Minha primeira vez em Londres

Um breve conto baseado em fatos reais (e de desespero) das minhas primeiras horas na terra da Rainha.

Juliana Ferrer
Revista Passaporte
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5 min readMay 3, 2018

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Era junho de 2014 e como todo ano várias coisas importantes acontecem no Brasil: festas juninas, abundância de pinhão e paçoca, registro das temperaturas mais baixas do ano e o meu aniversário — adoro celebrar o novo ano de vida!

Já era a terceira semana do mês e eu tinha recém completado 25 anos. Dizem que a preocupação maior neste 1/4 de século de vida deve ser a desaceleração do metabolismo ou então quanto dinheiro você já tem na conta para a compra da casa própria. Eu estava preocupada com a cotação da libra e com o que colocar na mala para a viagem que eu faria ainda naquele mês: Londres, Barcelona, Madri e uma passadinha em Lisboa.

É bom demais estrear o novo ciclo com uma viagem. Afinal, sempre que se sobe num avião há a certeza de novas experiências e aprendizados. Mas queridos viajantes, vamos concordar em uma coisa? Viajar é uma delícia mas toda a “pré-paração” que isso envolve cansa e estressa. Era a primeira vez que eu iria para a Europa, estava realizando um sonho de muitos anos e queria que tudo desse muito certo — aquela mania de ter tudo sob controle (aí o narrador da minha vida disse: “e deu certo, mas não exatamente da maneira que ela tinha planejado…”).

Além de ser a primeira vez pisando no Velho Continente, havia outra primeira vez que eu nem tinha constatado que aconteceria: ainda que eu já tivesse feito algumas viagens internacionais, nunca tinha ido para um país em que a língua oficial fosse o inglês.

Sequer pensei nisso antes de embarcar. Afinal, depois de quatro anos sendo a melhor aluna do curso de inglês com certificado de proficiência, o que poderia dar errado? Isso sem citar os quase 3 anos trabalhando com atendimento ao público gringo e o hábito frequente de ler e assistir coisas em inglês.

Mas as coisas não são tão fáceis fora da nossa zona de conforto. E por isso que viajar é algo que te faz crescer tanto. Você vê ao mundo e a você mesmo com outros olhos e umas tantas verdades embarcam com você, mas não voltam — o que é algo maravilhoso!

Passado meu primeiro voo transoceânico da vida, desembarquei no Aeroporto de Heathrow. Ainda meio abalada com a velocidade com que aquele avião voou. Nunca tinha visto aquilo! Claro que dormi mal, por opção, pois estava entretida com tanta novidade daquele momento.

Tinha feito uma chapinha no cabelo. Sabe como é, né… cabelo cacheado acorda virado em frizz depois de 8 horas na classe econômica. Não queria ter problemas de má apresentação na hora da imigração. E falando em imigração, a tensão começou aí. Um ano antes, eu tive um visto negado para os Estados Unidos e segundo o Yahoo Respostas existe uma rede integrada com este tipo de informação (shame on me, risos).

Primeira noite em Londres divando na Piccadilly Circus (ainda de chapinha nos cabelos).

Ansiedade, nervosismo, jet lag e outras paranoias da minha mania de controle. Cheguei no guichê imigratório e todas as palavras do meu belo inglês sumiram da boca. O senhor gentil disse apenas o seguinte logo depois de carimbar: “Welcome to London! You can go.”. Tudo isso de maneira muito gestual , quase um mímico— ele tinha certeza que eu não estava entendendo nada. Alívio, porém frustração por não ter emitido qualquer som de agradecimento.

Na Torre de Londres você encontra joias da coroa, um jardim bem conservado e muita história e contexto para entender o restante da cidade.

Aí precisei deixar minha mala num guarda-volumes, pois desembarquei e já fui conhecer a Torre de Londres — inclusive, recomendo como um primeiro rolê ao se chegar na cidade!

O atendente desandou a falar com aquele sotaque britânico que só Harry Potter me ensinou. Entendi tudo, mas não conseguia dizer nada. Pra piorar, eram perguntas de segurança, daquelas que querem garantir que você não tem algo explosivo na sua bagagem. Meu cérebro começou a confundir “yes” com “no” do mesmo jeito que confunde esquerda com direita. Imagine o estrago que eu poderia causar ao trocar estas palavrinhas tão pequenas.

E tal qual tudo nesta vida, no final deu tudo certo. A cada frase eu dizia: “sorry, can you repeat?”. E o atendente repetia com toda a calma e paciência até que eu me sentisse tranquila para responder. Como diria o menino Neymar, “Deus no comando”.

Após a aprovação em “10 perguntas de segurança” no guarda-volumes e já sem o peso da mala, segui para a Torre de Londres. No meio do caminho fui vendo todas aquelas referências londrinas que há tanto tempo estavam no meu imaginário. Primeira marejada de olhos por ver que tudo é real. Lembrei da abertura das Olimpíadas de 2012 e com quanto eu sonhei estar lá. E eu estava! Caraca, uma cabine vermelha! Gente, a roda gigante. O Big Ben!!! Caramba, olha esses souvenirsss! Existe mesmo ❤

Parei num fish and chips em frente à Torre e fiz meu pedido. Enquanto esperava, continuei me encantando com cada detalhe do meu entorno, todas aquelas referências de realeza bem embaixo do meu nariz. Peguei minha comida, sentei para comer e percebi que tinha feito meu pedido tranquilamente — sem qualquer dificuldade em falar ou compreender. Tudo que eu precisava era relaxar, apreciar a paisagem, curtir a viagem, desfrutar a jornada e viver a experiência (que um dia foi sonho). Adeus, paranoias. Olá, Londres!

Vocês também atravessam o oceano para tirar fotos assim? Hahaha

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Este texto foi iniciado (e inspirado) no Clube de Leitura & Escrita do BDNT. Veja mais sobre isso aqui.

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Juliana Ferrer
Revista Passaporte

Vida real, ficção ou qualquer outra coisa que me permita exercitar a escrita.