Somos criados com muitos pré juízos e suas escravas nomenclaturas. Para pertencer, precisamos ter um nome de país, de profissão e de magistratura. Em certas fronteiras, precisamos inclusive e, por civil obrigação, ter até um nome de religião.
Precisamos nos apresentar e sermos apresentados por uma porção de conjecturas e fantasias. Precisamos ser apenas uma ou duas coisas para facilitar os mais perdidos, os mais céticos e a poesia.
E tudo bem. O ser humano sempre quis pertencer. Mas o que não se comenta na mesa da entrevista e no banquete do natal, é que ao invés de construir, o caminho da liberdade é o de destruir.
Destruir os títulos, as fronteiras, os cargos, a linhagem e as asneiras. Deixar as palavras bonitas para os que se satisfazem com baboseiras.
Um dos tais títulos que ando destruindo com exaustão é a tal história da geo-habitação. Parece que as pessoas tem por obrigação escolher um único, inalienável e intransferível lugar para morar.
Juridicamente pode até ser, até porque as leis não acompanham a fluidez do espírito humano, mas as tradições e suas raízes estão aí para serem recordadas, podadas, replantadas, não somente veneradas.
Não estou falando de ser nômade, nem tão pouco mochileiro. Estou falando de ser livre para viver no mundo inteiro. Sem pressa. O tempo que quiser e quantas vezes quiser voltar.
Passar todos os carnavais em Aracaju, passar todos os verões na Bahia, passar todos os natais na tia. Em uma eterna sinfonia vagabonding.
Destruir o medo de não ter uma casa, para arriscar encontrar outros tantos lares. Destruir o mantra de pertencer a uma cidade, arriscar ser em outros tantos lugares.
Não sou inocente de acreditar que as pessoas vão entender essas palavras, mas certamente quem estiver pronto para ser livre vai entendê-las.
You only are free when you realize you belong no place — you belong every place — no place at all. Maya Angelou.
