Seis semanas para a quinta Expocannabis Uruguay

Evento internacional em Montevidéu promove turismo canábico para informar e educar

Regiane Folter
Revista Passaporte
5 min readOct 25, 2018

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Em 2013 o Uruguai aprovou outra de suas muitas leis progressistas: a legalização da cannabis. Essa e outras leis, como o matrimônio igualitário, o direito ao aborto e, mais recentemente, a lei integral para pessoas transgênero, fazem esse pequeno país se destacar na América Latina, uma região bastante conservadora em muitos aspectos. A lei aprovada em 2013 foi o início do processo de regulamentação da cannabis no país e, embora o consumo da maconha já tivesse sido descriminalizado nos anos 70, a legislação que entrou em vigor há cinco anos permitiu que o país começasse a regularizar tanto a produção como a venda da cannabis e suas diversas aplicações.

Desde então, o Uruguai não só virou um exemplo para outros países em relação à regulação da cannabis como também se tornou sede para visitantes sul americanos interessados na cultura canábica. Em 2017, o evento recebeu 12 mil pessoas, cerca de dois mil visitantes a mais que na edição de 2016, e esse crescimento aconteceu principalmente por causa do aumento de 20% de visitantes brasileiros e 10% de argentinos.

Em 2018 o evento terá sua quinta edição e será um evento especial por tratar-se do aniversario de cinco anos de aprovação da lei e do início do processo de regulação que garantiram ao nosso vizinho um lugar no mapa mundial canábico como pioneiro absoluto no assunto. Se você se interessa pelo tema e gostaria de conhecer mais sobre a Expocannabis Uruguay, te deixamos essa entrevista com a ativista Mercedes Ponce de León, uma das fundadoras do evento.

Como você se tornou ativista da cannabis?

Eu conheci a planta quando a consumi pela primeira vez no Uruguai, com cerca de 18 anos. A partir daí me tornei consumidora. Fui crescendo e seguia consumindo, mas consumia sabendo que havia uma proibição ao redor. Por um lado, era algo que eu gostava e me fazia bem, mas por outro lado havia toda essa proibição. Aos poucos surgiu em mim uma vontade de lutar pela liberdade dessa planta e pela minha própria liberdade como consumidora. Em 2004 comecei a militar oficialmente pela legalização da cannabis. Logo em 2007 comecei a viajar pelo mundo para investigar sobre a cannabis em lugares como Marrocos, Senegal, Colômbia, até chegar nos Estados Unidos em 2008. Aí vivi e trabalhei na indústria da cannabis em Califórnia até 2013, quando decidi voltar para o Uruguai com a intenção de dedicar os conhecimentos que adquiri ao meu país, que justamente estava vivendo o processo de aprovação da lei. Em dezembro de 2013 votaram e aprovaram a lei, e já em janeiro começamos a envisionar a Expocannabis Uruguai.

Como nasceu a Expocannabis?

O evento nasceu motivado pela legalização e com o objetivo de ser uma plataforma de informação sobre a cannabis medicinal, terapêutica e industrial, além de orientar-se também em falar sobre a regulação em si. Queríamos que a Expocannabis fosse uma ferramenta de articulação entre os distintos atores relacionados: governo, empresas, organizações sociais, centros de investigação e universidades. Então começamos a nuclear todos dentro do evento, para que se conhecessem e assim promovessem o desenvolvimento dessa indústria. Com os anos o evento se tornou um dos mais importantes nessa área em toda a região.

Quais são os desafios em organizar um evento que gira em torno do tema cannabis?

Há muitos, e com a evolução da Expo os desafios também evoluíram. Quando começamos em 2014 foi difícil definir a locação do evento por exemplo, escutamos muitos “não”. É uma indústria muito estigmatizada, então romper com esse estigma levou um tempo. Com os anos e nossa experiência, isso mudou. Nós organizadores encaramos o tema da cannabis e da marijuana com muita clareza; trazemos o tema à luz e nos enfocamos sempre em conteúdos de valor e informação de interesse público. Assim, a medida que nos conheciam e o evento foi se consolidando, algumas travas foram desaparecendo. Claro que também ajudou todo o avanço do tema cannabis a nível mundial. As regulações têm avançado em outros lugares e a tendência é dirigir-se a isso: já não vamos voltar à proibição, ou pelo menos não parece porque há um negócio multimilionário atrás dessa planta.

Qual é o tema da Expocannabis em 2018?

Esse ano é o quinto aniversário da Expo e é um ano muito especial também porque o Canadá está no processo regularização. Com isso, o mapa geopolítico muda com respeito à cannabis, já não somos o primeiro e único país que regula e tem essa legislação reconhecida. Então decidimos enfocar o evento desse ano para analisar, monitorar e revisar esses últimos anos. Durante cinco anos o Uruguai foi uma incubadora de um processo mundial e na Expocannabis queremos analisar essa experiência desde vários enfoques. Estamos trazendo analistas geopolíticos de vários países, autoridades e especialistas do Canadá, Alemanha, Holanda, Bélgica… Esse ano queremos analisar Uruguai desde um ponto de vista internacional e pensar no futuro: o que vem e como deveríamos mover-nos a partir de agora, qual é essa situação nova que temos que encarar. Nós mudamos muitas coisas, e isso foi ótimo, mas agora precisamos preparar-nos para o que vem e para isso teremos que ampliar o desenvolvimento da indústria da cannabis no país.

Nesses últimos cinco anos como o evento cresceu?

No primeiro ano 5.000 pessoas passaram pela Expo. Em 2017 foram 12.000, e no meio desse caminho a quantidade de assistentes cresceu de maneira ascendente.

Muitos brasileiros vieram ano passado. Por quê você acha importante que esse ano mais brasileiros possam ir ao evento?

É fundamental que venham brasileiros porque a regulação é uma mudança a nível mundial e o acesso à informação é fundamental porque com isso vem o acesso à liberdade de ação. O evento não promove o consumo, inclusive trata de informar sobre os riscos e os danos que tem a marijuana em vários aspectos. Mas acho muito importante que brasileiros venham e aproveitem para conhecer nossa regulação para nutrir-se do que está acontecendo aqui; depois, podem levar essas ideias e informações para o Brasil, como eu mesma fiz no passado, nas minhas viagens e no conhecimento que trouxe para o Uruguai posteriormente. Também acreditamos que a Expo facilita o relacionamento dos nossos países irmãos e assim nos aproximamos em diferentes níveis: cultural, social, educativo, de negócios, etc. A indústria da cannabis no Brasil eminentemente vai surgir em algum momento. Então os laços e as redes têm que ser gerados o antes possível para que depois todo o processo funcione da melhor maneira.

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