de barco #8

Café das sete
Revista Passaporte
Published in
7 min readAug 28, 2020
Encontre o Guariba (macaco) na foto!

Oi! Esse é um diário de viagem, temos parte 1, 2, 3 ,4, 5 , 6 e 7

12/01/2019

guaribas invadem meus sonhos

Acordo às 5hrs ao som de gritos de macacos. Um som bem alto característico da espécie dos guaribas. Eu já tinha ouvido esse som lá na minha visita ao MUSA, mas agora o som estava bem perto e me assustou. Fico pensando se eles vão invadir meu quarto. Que é uma estrutura toda de madeira, que não fecha completamente a porta e as janelas, na qual estou sozinha e alguns metros de distância da casa principal e das outras pessoas. Volto a dormir em meio a minha imaginação fértil de um possível ataque de macacos e os sonhos que me embalam na mesma vibe. Acordo às 8h de novo com o som dos macacos. Decido ir tomar café, quando saio vejo os macacos lá no alto das árvores, bem perto do meu quarto. Tomo café e outros macacos menores chegam para comer bananas na nossa mão. Eu e uma moça que toma conta do café e que não fala muito português nos entretemos alimentando os macacos menores, que parecem inofensivos perto da minha experiência da madrugada.

Vista do meu café da manha e da meu quarto

Volto para a mesa pra pensar meu dinheiro e os passeios, decido ir em três e usar dinheiro do PC, que juntei e estava na minha conta. Vejo que o orçamento da viagem dará apenas para alimentação. Decido ir para o centro. Na estrada enquanto caminho peço carona, os carros me ignoram até que um deles para. Conheço José, que me conta ser difícil caronas ali no trajeto, mesmo que seja uma linha reta, na qual todos seguem para mesma direção: a praça central de Alter. Ele me pergunta se eu imagino porque as pessoas não dão carona. Eu chuto que talvez possam ter medo de serem roubadas e ele me adverte que a cidade é muito pequena, por isso, furtos e roubos não são comuns. Já que todos se conhecem, vivem numa cultura de turismo e a pessoa que cometesse tais atos seriam fortemente reprimidas pela comunidade. Eu questiono, então porque não dão carona? José me responde, porque os hippies não gostam de tomar banho! Dou uma risada e pergunto porque ele decidiu parar. Ele me responde que eu não tinha cara de muito hippie, só um pouco. Me despeço de José e vou em busca de um almoço barato.

Almoço por 15 reais, subindo uma rua acima da praça principal, dica que tinha pegado com Tucuxi no dia anterior. Pago os 5 reais pra atravessar e vou pra ilha, dessa vez estou de biquíni, chinelo e decido ficar numa parte mais vazia de pessoas. Decido ir caminhando até a Serra da Piroca , no meio do caminho algo me diz que eu preciso comprar uma garrafa de água, mas deixei passar todas as barracas e fico com preguiça de voltar. Já tinha lido que era tranquilo ir sozinha nessa trilha e vou caminhando. Coloco um som e vou me divertindo entre fotos, músicas e o ar de aventura. Começo a sentir sede, estou há uns 20 minutos na trilha e percebo o erro de não ter levado água, no caminho algumas lixeiras com garrafas vazias me lembram da sede quando acho que estou me esquecendo. Subo até quase topo, sem água eu canso e volto.

Caminho pela areia até a primeira barraca, onde compro duas garrafas e bebo de uma só vez. O dono da barraca me pergunta: você subiu a serra e não levou água? Eu consinto com a cabeça e ele ri. Fico na ilha e tento mandar mensagens para a Victor que não responde. Praia me dá uma vontade de companhia. Duas cervejas e um porção de bolinho na barraca da sereia. Decido nadar. Como é boa a sensação de nadar numa “praia” de água doce. Gravo o pôr do sol e volto pra ilha.

Quando chego uma banda toca carimbó e as crianças dançam no centro de uma roda improvisada, me sento no chão para observar, outras pessoas dançam e eu fico com vergonha de dançar. Mas, extremamente mexida com aquele som e as mulheres que giram e balançam suas saias enquanto dançam flertando com seus pares. Encontro por acaso Victor e Marlena andando na praça.

Eles me contam de um evento de carimbó que terá naquela noite e eu fico feliz que terei a minha chance de girar e dançar. Victor e eu compramos um passeio com Tucuxi pelo Whatsapp para o dia seguinte e combino com eles de voltar para o evento. Vou no Hostel e tomo banho, tento achar moto táxi para voltar, nenhum atende e chamo táxi mesmo, combino 30 reais ida e volta. Ainda é cedo e decido jantar antes de encontrar com Marley e Victor. Peço o famoso (pra quem assiste Masterchef) pato com tucupi. O prato chega e é lindo, mas quando comi eu não curti muito, achei forte e a carne não estava bem cozida, comi como deu e quando garçom me pergunta se gostei, sou franca: não muito! Ele se assusta e diz que sou a primeira a dizer isso, tento me explicar sobre ter achado forte, mas educadamente encerramos o papo e ele encerra minha conta. Saio em direção ao Espaço Alter.

Apesar da aventura de subir a serra sozinha e morrer de sede. Ou do evento que vem a seguir, esse foi um dia daqueles que considero importante nas viagens mais longas. Digo longas, porque eu entendo que em poucos dias a tendência é querer fazer mais coisas, esse luxo parece mais possível com uma viagem de mais dias. Um dia de encontro eu comigo mesma. Viajar sozinha tem me trazido alguns ensinamentos, um deles é o prazer de curtir a própria companhia. Geralmente a gente enche o roteiro de atividades ou de lugares para conhecer e acaba perdendo uma oportunidade que eu amo muito, que é de não fazer nada. Nesses dias eu aproveito para escrever, ficar só observando, dar uma olhada no rolo da câmera do celular e ver tudo que já aconteceu, ou nas postagens do stories e sentir a narrativa que estou criando. É um dia que gosto de deixar “vazio” mesmo. Sem atividades e programação específica. Existe um termo que pode ser lido como mal visto ou como Charles Baudelaire descrevia que diz um pouco disso, flanêur.

se refere a alguém que observa a cidade ou seus arredores, e experimenta um verdadeiro passeio não só fisicamente mas também um pensamento filosófico e uma forma de ver e sentir as coisas.

suor do carimbo

Chego e encontro Marlena e Victor tomando drinques feitos com jambu servidos numa cuia. Acho lindo e forte, peço um, mas logo depois vou doá-lo a Victor porque minha boca ficou dormente por inteiro. De novo sou pura turista, no Espaço Alter a pista de dança é de areia e eu de all star e saia jeans denuncio que sou de fora. Mas, não deixo de dançar, tiro o tênis e fico descalça e começo a girar e dançar na pista. Uma banda regional toca um carimbó misturado com brega e eu fico apaixonada com o vocalista. O grupo se chama El puxirum o som deles é muito bom e envolvente, como toda música nortista que eu já tinha durante a viagem. Dado momento eu saio da pista porque me lembro do passeio do dia seguinte no qual faria uma caminhada de 4hrs. Entretanto começa a tocar a música Piranha e eu volto correndo pra dançar. Amo esse som, bem antes da viagem.

Acaba o show e já é madrugada. Marlena me convida pra dormir em sua casa, que fica próxima ao centro, local de encontro do passeio. Eu aceito o convite e vou no hostel pegar minhas coisas e volto pra dormir na casa da paraense. Ela mora numa casa grande, com um quintal grande e uma energia muito boa e está recebendo Victor em sua casa, amigos em comum proporcionaram o encontro dos dois. Victor seria meu companheiro no passeio do dia. Caminhamos pelas ruas vazias na madrugada de Alter, vamos dormir por volta de uma 4hrs para acordar as 8hrs e fazer uma trilha de 4hrs, depois de passar as últimas horas dançando sem parar no chão de areia. Me questiono se vou conseguir, mas acordo feliz e disposta, Victor me prepara uma tapioca com queijo e ovo, tomamos café da manhã e seguimos para encontrar Tucuxi na praça central.

… continua em “dentro da floresta” — de barco #9

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Café das sete
Revista Passaporte

Por Helena Merlo. MUITOS erros de digitação pq eu escrevo na fritação do sentimento! CATARSE. "A arte é uma confissão de que a vida não basta" F.Pessoa