De Konstanz para Hamburg

Luis Couto
Revista Passaporte
Published in
3 min readSep 15, 2021

Cheguei em Konstanz, na Alemanha, em um sábado de março pela noite, em plena pandemia e clima frio. Me casei na cidade, conheci pessoas incríveis e outras nem tanto, vivi, sorri, chorei, corri e nadei, aproveitei muito bem meu tempo numa das regiões mais bonitas da Alemanha. Deixei a cidade levando 2 malas e uma mochila com algumas roupas, histórias vividas e outras criadas pela força do hábito, além de medos e sonhos, tudo embaraçado como a ponta do meu cabelo que se enrola. Como na chegada, sai quando ainda estava escuro e sem sol. Porém na saída, diferentemente de quando cheguei, não era a escuridão da noite que me acompanhava e sim a que antecede o amanhecer do dia.

Estava partindo para uma nova etapa da vida, Hamburgo.

Arquivo pessoal — Hamburg

Estou há pouco mais de um mês na cidade de Hamburgo e me sinto como se já morasse aqui há muito tempo. A cidade é a segunda maior da Alemanha e não é muito difícil ser mais um na multidão. Eu sou natural de São Paulo e o que me cativa em metrópoles é a liberdade de ser o que quiser sem ser percebido, o anonimato, e as opções de lazer. Nesse quesito, a cidade não é rica, mas sim milionária no aspecto cultural e artístico. Eu me entretenho fácil observando a arquitetura de alguns prédios históricos, o porto e as estátuas espalhadas pela cidade, que despertam minha ingênua curiosidade. Aqui venta muito e eu, pessoalmente, que não gosto de pentear o cabelo, tenho isso como uma vantagem.

Arquivo pessoal, centro de Hamburg, Elbphilharmonie de fundo

O bairro que estou morando atualmente fica a 20 minutos de metrô do centro, é predominantemente residido por estrangeiros, das mais diversas culturas, africanos, sírios, libaneses, peruanos, etc. Esse choque cultural entre diferentes etnias é rico e facilmente visto nos diferentes restaurantes que tem pelo bairro. Porém, as diferenças religiosas e culturais também causam atritos e é facilmente percebido em grafites e pichações espalhadas pelos muros do bairro. Algumas mensagens de amor e outras de ódio se misturam nos concretos. Frases soltas de algumas pichações espalhadas pela cidade se conversam, já me perguntei se isso é proposital, se algum artista realmente os escreveu ou se é somente minha fantasia querendo encontrar fatos em coincidências. Ainda não encontrei resposta.

Arquivo pessoal — Tradução “ Não fique bravo se um pássaro estiver sobre sua cabeça, ao contrário, fique feliz que elefantes não voam.”

Semana passada saí pela primeira vez em Hamburgo, ainda está tudo muito limitado devido ao corona, mas assumo que foi bom ver pessoas em clima de festa. Somente pessoas que já estão vacinadas ou com teste negativo podem entrar nos locais. Jovens e adultos eufóricos caminhavam pelas ruas da cidade. Sorrisos, olhares e malícia circulavam sem restrição de pandemia, a night life da cidade está voltando a pulsar lentamente. A chama da esperança de que tudo voltará ao normal está baixa, quase invisível para a maioria. As luzes artificiais de smartphones e postes a ofuscam, mas a chama da esperança é resistente e não apagou. Que venham os próximos meses com muitas histórias nessa cidade que já me enfeitiçou com seus ares de fantasia.

--

--

Luis Couto
Revista Passaporte

Born in Brazil, living in Germany. Writing in Portuguese and English. Looking for smiles behind the masks. couto.lf@gmail.com