Coisas que aprendi em um mini intercâmbio de inglês que vão muito além do inglês

Aline Castro
Revista Passaporte
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4 min readJun 20, 2018
Foto que tirei na última noite (01/06/2018), vista do rooftop bar at The Envoy Hotel

Aos 33, com emprego estável, cargo bacana, divórcio na bagagem e um dinheirinho na conta que permitia escolher com tranquilidade o destino das férias. Já falo inglês (bem, sem falsa modéstia), já turistei pela terra do tio Sam algumas vezes.

Europa? Cruzeiro pelas ilhas gregas? Ilhas Maldivas? Ná. Acabei em Boston, Massachusetts, USA. Fui para desenferrujar a língua e para ter a experiência que queria ter quando era adolescente: ficar em um casa de família, dessas de subúrbio americano, e vivenciar, mesmo que só por 15 dias, a experiência de morar lá.

O que eu não esperava é que os aprendizados que eu colheria iriam muito além do upgrade no inglês. Mentira, eu esperava sim. Mas por mais que a expectativa fosse ter uma experiência incrível, o que tinha na minha mala de volta foi bem além do óbvio (e de um iPhone novo e umas roupinhas de marca, como boa brasileira :P).

1) Viajar sozinha é simplesmente sensacional - As pessoas queridas da minha vida que me perdoem, mas a experiência com qualquer uma delas teria sido completamente diferente (e menos enriquecedora, bem provavelmente). Além da liberdade de traçar meu próprio roteiro, de “perder a hora” lendo um livro no parque, de almoçar cheesecake ou qualquer outra coisa que desse vontade, percebi que estar sozinha me coloca muito mais aberta ao mundo. Sem ter em quem me apoiar, me sentia simplesmente “lá”, no momento, precisando me virar a todo instante. Tudo dependia única e exclusivamente de mim. E percebi que não precisava realmente de ninguém para fazer as coisas que queria. Na minha última noite em Boston, optei por me despedir da cidade em grande estilo. Resolvi ir em bar badalado no topo de um prédio. Não era um lugar tipicamente turístico. Era frequentado por americanos mesmo, a maioria fazendo happy hour. Lá fui eu, all by myself. Se vão pensar alguma coisa de uma brasileira sozinha em um bar? E se pensarem? Vi um pôr do sol incrível, que vai ficar na minha memória para sempre. Estava comigo mesma. Bem comigo mesma. E isso bastava.

2) Não tem problema cometer erros – Eu tinha um certo trauma. Há uns 10 anos, estava em Chicago e uma atendente de uma lanchonete foi rude comigo porque não conseguia entender o que eu estava pedindo. Travei a língua no resto da viagem, com vergonha de cometer outros erros. Felizmente, isso foi superado. Muito superado, aliás. Não apenas porque hoje eu falo melhor, é claro, mas porque percebi que “dane-se” se eu falar uma ou outra coisa errada. Errar alguma pronúncia, tempo verbal ou whatever não me diminui. E pode até ser engraçado às vezes! Tipo no dia em que queria falar “soap” (sabonete) e falei “soup” (sopa) Haha. O que importa é falar, sem medo. Repetir, se preciso.E se alguma palavra me escapava durante uma conversa, era uma ótima oportunidade para eu perguntar como dizer aquilo de uma forma melhor! Caramba, quanto vocabulário eu aprendi desde que assumi que tinha coisas que eu não sabia, mas que bastava perguntar… Assumir nossas imperfeições é lição para a vida.

3) Interesse é tudo! — Juro, eu realmente notei progresso no meu accent rapidinho, depois de uma semaninha lá. E vou ser bem convencida mesmo ao ponto de dizer que já falava muito melhor do que alguns alunos da sala, que estavam lá há meses. Eu não ficava olhando o celular durante a aula. Eu fazia homework. Eu aproveitava o intervalo para ler alguma coisa em inglês ou para explorar os professores com perguntas aleatórias (e eles gostavam desse interesse todo). Enfim, sabe aquela história de que quem faz a escola é o aluno? É por aí, só que vai além. Tem que mergulhar de cabeça no que você se propõe se você quer ter tudo o que aquela experiência pode te proporcionar.

4) Férias são para descanso #sqn – Acordei 6:30 todos os dias, andei milhas e milhas, peguei ônibus e metrô lotados, chuva, carreguei sacolas pesadas e arrebentadas, dormi em um colchão ruinzinho. “E eu podia estar num hotel all inclusive tomando um mojito de frente pro mar”. Sim, podia. Talvez fossem “férias com cara de férias”. Mas o que isso teria me acrescentado? Não estou dizendo que não preciso de descanso. Claro que sim! Mas aproveitar a folga para um aperfeiçoamento pessoal pode ser igualmente revitalizador. Voltei com o corpo cansado, mas a cabeça aberta, o coração feliz e o espírito pleno. Tem jeito melhor de voltar a trabalhar?

5) O universo tem um milhão de possibilidades (ou bem mais que isso) – Senti isso a todo instante durante a viagem. Parece que cada escolha que eu fazia lá se desdobrava em uma nova oportunidade. Comecei a pensar o quanto nos limitamos quando permanecemos em nossa zona de conforto, viajando com as mesmas pessoas, para roteiros que são literalmente lugares-comuns. Em 15 dias, conheci gente do Taiwan, Japão, Turquia, Bolívia. Conversei com mulheres muçulmanas, com americanos nativos, com imigrantes legais e ilegais. Gente tão diferente e tão igual a mim ao mesmo tempo, que a vida colocou naquele instante no meu caminho.

Quanta coisa perdemos quando tiramos férias para assistir Netflix? O que deixamos de viver por medo de passar vergonha, por falta de companhia, por achar que estamos velhos demais?

Se podia ter feito uma ou outra coisa diferente, se paguei alguns micos, se parecia uma adolescente indo para escola de mochila todo dia… Who cares? Para mim, sentir-me vulnerável foi justamente o catalisador que fez com que, ao final da viagem, eu me sentisse tão plena.

Que venham as próximas experiências nacionais, internacionais, intergalácticas. E que elas possam sempre traduzir para mim os mais diferentes sentimentos e significados — seja em qual língua for.

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Aline Castro
Revista Passaporte

Gosto de me estranhar e não gosto de palavra acostumada.