Angela Mansim
Revista Passaporte
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2 min readJul 2, 2018

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Viajar é ancorar-se a um pedaço de terra arrancado de casa e trazido nos pés.

Mesmo que se lave os sapatos, é impossível não trazer na viagem o barro de quem és.

É impossível ser outro, ainda que tudo novo seja e que outro nome enfim possas vir a ter.

É impossível deixar em casa as estáveis certezas e as velhas raízes sem nada trazer.

É por estas e outras que somos prisioneiros de nosso próprio nome.

Somos reféns de todas as paredes construídas e todos seus anexos sobrenomes.

Longe não é sobre ser outro. Não é sobre perder, encontrar, esconder.

Longe não é sobre ser quem se pretendia ser.

Longe não serve para nada. Para fugir, tentar, fazer.

Longe, tão somente descobre-se de perto, como é de fato a terra que os pés vão trazer.

É de longe, e só de longe, que entende-se quem se é e o que se tem.

Entende-se sem disfarces como é a terra de onde se vem.

Viajar é ancorar os pés na praia do desconhecido.

Rezar as ondas, deter as velas e maldizer os ventos enfurecidos.

É a sensação estranha de mergulhar os pés em areias nunca pisadas.

É submeter a alma as custas do imprevisto, retornar para casa e poder dar risadas.

“Passados dois meses de tantas histórias, comecei a pensar no sentido da solidão. Um estado interior que não depende da distância…nem do isolamento; um vazio que invade as pessoas… E que a simples companhia ou presença humana não pode preencher. Solidão foi a única coisa que eu não senti, depois que parti…nunca…em momento algum. Estava, sim, atacado de uma voraz saudade. De tudo e de todos, de coisas e de pessoas que há muito tempo não via. Mas a saudade às vezes faz bem ao coração. Valoriza os sentimentos, acende as esperanças e apaga as distâncias.” KLINK, Amyr.

Nusa Dua. Bali, Indonésia.

Instagram meu.

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Angela Mansim
Revista Passaporte

Designer de textículos. Livre & maluca, amém. Instgrm: @angelamansim.