Colecionadora de casas

Dayanne Dockhorn
Revista Passaporte
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3 min readJul 4, 2019

Eu nunca fui de colecionar nada, mas hoje eu coleciono casas.

Essas casas não são minhas, eu as guardo apenas na memória. Entendi que não é preciso tê-las para guardá-las aqui. Mas é uma coleção formada por acidente. Não é que eu faça questão; elas simplesmente vieram e ficaram.

Não importa se eu estou tomando café com a minha família no Brasil, se eu estou andando de bicicleta no Uruguai ou na Grécia, se estou fazendo trilhas nas montanhas do Peru ou do Equador, ou aprendendo novas palavras em espanglês no Texas ou na Flórida: eu aprendi a viver em todo lugar. E eu aprendi a tornar todo lugar que eu chego a minha casa.

Como nômade, eu aprendi na marra, sem ter plano B caso tudo desse errado. Sem pensar antes. Mas, principalmente, eu aprendi a viver aqui.

Aqui, na primeira casa que eu tive, que você teve, e que todos nós facilmente esquecemos.

Hoje, para mim, ser nômade significa ser a sua própria casa.

E eu também aprendi a viver aqui, em um lugar que está sempre em transformação, em uma pessoa que nunca permanece igual.

Estar neste constante movimento significou uma mudança no meu sentido de lar incontáveis vezes, até que a mudança em mim se tornou o meu lar acima de tudo.

Quanto tempo é preciso ficar em um lugar antes de chamá-lo de casa? me perguntaram.

A resposta que eu tenho agora é esta: não é sobre tempo.

Embora leve tempo para se sentir em casa, é o sentimento que transborda naquele lugar que permite chamá-lo casa. O ritmo dos dias vai mudando e ganhando uma nova forma. Se adapta ao novo ambiente. Há mais tipos de feijões aqui. Vamos prová-los. Há frutas diferentes e desconhecidas. Quer um pedaço? O nome do morango aqui é outro, da banana também. Praia pede para aproveitar a luz do dia, vamos dormir cedo? Caminhar com o cachorro todos os dias às 17h e ver o pôr-do-sol. Há expressões e sotaques novos que já são nossos ahorita, mami.

Os dias tomam forma naturalmente. Não faço agenda, não planejo. Tudo toma forma. Forma, essa, tão original, tão minha, que depois é fácil olhar para trás e lembrar exatamente como era. Não tenho medo de esquecer nada.

Sou nômade, poeta, escritora. Arqueóloga e antropóloga por formação. E também sou muito mais do que isso. Meu nome é Dayanne. Se você gostou do que leu, me escreva!

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Dayanne Dockhorn
Revista Passaporte

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