Viajar é ancorar-se a um pedaço de terra arrancado de casa e trazido nos pés.
Mesmo que se lave os sapatos, é impossível não trazer na viagem o barro de quem és.
É impossível ser outro, ainda que tudo novo seja e que outro nome enfim possas vir a ter.
É impossível deixar em casa as estáveis certezas e as velhas raízes sem nada trazer.
É por estas e outras que somos prisioneiros de nosso próprio nome.
Somos reféns de todas as paredes construídas e todos seus anexos sobrenomes.
Longe não é sobre ser outro. Não é sobre perder, encontrar, esconder.
Longe não é sobre ser quem se pretendia ser.
Longe não serve para nada. Para fugir, tentar, fazer.
Longe, tão somente descobre-se de perto, como é de fato a terra que os pés vão trazer.
É de longe, e só de longe, que entende-se quem se é e o que se tem.
Entende-se sem disfarces como é a terra de onde se vem.
Viajar é ancorar os pés na praia do desconhecido.
Rezar as ondas, deter as velas e maldizer os ventos enfurecidos.
É a sensação estranha de mergulhar os pés em areias nunca pisadas.
É submeter a alma as custas do imprevisto, retornar para casa e poder dar risadas.
“Passados dois meses de tantas histórias, comecei a pensar no sentido da solidão. Um estado interior que não depende da distância…nem do isolamento; um vazio que invade as pessoas… E que a simples companhia ou presença humana não pode preencher. Solidão foi a única coisa que eu não senti, depois que parti…nunca…em momento algum. Estava, sim, atacado de uma voraz saudade. De tudo e de todos, de coisas e de pessoas que há muito tempo não via. Mas a saudade às vezes faz bem ao coração. Valoriza os sentimentos, acende as esperanças e apaga as distâncias.” KLINK, Amyr.