Eu vou na janela

A paisagem na busca de uma vida com propósito

Jess Comin
Revista Passaporte
3 min readApr 15, 2018

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Faz um mês e meio que me mudei para a Índia.
Mais especificamente, pra Bangalore, o "Vale do Silício" da terra do Bollywood, do Gandhi e das contradições.

Mas entre as aulas, o trabalho e o entusiasmo em fazer novos amigos, praticamente não tinha ficado nenhum segundo sozinha ainda. Nem tinha separado um tempo para pensar direito na decisão que eu tinha tomado e em tudo que estava acontecendo. Na minha cabeça talvez eu só estivesse de férias. Tudo novo, divertido, interessante, sabe?

Mas não é a primeira vez que uma longa viagem de ônibus com a companhia de uma vista das boas faz algumas fichas caírem pra mim. E foi assim, na cara, PÁ: “caramba, acho que essa deve ter sido a decisão mais importante da minha vida até agora”.

Um vida inteira de reflexões por trás de uma janela

Ir embora, sem passagem de volta, aberta para o que tiver que acontecer e disposta a — talvez — deixar pra trás toda forma de vida que eu conhecia até então… Uau, quando foi que isso aconteceu?

Não ter planos poderia ser algo assustador, principalmente para uma pessoa ansiosa e controladora como eu, mas a verdade é que eu nunca me senti tão calma, tão bem.

Parece que tirei um peso enorme das minhas costas ao simplesmente não ter outra opção além de confiar. Me sinto livre, me sinto viva, como se tudo fosse uma opção, como se eu tivesse um mundo gigante de possibilidades pela frente. E olha só, de fato, eu tenho. Todos nós temos. Que grande privilégio é enxergar isso e poder aceitar o que vier, com paz no coração.

Já cheguei a ouvir que eu estou perdida, ou que não sei o que estou buscando. Mas a meu ver, se você já tem tanta certeza do que busca, não faz muito sentido procurar por algo. Eu sei o que quero pra mim e até acho que sei como quero viver minha vida, mas tem tantas outras coisas que eu nem sei que não sei, e que só vou encontrar por aí, no meio do caminho, quando elas quiserem me encontrar também.

Eu não estou perdida. Eu estou viajando. Aproveitando a paisagem, contemplando, desfrutando.

Estou viajando dentro de mim, dentro dos outros. Viajando pelas minhas vontades, pelas minhas angústias. Pelas minhas dúvidas e pelas minhas certezas que cada vez mais se transformam em dúvidas.

Estou em uma jornada por dentro de tantos aspectos da minha vida que é preciso muita coragem pra encarar tantas transformações ao mesmo tempo e se entregar a essa vontade de viver uma vida com mais propósito.

É claro que nada é completamente bom — ainda bem — e eu tive e tenho muitos dias cinzas. Mas hoje o dia está colorido. Ensolarado.

E é por isso que hoje eu escrevo.

Pra não esquecer que essa foi a minha escolha e que tudo vai ficar bem.

E que um dia em alguma longa viagem de ônibus eu vou parar e pensar “caramba, nem nos meus sonhos mais loucos eu imaginei que um dia chegaria até aqui”.

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Jess Comin
Revista Passaporte

Backpacker. Anthropologist wannabe. Innovation Lead. Strategy, Design & Social Impact. And sometimes I write… Insta: @jesscomin | Vimeo: jesscomin