O que eu aprendi com um céu cinza
Pode parecer estranho, mas estou sentindo saudades do céu cinza de Munique, e começando a ficar enjoada de um céu azul e de tanto sol como o daqui da minha cidade natal, Campinas, interior de São Paulo. Eu que sempre amei sol e céu azul, e detestei céu cinza, comecei a perceber que as coisas mudam.
Quando morei na Alemanha, ou quando viajei para países nórdicos, percebi a relação de paixão que eles têm com o sol. Pode estar um frio da porra, se sai um solzinho, tá todo mundo na rua. Tá todo mundo amontoado em algum canto, apoiado em uma mesinha de verão que antes estava coberta de neve. Estão ali agora, tomando um café, recebendo os raios no rosto e nos pulsos de mangas arregaçadas. Olhando tudo de um jeito diferente, um sorriso plantado no rosto, uma palavra amiga para alguém que nunca viu na vida. Acho que é a vitamina D começando a fazer efeito, ou talvez só o abraço em forma de calor.
A gente que nasceu no calor, mas já morou por um tempo no frio, em um clima totalmente diferente, consegue perceber como nosso amor pelo clima tropical já é intrínseco, e como então é difícil valorizar o que nos é oferecido dia após dia.
Tenho torcido para o tempo mudar, a temperatura cair, o céu cinza chegar com a chuva e ficar por aqui por uns dias, ou até algumas semanas. Só pra ter essa sensação de leveza depois, sentar ao sol, e brincar de ser sua companhia.
Claro que a minha preferência por um céu azul não mudou, de jeito nenhum. Mas o céu cinza também começou a fazer parte de mim. É como comparar felicidade e tristeza, e como se fosse possível a existência de um com a ausência do outro. Uma dualidade que deixou de ser dualidade. Uma competição que deixou de ser competição. Duas emoções tão diferentes coexistem, e se emaranham entre si, e assim como o resultado de chuva e sol é arco-íris, o resultado de aceitar a felicidade e a tristeza como morada dentro de si, é autoamor.
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