Parem de reduzir a experiência de viajar em listas!

Luís de Magalhães
Revista Passaporte
Published in
2 min readJan 21, 2019

Quando eu comecei a me interessar por viagem, no final de 2013, existiam poucos blogs. Alguns existem até hoje, outros já se foram.

Lembro de consumir ferozmente cada detalhe do ano sabático de um cara de um blog chamado “O Mochilão” (ou algo parecido). O blog não existe mais, mas lembro de compartilhar cada sentimento do viajante como se fossem meus.

Os blogs naquela época eram inspiradores. Por isso, quando chegou a minha vez de largar tudo e partir para o meu próprio sabático sem data de retorno, também criei o meu.

Não consta nas listas: as viagens de caçamba que você faz por ser mais barato — Koh Phangan, Tailândia (Luís de Magalhães)
Não consta nas listas: amizades incríveis com locais — Saara, Merzouga — Marrocos (Luís de Magalhães)

Lembro de contar nos posts cada detalhe, de como foi chegar em cada ponto turístico, cada sentimento, cada taxista grosseiro e impaciente.

Enfim, tudo que pudesse ser o mais real e mais inspirador possível para as pessoas.

Mas eu lembro quando teve aquele boom de blogs. Quando o tal do SEO — aquele índice que deixa o site mais bem colocado nas pesquisas do Google — começou a ditar as regras do jogo.

Foi aí que as listas, como palavras-chave, começaram a aparecer.

“10 motivos para conhecer Lisboa”, “8 razões para se apaixonar pela Tailândia”.

E por aí vai.

Brochante, para os que realmente amam viajar.

Parei de escrever a abandonei meu blog, o qual só mantenho no ar para ajudar os viajantes.

E também confesso que nunca tinha pensado no assunto até hoje, quando comecei a planejar minhas férias.

Tudo o que eu encontro são listas.

Eu não quero saber os 5 passeios mais legais da Costa Rica, oferecidos pela companhia X em parceria com o hotel Y, com desconto de 20% no seguro viagem Z.

Nem as 8 razões para visitar a Guatemala, sendo que essas razões são tão superficiais e generalistas que podem se aplicar a qualquer destino.

Viajar é mais do que isso.

Muito mais do que isso.

Viajar é cada ônibus errado que você pega.

É cada paisagem maravilhosa que você vê.

É cada golpe que tentam te aplicar.

É cada comida deliciosa que experimenta.

É cada conversa em portunhol que se tem.

Eu poderia (ironicamente) continuar listando mais e mais detalhes.

Porque no final das contas, viajar é isso: detalhes positivos e negativos que formam um todo.

Uma experiência que varia de pessoa para pessoa.

No fim, são dos detalhes que lembramos.

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