Saudade corpo-mar
Quando sua morada é terra para qualquer lado que se olhe, no encontro corpo e mar, o imaginário se encarrega de nos aproximar do incrível.
Grandeza, força e quebra: água adentra a terra.
Um engasgo fabuloso, para alguns.
Nem me recordo o que senti quando conheci o mar.
Talvez o calor estivesse gritando mais por atenção naquele dia.
E, sempre que eu retornava para perto-beira-mar, nada era muito além.
Eu o via de longe, queria aquele bater perna urbano; ele não me prendia.
Dia de praia era raro; vez ou outra um mergulho quando a vontade ou o medo d’água me permitia arriscar um momento, ali, na borda.
E saiba: esses dias não foram tristes; sim, felizes. Guardo o ir e vir das pessoas, da água e o barulho embriagante que eu ouvia das ondas.
Sempre ouvi.
A gente sabe quando precisa ir. O corpo sabe e avisa.
Entre terra e quebra, escolhi a quebra: a água adentrou aqui, direto no peito.
Sem engasgo apesar dos caldos, como quem adverte um amigo.
Quando avistei o mar, senti que havia escolhido bem e ali eu deveria estar.
Foi por ele que parti.
Sempre que eu me volto para ele, me distancio além-terra.
O vejo de longe enquanto bato perna, e ele me apreende.
Parecia desdém. Contudo, era cortejo.
Paro para mirar areia, água e céu; horizonte.
Paro e percebo cor, movimento e som; lembranças.
É um conjunto bonito que se forma; recorto a porção que me atrai.
Escuto as ondas, entro quando sinto que posso entrar, peço licença.
O reencontro entre (meu) corpo e mar se tornou constante.
E sinto que deixo ir um eu que necessita ir além-mar;
Mar é cura, descobri.
Ele chama,
Continuo a ouvir.