Choque Cultural #1: A lua de mel

Descobrindo as cores do sul da Índia

Jess Comin
Revista Passaporte
3 min readApr 17, 2018

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Não posso falar sobre a Índia como um todo — ainda — mas posso contar as primeiras impressões que tive ao pisar aqui na parte sul do país. Não sei se tem a ver com eu ter vindo de peito aberto (depois de tanta gente ter me aterrorizado sobre os problemas que eles viam no país) mas, pra mim, esse lugar aquece o coração de qualquer um que se permite enxergar além do trânsito infernal e das nuvens de poluição.

Cruzei o oceano para fazer uma pós de Inovação Social e dar uma chacoalhada na minha vida e parei em Bangalore, a terceira maior cidade da Índia. Conhecida como o “Vale do Silício” indiano, é um grande pólo de tecnologia e inovação e é considerada uma das cidades mais ocidentalizadas daqui, onde as pessoas teoricamente falam mais inglês, são menos conservadoras, etc.

Imaginei que seria um bom lugar pra começar essa imersão indiana, dando baby steps rumo ao choque cultural.

Bom, quando eu cheguei eu não conseguia entender nada. E nem me fazer entender. Era desesperador. Em dois dias eu também mal conseguia respirar direito e minha pele e minha boca estavam super ressecadas da poluição. Cada vez que eu ia atravessar a rua eu achava que ia morrer atropelada e cada ida ao restaurante era uma surpresa, pois eu nunca sabia o que esperar da comida que ia aparecer na minha mesa. Ou da minha reação à ela no dia seguinte. Risos.

Mas aí, meu corpo se acostumou com o clima e com os temperos, o sotaque começou a fazer sentido e as buzinas viraram trilha sonora. E eu pude virar a minha atenção pra tudo que me fazia amar tanto estar aqui.

Por sorte, por destino, ou o que quer que você queira chamar, cheguei aqui justamente durante o feriado de Holi, aquela celebração famosa e fotogênica, cheia de pó colorido e que tem uma intenção muito mais profunda do que gerar fotos legais pro Instagram: comemorar o início da primavera e a vitória do bem contra o mal.

Mas eu também postei fotinho no Instagram, né

Aqui no sul do país as comemorações são mais íntimas, com familiares e amigos que se juntam para brincar, rir, agradecer e perdoar em meio a um festival de cores. É lindo. Foi lindo. E marcou de forma poética o início de uma nova fase na minha vida. Uma fase ainda sem nome, mas que eu espero que esteja muito mais próxima da "fase rosa" de Picasso, do que da azul.

Talvez a Índia seja a minha "fase laranja".

A Índia é quente. É intensa. É bagunçada. É feliz. Ela te abraça e parece que sempre tem lugar pra mais um em meio a tantas cores e temperos. As pessoas — em maioria — são gentis e têm um jeitinho doce de balançar a cabeça enquanto falam, que você nunca sabe se quer dizer “sim”, “não”, “talvez” ou se é apenas uma confirmação de “estou te ouvindo”.

A comida é deliciosa, e é o paraíso dos vegetarianos! Além de que dizem por aí que é a comida mais saudável do mundo, né? E ah, quando a pimenta arder demais — acredite, ela vai arder — tá tudo bem. Pede um curd ou um lassi que fica mais fácil de encarar ;)

Como ainda estou nesse período de lua de mel e de encantamento em que tudo parece mágico e interessante, vou deixar para comentar sobre as contradições e as dificuldades de estar aqui em um outro momento.

Por agora, estou feliz. Estou em casa.

Estou exatamente aonde deveria estar.

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Jess Comin
Revista Passaporte

Backpacker. Anthropologist wannabe. Innovation Lead. Strategy, Design & Social Impact. And sometimes I write… Insta: @jesscomin | Vimeo: jesscomin