Curitiba-funk-city

péssima referência, yo sé — 1/2

Samara Lima
Revista Passaporte
3 min readMay 24, 2020

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A primeira vez que visitei Curitiba foi por destino, acho.

arquivo pessoal [2019]

Fiz essa viagem com uma amiga; a principio até contestei a possibilidade, mas ela me convenceu em menos de uma piscada, fazer o quê? risos.

Passagens compradas, o próximo passo era encontrar lugar para ficar. Resolvi procurar por hosts no Couchsurfing (CS), e, mesmo sendo poucos dias, dividi nossa estada em duas casas diferentes.

Minha amiga queria conhecer certos atrativos — criava lista, esboçava planos e horários, e eu a deus-dará sem saber por onde nossos pés nos levariam.

No fim das contas, tudo certo! Equilibramos bem o que uma ou outra queria ver ou fazer. Visitamos tanto atrativos turísticos quanto brechós aos montes: muitos mesmo, como eu nunca havia visto antes.

Entre outras coisas, fomos a espetáculos de rua — interagimos com um teatro-performance — , a uma manifestação e à rua dos bares, onde as pessoas não se sentam: transitam a noite toda de bar em bar com um copo na mão.

Descobrimos que em Curitiba é possível, quase sempre, comer e beber por um valor justo; chopes artesanais, comida vegetariana a preços acessíveis. Isso me encantou bastante, assim como o fato do transporte público funcionar: um dos Brasis que eu quero é esse.

Para além de todos os prazeres que é descobrir um lugar novo, existem ainda os encontros com estranhos que naquele momento nos são próximos: amigos até virarmos a próxima esquina para nunca mais, quicá.

em uma manhã
enquanto tomávamos café em uma padaria estranha bege e amontoada de coisas
reparamos em uma senhora que passou pelo balcão e começou a encher potes com açúcar
pergunto algo a ela — não lembro o que — que responde, então, que não saberia me dizer pois não trabalhava ali
quase em seguida ela começa a sentir dor na perna, por conta de uma queda ou cirurgia, não lembro também
sentada, em poucos minutos partilha suas vivências e lembranças de viagens
contou sobre uma rota de ônibus que descia pelo sul do Brasil e ia até a Argentina; não existe mais
ouvimos e ouvimos essa, outras viagens e histórias de amor,
e,
nos despedimos, mas ficou um convite dela para ver fotos de viagem e aprender receitas árabes

Prometi visita.

Quando digo que foi por destino é porque eu não imaginava as reviravoltas da vida.

Semanas depois dessa viagem-sul, e, um dia após voltar de outra viagem que fiz para o cerrado, algo aconteceu: veio um pensamento de que eu deveria me mudar para Curitiba, como um sopro.

Mudar era desejo antigo, mas nunca me movi por achar que era difícil decidir para onde, se por tantos lugares eu era encantada.

Aliás, devo dizer que não me apaixonei por Curitiba naquela primeira viagem; a cidade me cativou e eu a elogiava sempre que possível, porém, nunca pensei em morar, ou mesmo voltar.

Tudo girou, portas abriram: o movimento foi tranquilo, da decisão à mudança em si. Parecia fazer tanto sentido que acabei me mudando para uma das casas onde me hospedei naquela primeira vez: como se eu tivesse que encontrar as pessoas certas antes.

Depois da mudança e de ter me habituado aos prédios da vizinhança, percebi que morava muito próxima à padaria da senhorinha dos potes de açúcar.

Por várias vezes pensei nela, em reencontrá-la.
Ainda devo a visita.

arquivo pessoal [2018]

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Samara Lima
Revista Passaporte

viagem, café, cinema, paisagem. aqui, pouco ou nada disso.