Antes do sol dar o ar de calorosa graça e antes do vento terral virar para leste, fechei a casa e parti rumo ao desconhecido.
Desconhecer se tornou um hábito bem-vindo. Desconfortável sim, porém, um desejável vício, onde aprendi e aprendo a ser humilde me contentando em não saber.
Confesso até que vejo corajoso prazer em não ter respostas. Não ter controle é a prova técnica para a maestria do improviso. Faz de nós apreciadores e inquietos alunos, ao invés de sabichões e soberbos professores.
Desconhecer arrepia deliciosamente a espinha. Nos dá a chance de nos apresentarmos pela primeira vez como qualquer nova pessoa.
Desconhecer nos dá a chance de não sermos bons em tudo que fazemos. Desconhecer nos faz ultrapassar limites por mera inocência de não termos medo.
Desconhecer faz de nós estupidamente vulneráveis e faz do mundo um lugar mais divertido. Lugar esse onde podemos errar, fazer tolices, rir de nossas desgraças, ter menos certezas, sabotar as chatices e dançar forró com as surpresas.
Desconhecer foi o que me trouxe até aqui. Fez-me inventar profissões que não existiam, fez-me ir morar em lugares que os pés mal conheciam, fez-me experimentar vidas que nunca imaginei.
Fez-me conhecer pessoas que jamais encontraria, fez-me chegar nesse lugarzinho mágico na Bahia, onde divide-se as ondas todos os dias com tartarugas e golfinhos.
Onde a felicidade ficou tão óbvia que só me reconheço aqui sorrindo e não consigo parar de falar em voz alta para que todos ouçam “como o dia está lindo”.
Desconhecer é a “raison d’être” das invenções, é o combustível das expedições e é o que nos move a tirar os sapatos e abrir as trilhas.
Desconhecer é saber que não se controla o mar e, mesmo assim, com humildade, tentar o navegar. Não para dominá-lo, mas para se deixar ser totalmente dominado por ele.
Desconhecer é seguir em frente ☽
