Como planejar um intercâmbio? Veja 6 dicas para tirar ideia do papel

Apesar dos altos valores de investimento, programa proporciona experiências e oportunidade de crescimento a estudantes

Jennifer Vargas
Revista Passaporte
8 min readJul 26, 2020

--

como planejar um intercâmbio, passaporte brasileiro
Passaporte brasileiro | Foto: Arquivo pessoal

Comecei a pensar sobre estudar fora ainda bem novinha, quando era um sonho distante e quase fora da realidade, já que um investimento deste porte exige mais (MUITO MAIS) do que vontade, tempo e dinheiro. Mas afinal, o que é preciso e como planejar um intercâmbio?

Por ser um projeto caro, quando você coloca apenas na ponta do lápis, a tendência é deixarmos ele lá guardado na caixinha dos sonhos. Aquela do “ah, um dia eu consigo”, “morro de vontade, mas…”, “quando tiver mais dinheiro”, “quando ganhar melhor” ou “quando acabar a faculdade”.

O fato é que a vida acontece e outras coisas vão surgindo e nos deixando ainda mais distante daquilo que já parecia difícil. Termina a faculdade, começa um namoro, casa, tem filho, adota um cachorrinho, aluguel, doença na família, uma posição legal no trabalho… Até que a tal da caixinha fica cada vez mais difícil de abrir e sobra só aquela pontinha de frustração, que às vezes a gente nem entende de onde vem.

Falo para todo mundo que se olharmos só os números, a impressão é de que a coisa nunca vai acontecer ou de que com o dinheiro daria para viver toda uma vida. Bem, isso até pode ser real, mas aí caímos na questão do que é realmente prioridade para você. Para alguns, ter um segundo idioma, conhecer pessoas de diferentes nacionalidades ou viver uma experiência em outro país não é um objetivo, e tá tudo bem. Para mim, por exemplo, ter fluência um segundo idioma é o pré-requisito para conseguir boas colocações e atuar na minha área.

Mas meu grande estalo mesmo foi quando pessoas próximas começaram a ir para fora. Um conhecido aqui, outro ali. E de repente, uma das minhas melhores amigas. Sabe aquela luz que te surge como um sinal? Eu precisei disso para ter certeza de que eu também era capaz de me organizar e planejar para fazer meu intercâmbio acontecer. Mais uma vez: não é fácil, nem de longe, mas seguindo alguns passos é possível. Você passa a enxergar os planos de maneira diferente e pensar em formas de encaixá-los em seu orçamento.

Como inglês é o mais procurado geralmente pelos brasileiros, vamos focar nele. Listei seis itens principais para quem está com essa ideia na cabeça, mas ainda precisa de um empurrãozinho para acreditar e colocar os planos em prática. No fim você vai perceber que o sonho pode estar mais próximo do que parece.

  1. Primeiro passo: entenda o seu perfil

Uma das coisas que a gente geralmente não pensa é sobre a importância de entender exatamente qual é o momento de vida em que você está. Por mais bobo que isso possa parecer, uma autoanálise rápida pode te livrar de escolher um programa que não tenha nada a ver com o seu estilo.

Neste momento tudo é válido, não descarte nada ainda. Algumas perguntas genéricas que podem te ajudar são:

  • Sou mais do dia ou da noite?
  • Prefiro agitação, dias mais tranquilos ou meio a meio?
  • Gosto mais de frio ou calor?
  • Eu me adaptaria ao clima de x lugar?
  • Quero trabalhar durante o período ou vou só estudar?
  • Quero viver a cultura do local ou ter mais contato com estudantes?
  • Quais são as minhas expectativas?

2. Defina seu objetivo

Um complemento do primeiro passo, este é o momento em que você começa a afunilar as informações reunidas e agrega à parte mais tensa do projeto: tempo e dinheiro. Dá um leve desespero? Dá, sim, senhor. Mas vamos com calma!

Qual seu nível da língua? Isso é importante porque pode estimar em quanto tempo você conseguirá trabalhar no país de destino. Claro, há os casos em que a pessoa não fala nada, chega na primeira semana e já consegue um job para se manter por lá, mas este é o cenário positivo, melhor trabalhar com a pior hipótese para não ter surpresas.

Quanto tempo pretende ficar fora? Isso mexerá diretamente em seu orçamento, portanto a definição dele talvez seja também um combinado de quanto você terá disponível de grana. Ao mesmo tempo, é importante lembrar que o investimento é alto e se o seu objetivo for buscar fluência na língua, isso não se consegue em um mês.

Por que você quer viver um intercâmbio? Por trabalho? Pela experiência? Para viajar? Ou pela ideia de diversão? Sei que dói ouvir isso, mas: as fotos do Instagram te enganaram. Vida de intercambista infelizmente não é esse mar de rosas que parece, tenha isso em mente. É literalmente começar do zero. A galera rala muito para viver bem no país, pagar contas, ter que se dividir entre os estudos e ainda lidar com a saudade de casa. Conhecer novas pessoas, juntar dinheiro e viajar também fazem parte, mas não é regra.

3. Pesquise os países

Essa é a parte mais legal. Tendo em mente qual é o seu perfil, a língua e seus objetivos, resta pesquisar sobre quais países e cidades podem se encaixar dentro do que você definiu.

Entre as coisas que você deve focar são: clima, cultura local, moeda, visto, suporte financeiro e possibilidade de imigração (se houver interesse).

Caso você queira/precise trabalhar, há apenas quatro países que permitem que um estudante de inglês trabalhe legalmente no período do intercâmbio, com algumas restrições referente ao período do curso escolhido, são eles: Austrália (14 semanas), Irlanda (25 semanas), Nova Zelândia (14 semanas) e Malta (liberado para trabalho somente após 13ª semana de aula).

Outras opções, como Canadá, África do Sul ou Inglaterra, por exemplo, o aluno tem que provar proficiência na língua e estar matriculado em um curso superior (e não de inglês). Outra opção é aplicar através do programa de Pathway, em que você atrela uma espécie de “reforço” de inglês mais acadêmico antes de iniciar o curso superior, um preparatório. É uma ótima alternativa para quem não quiser encarar a pressão de tirar notas altas em testes complexos como o TOEFL e IELTS.

4. Escolhendo a agência

Como até aqui você já sabe bem o seu perfil e objetivos, além de já conhecer um pouquinho melhor sobre os países que podem se adaptar ao seu estilo de vida, a hora é de procurar uma agência de intercâmbio.

Comece conversando com o máximo de pessoas conhecidas que já passaram pela experiência e vá anotando as referências para iniciar o contato e solicitar as cotações.

No meu caso, como eu acompanhei todo o processo da minha amiga com a Information Planet, ficou difícil escolher outra depois. Ela também chegou até a agência por indicação, o que deu uma segurança dupla. Até pedi cotações em outras, durante o fechamento, mas o preço e a forma de pagamento deles foi imbatível. Sem contar que desde o primeiro contato, foram solícitos e atenciosos. E olha que eu, indecisa que sou, pedi muitas cotações, MAS MUITAS MESMO. E para todos os países possíveis, acredite ahahaha

Mas lembre-se: você está pagando e um valor muito alto para não sanar todas as dúvidas e angústias possíveis. E a agência tem que estar preparada para isso, ainda que encha o saco às vezes.

De qualquer forma, há muitas opções no mercado, algumas até que são focadas em cada destino. As mais conhecidas do mercado são as grandonas STB, EF e CI; mas há também as intermediárias já bem consolidadas, como: West 1, Link Study, Vital e Egali.

As dicas são:

  • peça cotações a todos, sempre no mesmo parâmetro;
  • verifique o nome e a reputação das escolas oferecidas por eles (algumas agências têm parcerias com escolas e acabam oferecendo sempre as mesmas, mas não necessariamente tão boas. Lembre-se que escolas melhores, apesar de mais caras, facilitam a aprovação do visto);
  • compare os preços, atendimento, feedback de outras pessoas em grupos do Facebook e reclamações em sites especialistas;
  • questione absolutamente tudo o que houver de adicional na cotação (transfer, acomodação, seguro saúde, seguro viagem complementar e etc), afinal, isso infla o preço e nem sempre é útil, com exceção do seguro saúde que é obrigatório;
  • fique atento aos benefícios, descontos e promoções que cada uma oferecerá;
  • analise as formas e facilidades de pagamento.

Dá para fazer o processo por conta própria? Claro, mas se você não tem nenhuma experiência internacional e sequer fala a língua com alguma segurança, ter uma agência com bom atendimento e suporte te dará mais confiança no processo.

5. Definindo o destino

Com essa imensidão de informações, é hora de mãos à obra! Para mim, depois de escolher o país, a parte mais difícil é definir a cidade, porque são tantas opções, características e variáveis, que a responsabilidade pesa.

Primeiro fechei Irlanda, fiz cotações para três cidades e optei por Galway, porque sabia o custo x benefício era melhor e o euro na época estava em torno de R$ 3,70. Há quem ame e há quem odeie. O receio do frio e da cultura até bateram, mas eu buscava pensar que não adiantaria ficar sofrendo com o que não dá para mudar, teria que me adaptar como fosse possível.

O que barrou na verdade essa opção foi que a escola que eu havia escolhido informou que só faria minha matrícula antecipada (eu fechei em outubro de 2017 para ir em meados de 2019), com uma taxa de 500 euros por ano, ou seja 1.000 euros, que convertido ficaria em quase R$ 4.000.

Com esse entrave, foi fácil voltar atrás e ir para onde meu coração sempre bateu mais forte: Austrália. Parece que as coisas realmente acontecem como tem que ser, né?! Já tinha amigos em algumas cidades por lá, como Sydney, mas foi por Gold Coast, um lugar completamente diferente de São Paulo, que meus olhos brilhavam.

Apesar de ser no mesmo país, os estados podem ser muito diferentes entre si, desde temperatura, transportes, custo de vida e até costumes, da mesma forma em que acontece no Brasil. Uma pesquisa refinada te ajuda a entender como é a vida naquele lugar, então busque por textos na internet, entre em grupos de intercâmbio no Facebook, veja vídeos de pessoas que estejam no destino escolhido e até mesmo no Instagram, onde você consegue acompanhar a rotina quase que em tempo real.

Tenha em mente que a sua nova vida precisa ter o mínimo de afinidade com você, com uma rotina que você goste e que, ao mesmo tempo, te traga oportunidades de crescimento.

6. Planejamento final

Não tem jeito, agora que você já delimitou todo o programa, detalhou valores, informações e documentos, vem a parte mais difícil, se organizar financeiramente, fazer algumas renúncias e lidar com toda a ansiedade da espera.

Mantenha contato frequente com a sua agência para se ambientar com todas as novidades do intercâmbio, do país que você irá e até da escola. Essas pequenas coisinhas também ajudam a canalizar a ansiedade até que a data de seu embarque chegue.

Mesmo assim, saiba que nós nunca estamos preparados para o desconhecido, mas uma das lições deste momento é exatamente essa. Adaptação em um novo lugar não é fácil, exige muito da nossa cabeça, da nossa disposição em conhecer outras pessoas, do controle emocional para segurar as pontas da saudade e uma boa dose de paciência, porque nem tudo acontece no tempo em que a gente quer ou espera.

Tudo aquilo que um dia você pensou que não sentiria, em um intercâmbio vem à tona. Os desapegados ficam apegados, os amigos de um mês parecem de anos, uma gota vira um oceano e a gente passa a sentir afeto até pelo mais singelo ato de generosidade. Morar fora pode parecer uma novela, mas não é. Então esteja preparado para encarar a vida real com todos os seus percalços.

De uma coisa ninguém discorda, para o bem ou para o mal, um intercâmbio é sempre marcante, te leva ao limite, te ensina e ainda abre os olhos para muitas questões da vida. Por isso se prepare, você está prestes a viver o momento mais maluco e incrível da sua vida!

Me conta aí, o que está faltando para fazer o sonho se tornar realidade?

--

--

Jennifer Vargas
Revista Passaporte

Jornalista, pós-graduanda em Jornalismo Investigativo. Autora do livro “Crimes de Maio de 2006”, um dos TCCs em destaque no 10º Congresso da Abraji, em 2016