O dia que eu deixei os coreanos de lado e fui eletrocutado na Cidade do México

Luís de Magalhães
Revista Passaporte
Published in
3 min readNov 12, 2023

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É isso mesmo que o título diz e não, não faz o menor sentido.

Tudo começou no tedioso mundo corporativo. Muitas pessoas acham que a vida de quem viaja a trabalho é incrível. Você se sente importante, igual em um filme de Hollywood.

Não é.

Pega todas as coisas mais chatas de uma viagem: imigração, fila, voo, check-in. Soma isso à correria do trabalho e voilà.

Mas esse não é um post de reclamação. Até porque ninguém aguenta mais as pessoas reclamando.

Então vamos lá.

Depois de basicamente organizar do zero um workshop de relações públicas para a gigante coreana que era cliente da minha agência, pediram para que eu estivesse presente no evento. Ele seria na Cidade do México e iria reunir os executivos da América Latina para 3 dias de treinamento e trocas.

Não era minha primeira viagem a trabalho, mas era a primeira vez na CDMX.

Blablabla tendências de mercado, blablabla crescimento sustentável, blablabla market share…e assim passaram 3 dias. No último, tinha uma noite livre. A maioria dos meus colegas de trabalho foram a uma confraternização, junto com os chefes coreanos, em um bar/restaurante super hypado e caro.

Como eu não aguentava mais essa galera, pensei em chamar um amigo de faculdade que eu lembrei que estava morando lá.

Tem algo muito mágico em encontrar colegas de faculdade depois de 10 anos de formado. Ainda mais aqueles amigos que perdemos contato.

Isso porque desperta um lado selvagem que você tinha quando era mais jovem, mas que por algum motivo perdeu.

Fomos no bairro de Roma em um restaurante/barzinho mais casual. Depois de uns 30 minutos sentados, passou um vendedor ambulante falando “toque, toque, toque”. Na verdade ele estava perguntado, oferecendo mesmo: “toque? toque? toque?”.

Eu mandei o tradicional “no gracias” e segui a vida.

Isso aconteceu mais umas quatro vezes até que, depois de algumas doses de mezcal e muita conversa furada, meu amigo, proativamente, perguntou “ow, você sabe o que é esse toque que eles tão vendendo?”.

Obviamente eu não sabia, e ele me explicou que era um choque. Tipo, o cara andava com uma bateria de carro e dois cabos. Por um valor de algo equivalente a R$40, ele te dava um choque.

E o melhor, se você desse a mão para qualquer outra pessoa, essa pessoa também receberia o choque. E aí ele me explicou que aparentemente era algo normal no rolê, tipo comprar um vape ou um Trident.

Obviamente, essa nova informação comeu minha mente. Eu precisava ter esse experiência que não fazia o menor sentido. Eu precisava pagar para tomar um choque.

Essa obsessão rapidamente passou quando começamos a conversar com um casal na mesa ao lado. Ele era gringo europeu, francês ou alemão, e ela mexicana. O cara tinha cismado que português era parecido com russo e começamos uma resenha meio sem pé nem cabeça. Quem nunca?

Quando o assunto já estava ficando chato, comecei a ouvir “toque? toque?” do outro lado do bar. Sim, tinha chegado minha hora.

Mas eu não ia ter essa experiência sozinho. Não satisfeito em apenas tomar o choque, convenci, sem muito esforço, a darmos a mão nós quatro, eu, meu amigo, o francês (ou alemão) e a mexicana.

Quando o vendedor ligou a bateria a mágica aconteceu.

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