Quanto vale seu tempo?

Luís de Magalhães
Revista Passaporte
Published in
2 min readJul 3, 2019

Hoje eu recebi uma mensagem de um amigo. Eu conheci ele num hostel, em Santiago. Acho que foi a primeira viagem que fiz sozinho. Ou uma das primeiras.

Lembro que fomos em um jogo da seleção chilena contra o time da Coréia do Sul. Aquelas pequenas lembranças que não significam nada, mas que significam tudo, sabe?

Enfim. Depois de trabalhar por mais de 7 anos em uma financeira multinacional em SP, ganhando muito bem, ele pediu as contas. Disse que precisava viver mais.

Viver mais. Como algo tão simples parece tão distante das nossas realidades?

“Já está certo, vou para a Austrália”, dizia a mensagem que ele me mandou no Instagram.

“Só vai”, respondi.

Lembro que, quando voltei do meu ano sabático, decidi mudar meu estilo de vida. Principalmente no mundo profissional.

Entendi que não existe glamour em fazer horas extras, ser o primeiro a chegar e o último a sair, viver para o trabalho.

Aliás, muito pelo contrário. Isso te desgasta psicológica e emocionalmente de uma maneira tóxica. Experiência própria.

Obviamente, se precisar me debruçar em um projeto e fazer longas horas de trabalho, farei e darei meu melhor. Mas decidi que seria uma exceção a nunca virar regra mais na minha vida. Prometi que não iria assistir minha juventude passar pela janela.

Aprendi a negociar meu tempo. Tudo na vida é negociável, gente.

Se eu trabalhei 12 horas hoje, amanhã compenso trabalhando remotamente, ou outra coisa do tipo.

Viajar um ano inteiro, sem obrigações, me fez dar valor ao tempo, às coisas pequenas que nos fazem mais humanos. Desfrutar um café da manhã com pãozinho quente que derrete a manteiga enquanto conversa com sua esposa sobre o seu dia, por exemplo.

A lógica do mercado é bem simples. Uma empresa te paga um certo valor por uma quantidade de tempo de seu dia.

Se uma empresa paga um salário muito alto, mas não me permite tomar aquele café da manhã com pãozinho quente que eu falei ali em cima, qual o propósito de tudo? Viver para pagar contas? Não para mim.

Ao meu amigo que está indo para Austrália, não disse nada disso. Essas coisas só se aprende metendo o pé no mundo, arriscando. Ele que descubra tudo isso sozinho.

“Somos capitães do nosso próprio destino”, já diria um senhor sul-africano.

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