Já achei muitas coisas.
Achei que conhecia lugares sem antes conhecer.
Achei que amaria lugares sem antes ver.
Achei que viveria em lugares sem nunca ficar.
Achei muitas coisas.
Achei e depois descobri que o desconhecido só se conhece com os próprios olhos.
Com a própria força.
Com os próprios sapatos.
Com a própria alma.
O desconhecido não se faz conhecido pelas páginas de pesquisa. Eis o conhecimento frágil que nos faz ser donos do senso comum…
Tenho pois levado uma bela surra do desconhecido.
O desconhecido tem sido, sobretudo, diferente das expectativas que arrumei.
Achismos são meras tolices, palpites que inventamos para ter opinião sobre tudo.
E é uma pena ter que ter opinião.
É uma pena.
Repita o mantra comigo:
É preciso ir lá ver. Il faut aller voir.
Não aceite o que os olhos dos outros já viram. Vá e veja com os teus. Não os empreste.
Não aceite opinião sobre um lugar que você nunca esteve. Vá e esteja ali.
Não perca tempo vivendo o que você já sabe. Aprenda com o desconhecido.
Vá aonde não se deve ir. Entre aonde não se deve entrar. Permita-se conversar. Permita-se viver o novo. Peça licença para as opiniões amigas.
Sabemos: o desconhecido não é fácil. É desconfortável, nada amigável e inabitável.
Mas quando você se mudar para o desconhecido, de corpo, alma, cara e coração, com certeza vai entender que a opinião é muito fraca perto da força da empatia.
Comece hoje. Comece trocando os olhos. As certezas. As convicções. As opiniões. Os achismos. As expectativas.
Troque a palavra conhecimento pelo verbo conhecer.
É preciso ir lá ver. É preciso.
Talvez um dos textos do mestre que mais tem me inspirado nos últimos meses. Leve ele também para a cama com você:
“Um homem precisa viajar por sua conta, não por meio de histórias, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar a arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou poder ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver. Não há como não admirar um homem – Consteau, ao comentar o sucesso de seu primeiro grande filme: “Não adianta, não serve para nada, é preciso ir ver.” If faut aller voir. Pura verdade, o mundo na TV é lindo, mas serve para pouca coisa. É preciso questionar o que se aprendeu. É preciso ir tocá-lo.” KLINK, Amyr.