroporto.

Encontrei com elas fora do avião e disseram que me ajudariam a resolver esse pequenino problema. Não passaríamos pela imigração, por que viemos da Irlanda, mas não sabíamos se tinha algum problema.

Fomos ao guichê da companhia aérea, e nada: não sabiam como resolver. Conversamos com funcionários do aeroporto e mais uma vez nada. Achamos um guichê de ajuda do aeroporto e disseram para ligarmos em um número X, ligamos (não eu, quem falou foi a mesma que conversou com o carinha do aeroporto, entenda que ela fez basicamente tudo). Explicaram algumas coisas e disseram que teríamos que ir a uma sala de imigração para regularizar.

Achamos a sala, mas estava fechada (risos). Dado momento, conseguimos falar com um pessoal da administração do aeroporto, ao entenderem o cenário, disseram que não teria problema e que poderia ir embora do aeroporto.

Resumo da história, aterrissamos em Londres no início da noite e saímos de lá quase meia noite. E ainda por cima sem visto.

Ao menos na teoria, estava com visto inválido em território londrino.

Fui embora! Pegamos metrô e depois um taxi para nosso hostel, dessa vez um pouco mais ajeitado, no centro de Londres e com 6 pessoas por quarto.

Só digo que devo as duas até hoje. Se tivesse sozinho nessa, desde a Irlanda até a saída do aeroporto de Londres, não sei o que teria acontecido. Agradeço demais a gentileza.

Ah não, London Eye

Nunca andei de roda gigante. Em Londres tinha o objetivo, de fazer isso pela primeira vez, logo na roda gigante mais famosa do mundo, London Eye.

Nas intermediações da roda gigante, tirei uma foto que adoro.

Minha foto da London Eye

Mas nem tudo são flores, a roda gigante estava em obras e, portanto, não daria para cumprir o objetivo de dar uma volta na London Eye. Chateou viu.

Porém, nem só de roda gigante Londres se vive!

A metrópole e os outros pontos turísticos

Logo de cara já digo que fiquei apaixonado por Londres. Cidade muito louca, é o exemplo perfeito de metrópole, cidade de negócios e “cheiro” de dinheiro no ar. Coisa de filme!

Você percebe o alto poder aquisitivo do povo londrino só pelos carros de alto padrão perambulando pelas ruas, as roupas de grife que usam e as concessionárias de luxo pela cidade.

Gostaria muito de voltar lá outro dia.

Visto que estava para turistar, tinha lugares para visitar e acho que fui nos principais, levando em consideração o pouco tempo que tinha.

E vou te falar viu, lugares impressionantes. Experiência única!

Big Ben.

Tem Big Ben de perto
Tem Big Ben de longe

Palácio de Buckingham.

Já estava escurecendo e o celular da época passando mal para tirar uma foto de qualidade

Abadia de Westminster.

Tem um monte de gente importante enterrado ai

King’s Cross.

Não encontrei o Harry Potter

Uma das paradas mais icônicas de Londres são as cabines telefônicas e os taxis, então pô, não poderia faltar.

Cabine telefônica / Táxi

Teve um rolê muito louco que fiz, que nunca poderia imaginar que faria, e foi animal! Como estava acompanhado de duas enfermeiras elas queriam muito ir ao museu da Florence Nightingale.

Florence Nightingale foi fundadora da enfermagem moderna e ela esteve na guerra prestando atendimento aos soldados feridos.

Não a conhecia, mas ir ao museu dela foi uma parada muito legal ver toda a história dela e aprender sobre enfermagem. Ela foi uma dessas pessoas revolucionárias que questionou o presente, inovou, ditou o futuro e fez história. Mérito grande ao ponto de ser reconhecida pela rainha Vitória e ser a primeira mulher a receber a Ordem do Mérito.

O metrô

Com todos os principais pontos da cidade visitados, minha visita a Londres estava se encerrando.

Sou do interior de Minas Gerais, aqui não tem metrô. No máximo tem é um trem. O metrô londrino é considerado um dos meios de transporte públicos mais eficientes do mundo. E de fato é muito organizado, foi nele que andei pela primeira vez e consegui me locomover com muita facilidade.

Um dia antes de eu ir embora, já tinha consciência que no dia seguinte teria que ir para o aeroporto logo cedinho, e de metrô. O aeroporto de saída era o mesmo que entrei no país. Ele fica relativamente distante da cidade, aproximadamente 1 hora de metrô.

Sabendo que estaria sozinho novamente, eu, bobo nem nada, apenas resguardado, fiz o caminho todo de metrô no dia anterior até o aeroporto para conhecer e não errar em nada no dia seguinte.

Foi tudo bem, acertei de primeira. Em alguns pontos o metrô acaba indo a superfície, então foi um passeio até que legal, deu para conhecer a parte mais periférica de Londres.

Dia seguinte chegou. Acordei cedo, peguei minha mala, minha mochila e caminhei até a estação King’s Cross, peguei o metrô e pronto: só aguardando a chamada de voo.

Tá tirando que vai ter problemas até para ir embora?

Meu voo atrasou. Que beleza viu! Já dentro do avião, não me lembro com exatidão, mas atrasou por quase duas horas por conta de um temporal.

Eu teria uma conexão em Roma, com troca de avião, então imagina a preocupação.

Finalmente, após um bom tempo esperando, o avião decolou. Passado algumas rápidas horas, o avião pousou no aeroporto de Roma e (mano do céu!) eu tinha pouquíssimo tempo para sair do avião, correr dentro do aeroporto, achar meu portão e pegar o voo.

Desci do avião e, ao entrar dentro do aeroporto de Roma, já fiquei perdido. Nisso, escutei brasileiros conversando sobre voo para o Brasil. Era um casal com dois filhos, gritei eles, entrosei com eles e verificamos que era o mesmo voo. Naquele momento me tornei o terceiro filho provisoriamente.

A gente saiu correndo naquele aeroporto e pedindo indicação de caminho. Achamos, faltava menos de 5 minutos para o voo partir. Agradeci o casal, encontrei meu acento, sentei e o avião mais uma vez decolou.

Sucesso? Claro que não! Durante o longo voo, após umas três horas de viagem, eu já dormindo, acordei com uma crise de enxaqueca. Parecia que havia uma agulha atrás do meu olho esquerdo espetando meu cérebro.

Doía demais da conta minha cabeça e nada de conseguir voltar dormir. Comecei a ter ânsia de vômito por conta da dor e nesse momento pensei em chamar a aeromoça para pedir ajuda. Mas não fiz isso.

Lembrei que tinha remédio na minha mochila para enxaqueca, estava preparado. Tomei um e também um para dormir. Depois de uns 30 minutos esperando o remédio fazer efeito eu apaguei, fui acordar já estava menos de duas horas do Brasil. Foi até bom no final das contas.

“Jeitinho brasileiro”

Meu voo ia aterrissar no Rio de Janeiro, mas chegando lá já teria outro voo para minha terra, Minas Gerais.

No Rio de Janeiro tem vários aeroportos, sendo dois deles o Santos Dumont e o Tom Jobim (Galeão). Não sei ao certo, mas eu cheguei em um deles e, ao procurar de onde sairia meu outro voo, descobri que seria no outro aeroporto. Isso mesmo, eu desci em um aeroporto e meu outro voo era em outro.

Já estava tão calejado, e também por estar já em solo brasileiro, que fiquei preocupado, é óbvio, mas nem me abalei tanto. Eu tinha três horas até o próximo voo e uma viagem de táxi.

Já fora do aeroporto procurei um táxi que faria esse percurso e encontrei, mas cobrando uma fortuna. Chorei o preço e nada. Após chorar bastante o preço, a atendente, acho que por empatia ou encheçao de saco, disse que teria um jeitinho. Ela falou: “não fala que eu te falei isso, mas vai em tal lugar, procura por tal pessoa e negocia com ela que o táxi vai sera mais barato! Me senti em um esquema da Yakuza no Japão.

Esse ponto de taxi era um pouco mais distante, caminhei até lá, encontrei a pessoa, falei com ela e de fato era bem mais barato. Foi relativamente uma viagem até que longa (não tinha essa dimensão),. Cheguei no outro aeroporto ainda faltando 30 minutos para a chamada do voo. Safe!

Deu tudo certo, peguei meu voo e não houve mais problemas. Cheguei em casa ainda sem processar tudo que havia acontecido nesses últimos 20 dias. Era tanta coisa que tinha para contar, e não só isso — entender comigo mesmo.

Fim da viagem

No final tudo deu certo. Trouxe presentes e lembrancinhas para alguns da minha família e alguns amigos. Todos gostaram muito, porém sempre gostavam mais das histórias que contava, que as que contei acima. Geral rachava o bico, isso também foi um dos motivos para eu vir escrever sobre.

Foi uma experiência formidável, e pensando agora, todos esses “problemas” que contei foram apenas os temperos para deixar tudo mais legal de se contar.

É um imenso privilégio poder fazer um intercâmbio, todos em algum momento de suas vidas deveriam conseguir fazer ao menos uma vez.

Agrega demais, sem meias palavras, essa viagem foi o que mais me mudou como pessoa no menor período de tempo. Eu viajei sendo uma pessoa, com algumas opiniões e ideais, e voltei, 20 dias depois, totalmente diferente, com a mente borbulhando para processar tudo de novo que aprendi, vivi e presenciei.

Foi a primeira vez na vida que senti que era capaz de fazer qualquer coisa. Sempre me sabotava mentalmente dizendo imaginando que não era capaz de fazer diversas tarefas e após essa viagem entendi que era capaz sim de fazer qualquer coisa na vida desde que não desistisse, não desesperasse, soubesse pedir ajuda e tivesse pessoas ao meu lado. Sem dúvida nenhuma, este foi o maior aprendizado.

Acho que agora acabou. Fim! Acho que consegui dizer tudo de mais importante e detalhar legal. Espero que você, que leu até aqui, tenha curtido o texto e se ainda não fez uma viagem top comece a se planejar para viver essa experiência.

Tamo junto, até a próxima!

Se você curtiu, considere comprar um café como um sinal de agradecimento.

(Bônus) 7 detalhes que percebi e achei interessante

1. O KitKat da Irlanda não é tão gostoso quanto o brasileiro.

2. A Fanta laranja na Irlanda e Inglaterra é amarela, e não laranja. Isso descredibiliza.

3. Quem gosta de avião é milionário ou, no mínimo, doído. Bagulho super apertado e a comida é não é gostosa.

4. Dublin é uma cidade extremamente limpa, já Londres nem tanto (creio eu que por conta do turismo).

5. Starbucks é superestimado sim! Existe um tal de Insomnia que é um absurdo de gostoso (melhor chocolate quente da vida), dá aulas no Starbucks.

6. Enquanto uma barra grande de chocolate Milka no Brasil custa um Celtinha 2012, em Londres você compra a mesma por 99 centavos de libra.

7. Aqueles detectores de aeroporto são treta viu. Não sei se o problema era comigo, mas nunca passava de primeira. Chato demais.

--

--