Do outro lado do mundo, existe uma cidade desigual, sem novidades.
Existe uma Avenida Paulista para chamar de sua, existe uma favela para chamar de deles. Existem guloseimas que compram crianças.
Existe o boteco e resiste o bêbado.
Do outro lado do mundo existe um povo sorridente.
Persistente e que insiste.
Existe o pão feito na hora, existe o furador de fila, existe o tio do cachorro quente 24 horas.
Existe a briga do casal, existe o nobre, insiste o pedidor de esmola.
Existem também as zil diferenças.
E, com razão, este é o outro lado do mundo.
Para o nosso lado, ele é talvez, o ponto de ancoragem final.
O que intriga, nem tanto são as coisas que os diferem. São sim as semelhanças insistentes que os aproximam.
Todos querem fugir para os seus grandes sonhos. Seja o Alaska, a Disneylândia ou o moksha nirvana.
Todos querem curar suas feridas, todos querem acabar com a dor. Seja o remédio importado, a heroína ou o homem para sentir amor.
Todos querem ser alguém. Seja a mãe para o filho, o empresário para a empresa, o jardineiro para o jardim.
Seja qual for a sobremesa, o que todos querem não é o menu, é a gentileza.
Se querem ou não, não tem a ver com a paz mundial.
Ter a ver com dormir em paz no dia de ceia do Natal.
As semelhanças mais do que existem.
Elas resistem.
Elas são fortes.
Elas insistem e apelam para a sorte.
Para viajar basta existir. PESSOA, Fernando.
