Fica de olho no 1,2,3 Milhas, mulher.

Ana Medeiros
Revista Passaporte
Published in
4 min readApr 24, 2018

Desejo que toda mulher viaje sozinha uma vez a cada ano (no mínimo).Que encontre mulheres maravilhosas pelas cidades e se preocupe apenas em escutar ou acolher histórias e experiências tão reais e emocionantes de quem também vive sob as vastas violências diárias do que nos é ensinado sobre o amor. Que dance a raba no chão, tremendo, quicando, hipnotizando o bar. Que chore por 14h trancada em um quarto escuro acompanhada de gatos ou cachorros. Que passe um dia comendo biscoito recheado e tomando leite. Desejo que toda mulher em algum momento possa ligar o foda-se e sair de órbita, da rotina, da sanidade, dos filhos, das contas a pagar, do homem. Desejo que molhe os pés na água fria, depois mergulhe dentro do quentinho que é sentir-se abraçada por uma pessoa querida. Que tome champagne de graça em uma festa que chegou de penetra, que pague quase o dinheiro de uma mensalidade da academia em um drinque e que no dia seguinte fique sorrindo a toa com a caipirinha na jarra, feita com Tang. Desejo que toda mulher apenas durma até a hora que ela quiser embaixo de um edredom e usando meias, se sentindo a mais adulta e a mais infantil das mulheres, bem longe da sua cidade natal. Sexo tântrico, isso mesmo, desejo um sexo maravilhoso independente do estado civil, porque colega, qualquer mulher merece um sexo muito foda, devagar, gostoso, com um homem raro (Raro pq né? Tem homem que acha que preliminar é esfregar o pau na tua calcinha, tem homem que se dedica e fica louco cada vez que você geme sem precisar fingir, são coisas bem diferentes). Desejo que toda mulher tenha um encontro pra foder bem, não com o cara que jura amor na rotina ou daquele que vem atrás no Whatsapp pra comê-la, desejo que ela foda com amor pelo próprio gozo, porque ele (o raro) é isso, ele fode pra ela se sentir desejada, fode pra deixá-la tremendo no tapete, exausta, e fode também pra depois sorrir com ela de bobagens e reflexões certeiras sob uma cortina de fumaça, fode pra ceder a cama enquanto dorme no colchonete, porque sabe bem que hoje ela não vai precisar tirar o Lorax da bolsa. Apenas isso, apenas. Que no dia seguinte toda mulher possa pegar seu Uber em paz, trazendo as botas sujas nas mãos, o cabelo amarrado e o corpo marcado. Desejo que toda mulher possa olhar uma linda paisagem e agradecer, somente agradecer, que ela só tenha a agradecer. Que em outro momento ela olhe por cima da pedra e vá devolvendo pro universo em pensamento todas as pedrinhas menores que furaram seus pés. Desejo que toda mulher também possa comer bem, comer comida preparada no capricho, comida que a faça sentir-se alimentada de verdade, saborosa, quente e que não a exija engolir com pressa. E talvez o mais importante, desejo que ela escreva em um papel todos os seus limites, pra lembrar-se que dali não passa mais, ainda que doa demais e muitas vezes, ainda que saiba que pode sim fraquejar, que a volta não é um botão que se aperta e tudo se resolve. Desejo que toda mulher compreenda todos os seus processos e não tente jogar areia em si, que tudo bem se o retorno não tiver começado transformador, mas que ela tenha a consciência de que o caminho agora inevitavelmente é dela somente e de mais ninguém. Desejo que toda mulher chegue em casa e escreva no espelho da sua penteadeira “Eu sou uma pessoa incrível e vou cuidar dessa pessoa incrível”, com batom vermelho. Que ela possa ser somente ela por uns dias e que ande de avião muitas vezes, chorando com a lua que brilha tanto bem ali em cima da asa, chorando com o capítulo do livro que parece que foi escrito por ela, chorando com medo de colocar tudo a perder, porque muitas vezes a gente não consegue bancar mesmo quem a gente é, chorando pela sua mais cruel e exposta humanidade. Tá tudo bem. Desejo que toda mulher seja livre pra escrever o que pensa, sente e deseja, sem pensar em julgamentos, em exposição e nos caralho a quatro. Desejo também que toda mulher possa ter seu dinheiro, pra pagar os boletos atrasados, pra bancar suas passagens de avião e pra responder com “teu cu” sempre que alguém vier encher a porra do saco. Desejo por fim, que toda mulher seja a louca do jardim, por muitas cidades e viagens. Como bem escreveu Tati Bernardi, escritora que eu achava que escrevia somente séries sem graça e livros pra adolescentes: “Eu prefiro ser a louca do jardim enquanto o mundo ri e faz suas coisas. A ser quem se tranca nessas salas infinitas suas para nunca entender ou para fingir que não sente ou para não poder sentir ou para ser sem tempo de sentir ou para ser esquecido e finalmente para não ser”. Desejo pra toda mulher uma sede de mundo, de encontro com o seu feminino e com sua liberdade.

(Obviamente que esse post não é um publieditorial, mas o 1,2,3 milhas é um site bem bacana mesmo viu? ES-Recife por R$289,00, olha que vantagem. Eu fui a trabalho, então não tive custos com passagem, mas agora virou meta de vida)

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