O Fake, O Mentiroso e O Editado

Tatiana Bartolomeu
Revista Passaporte
Published in
3 min readApr 15, 2021

Eu não sei quando foi, mas em algum momento as pessoas e suas vidas ficaram perfeitas.
Todo mundo é bem sucedido, todo mundo é bonito, todo mundo é expert em algo, todo mundo é politicamente correto, todo mundo faz viagens incríveis…

Photo by Claudio Schwarz | @purzlbaum on Unsplash

Eu não posso afirmar, mas sinto que a medida que a vida fica mais exposta nas redes, mais perfeitas as pessoas se tornam.
Ok, todo mundo dá um “melhoradinha” num momento que vai ser eternizado, (até pra tirar foto pra documento, a gente se maquia), o problema é quando o momento é “vendido” como casual mas foi “melhorado”, como se fosse um momento a ser eternizado.

Não consigo enxergar mais nada que é postado, como casual e corriqueiro. Sinto que todo mundo está vendendo essa imagem de perfeição, de padrão. Rolo o feed do Instagram e penso: “não acredito que essa pessoa está tomando esse café da manhã” (e o café da manhã pode ser pão e leite, mas eles são sempre lindos). Quando foi que o café corrido sem tempo pra foto acabou, gente?

Uma vez, vi uma “influencer” falando que escolhia seus drinks pela beleza, outra vez, vi outra “influencer” dizendo que antes de ir para certo destino, pesquisava os melhores ângulos dos monumentos para fazer fotos naqueles pontos…
Me digam, quando o esteticamente belo passou a ser mais importante que a experiência autêntica?
Por quê tirar uma foto da Torre Eiffel a partir da Praça do Trocadero, se o momento que senti meu “coração quentinho” foi quando eu estava sentada num canto sem graça da Torre???
As fotos a partir do Tracadero ficam lindas, mas não me dizem nada.

Photo by Alexey Soucho on Unsplash

O padrão de beleza é outro ponto que me incomoda. Também não sei quando foi, mas sinto que se tirar o filtro da pessoa, eu não vou nem reconhecer. Todo mundo que eu conheço só virtualmente é magro, tem zigomáticos marcados e pele sedosa. Ahh, todo mundo também é good vibes. E se não tá good vibes, posta uma foto editada do perrengue. Aquela foto do vôo atrasado e a # “perrenguechique” já virou um clássico (e me dá asco só pensar).

Café com pressa editado Photo by David Boca on Unsplash

E com essa vida linda e perfeita vamos adoecendo cada dia mais. Nós da “vidinha normal” vamos acreditando que somos muito azarados ou não nos esforçamos suficientemente (hello, galera do 5:00 a.m. club).
Pelo amor de Deus, gente, 5 da manhã eu não sei nem meu nome. Não dá pra sair pra correr, comprar um café na starbucks e checar o mercado de ações de Tokio. E, sinceramente, acredito que quase ninguém consegue fazer isso.

Outra questão para pensarmos… eu não posso acreditar que todo mundo é politicamente correto o tempo todo. Eu, uma mulher que se julga bem progressista, me pego tendo pensamentos machistas… Quantas de nós já pensamos “nossa, mas ela vai sair com essa roupa…” e depois escrevemos “textão” condenando alguém por ter falado isso. Pensar e falar é diferente pra você??? Não estou incentivando ninguém a manter qualquer tipo de postura machista, racista ou xenofóbica, mas quero te convidar a acreditar que essa fala politicamente correta, 100% do tempo, também é editada.

Fica aqui o meu convite à descrença, à desconfiança. Não sofra pela vida perfeitamente editada e fantasiosa que nos é apresentada nas redes.
Acredite, a sua vida banal é quase igual a de todo mundo, a diferença é que tem gente que esconde melhor.

Se gostou, deixe suas palmas e se quiser conversar mais sobre esse assunto, bora para os comentários!

--

--

Tatiana Bartolomeu
Revista Passaporte

Mudei de vida 3 vezes e amei todas as versões. Fisioterapeuta, Economista e agora viajante profissional! A vida é muito curta pra sermos uma só versão!