Saudade corpo-mar

Samara Lima
Revista Passaporte
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2 min readFeb 28, 2018

Quando sua morada é terra para qualquer lado que se olhe, no encontro corpo e mar, o imaginário se encarrega de nos aproximar do incrível.

Grandeza, força e quebra: água adentra a terra.
Um engasgo fabuloso, para alguns.

arquivo pessoal [2016]

Nem me recordo o que senti quando conheci o mar.
Talvez o calor estivesse gritando mais por atenção naquele dia.

E, sempre que eu retornava para perto-beira-mar, nada era muito além.
Eu o via de longe, queria aquele bater perna urbano; ele não me prendia.

Dia de praia era raro; vez ou outra um mergulho quando a vontade ou o medo d’água me permitia arriscar um momento, ali, na borda.

E saiba: esses dias não foram tristes; sim, felizes. Guardo o ir e vir das pessoas, da água e o barulho embriagante que eu ouvia das ondas.

Sempre ouvi.

A gente sabe quando precisa ir. O corpo sabe e avisa.

Entre terra e quebra, escolhi a quebra: a água adentrou aqui, direto no peito.
Sem engasgo apesar dos caldos, como quem adverte um amigo.

Quando avistei o mar, senti que havia escolhido bem e ali eu deveria estar.
Foi por ele que parti.

Sempre que eu me volto para ele, me distancio além-terra.
O vejo de longe enquanto bato perna, e ele me apreende.

Parecia desdém. Contudo, era cortejo.

arquivo pessoal [2016]

Paro para mirar areia, água e céu; horizonte.
Paro e percebo cor, movimento e som; lembranças.
É um conjunto bonito que se forma; recorto a porção que me atrai.

Escuto as ondas, entro quando sinto que posso entrar, peço licença.
O reencontro entre (meu) corpo e mar se tornou constante.
E sinto que deixo ir um eu que necessita ir além-mar;

Mar é cura, descobri.

Ele chama,
Continuo a ouvir.

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Samara Lima
Revista Passaporte

viagem, café, cinema, paisagem. aqui, pouco ou nada disso.